Aberto o Fórum de Cidades em Montevidéu

Evento acontece entre os dias 18 e 21 de março e reúne autoridades de 40 cidades da América do Sul e da Espanha.

Conteúdo produzido pela Rede Mercocidades

Na manhã desta quarta-feira (18), no edifício Mercosul na cidade de Montevidéu, Uruguai, tiveram início as atividades do “Fórum Internacional: Incidência Global das Cidades”, com a participação de especialistas, funcionários e autoridades de governos locais, organizações sociais e instituições demais de 40 cidades da região e da Espanha.

A abertura do Fórum foi marcada por um efusivo discurso dos anfitriões em defesa das vitórias da integração regional nos últimos anos, na qual “o social se sobrepôs ao econômico” e as conquistas em termos de direitos sociais foram uma constante na região. No entanto, não esqueceram que ainda há muito a ser feito para que as mudanças sejam sustentáveis ao longo do tempo e assim fortalecer o processo.

“Na última década desempenhou-se um papel muito importante no combate a pobreza em toda a região, além de um avanço na agenda para que a desigualdade seja evitada”, afirmou Rubens Garcia, diretor da Divisão de Relações Internacionais e Cooperação da Prefeitura de Montevidéu.

Por sua vez, Eugene Zapata, coordenador do projeto regional de cidades AL-LAs do governo da Cidade do México, recordou o início das reuniões entre governos locais há dez anos e ressaltou que “o que foi feito gerou frutos que mudaram a forma de encarar as coisas”.

Juan Canes, diretor de desenvolvimento ambiental da Prefeitura de Montevidéu, fez menção a como “há 25 anos não se admitia a palavra dos governos locais. Hoje, para enfrentar problemas como as mudanças climáticas, eles são necessários, já que são quem está em contato com o território e com as pessoas”.

“Hoje em dia o contexto global é propício para o desenvolvimento de políticas que gerem alianças estratégicas entre as cidades”, destacou Sergio Barrios, diretor de Relações Internacionais e Cooperação da Secretaria Executiva de Mercocidades, atualmente encabeçada por Rosário. A cidade argentina defendeu durante a última Cúpula da rede a inclusão social, a cidadania regional, a integração produtiva, a sustentabilidade, a cooperação internacional e a integração fronteiriça.

“Desde que os governos locais aumentaram sua influência, o Mercosul passou de liberal a social, transformando-se num espaço onde o cidadão está no centro” relembrou García. Ele condenou “as tentativas de desestabilizar Argentina, Brasil e, especialmente, Venezuela”.

Uma vez terminadas as apresentações, teve início o primeiro painel do Fórum, “O contexto da América Latina”, em foi aprofundada a temática discursiva abordada durante a abertura, apontando elementos tanto qualitativos quanto quantitativos do contexto latino-americano e sua inserção no mundo.

Florisvaldo Fier “Rosinha”, alto representante do Mercosul, relembrou os anos 2002 e 2003, “em que havia um grande descontentamento popular com o neoliberalismo instalado no continente e a crise que o modelo causou”. “Antes a cultura predominante era a dos Estados Unidos; hoje nós enfrentamos isso Com os governos progressistas temos trabalhado muito em cultura e tudo isso tem a ver com políticas sociais”.

“Viemos de uma boa década, em que os países de todo o mundo pagavam bons preços a nossos produtos, porém isso mudou com a recuperação das economias europeias e americana. As empresas estão voltando a estes países”, assinalou Gladys Genua, diretora regional da CAF, Banco de Desenvolvimento da América Latina, que trouxe ao debate dados alentadores do atual contexto. “Os países acumularam reservas e as dívidas não são grandes, mas devemos investir em infraestrutura e tecnologia para um maior desenvolvimento sustentável”.

Por sua vez Betina Chávez, coordenadora da Comissão de Assuntos Internacionais da Conferência Nacional de Governadores do México (CONAGO), destacou os pontos em que está trabalhando: mudança climática, em que especialistas na matéria trabalham com cientistas norte-americanos e intercambiam informações e conhecimentos com cientistas do mundo todo; educação, em que enfatizam a formação em cooperação internacional; políticas sociais no sentido do desenvolvimento econômico; e a migração que enfraquece México e América Latina.

Roberto Conde, ex-subsecretário do Ministério de Relações Exteriores do Uruguai e ex-presidente do Parlamento do Mercosul, destacou as grandes mudanças que foram conseguidas com a “era progressista”. No entanto, questionou: “teriam sido feitos processos para que estas mudanças sejam irreversíveis? Mudanças estas históricas, políticas, morais e sociais”. Deu a resposta na sequência: “acredito que as mudanças progressistas não tenham alcançado a maturidade para que sejam irreversíveis”. “As alterações feitas são do capitalismo e não mudanças desse sistema”.

“A urbanização alcançou 80% na América Latina, o que demanda melhores serviços públicos e implementação de políticas sociais inovadoras para solucionar a escassez de trabalho para tantos jovens, colocou Genua. Destacou como uma grande vitória que “a classe média tenha crescido muito nesta década. Espera-se que para 2050 que alcance os 50%. Contudo, frente a esta reflexão, Conde afirmou que “o crescimento da classe média tem que ser acompanhado de educação, valores, integração, caso contrário, esta classe média estará composta de pessoas que vão priorizar seus interesses individuais antes dos interesses da sociedade”. “As cidades são o único grande cenário onde a democracia e o progressismo podem realizar a batalha destes tempos. E essa batalha é tanto ideológica quanto social”.

Na mesma ocasião, Rosinha afirmou que “a capacidade econômica dos municípios é limitada. Por isso, a diplomacia dos governos locais deve ser apontada de maneira a efetuar o trabalho conjunto de governos locais”, indicando que “os objetivos que traçamos são grandes, mas vamos alcançá- los”.

Fazendo o encerramento deste segundo painel, Roberto Conde destacou a importância das cidades no cenário local e mundial, afirmando que “o tema das cidades cobra uma importância dramática. Porque uma coisa são estatísticas nacionais sobre os assentamentos, e outra são os funcionários, as autoridades, os técnicos, que convivem dia a dia com essa realidade e essas demandas. Portanto tem que estar ao seu lado, tem que estar em campo” disse Conde. “Nesta etapa civilizadora, a cidade se transformou num mundo inteiro, num grande coletivo social. Num cenário para atuação coletiva no atual capitalismo global. É o espaço comum onde a humanidade definirá e define, as lutas sociais que causam impacto em um nível global”.

As atividades continuarão no dia de hoje e amanhã. Durante amanhã, será destaque a presença da prefeita de Montevidéu, Ana Olivera e Mónica Fein, prefeita de Rosário, cidade que atualmente exerce o cargo de Secretaria Executiva de Mercocidades.

Sobre o Fórum 

O Fórum Internacional: a Incidênicas das Cidades" é uma iniciativa da rede Mercocidades e da Prefeitura de Montevidèu. Os temas aboradados pelos paineis se referem aos avanços dos direitos sociais, econômicos, ambientais e a importância que sua implementação aconteça no marco da articulação de atores, trabalho em rede, cooperação descentralizada, e gestão particpativa.