Ermelino Matarazzo, um bairro operário com nome de empresário

O nome do bairro é uma homenagem ao irmão do Conde Francisco Matarazzo

O nome do bairro é uma homenagem ao irmão do Conde Francisco Matarazzo. Mais de 18% da população local vive em favelas.

Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo. Ali vivem 200 mil habitantes, 18,45% deles em favelas; o rendimento médio dos chefes de família é de R$ 815,91, bem abaixo da média da Capital, de R$ 1.325. Esta região distante do centro e carente já atraiu, quem diria, milhares de paulistanos e imigrantes em busca de emprego.

A primeira corrida rumo ao leste ocorreu a partir do ano de 1941, quando foi inaugurada uma fábrica das Indústrias Matarazzo, a Celosul. “Era a única produtora de papel celofane da América do Sul”, lembra o aposentado Marino Bacaicoa, 78 anos, 28 deles trabalhando na fábrica. Marino deixou a Penha e se transferiu para Ermelino, onde existiam apenas algumas chácaras e um punhado de casas construídas para os funcionários da Celosul. Nada de luz elétrica, asfalto, comércio. A fábrica atraiu ainda imigrantes italianos, alemães e ingleses.

A luz elétrica só chegou em 51, e inicialmente na fábrica e nas residências de seus funcionários. A luz beneficiou também a Císper, empresa carioca fabricante de vidros que se estabeleceu no bairro em 47. Como a região não oferecia infra-estrutura suficiente a família Matarazzo se encarregou de construir a primeira escola, um cinema e um mercado. Os funcionários contavam com os serviços do hospital construído pelo grupo na avenida Paulista. O nome do bairro é uma homenagem ao neto do Conde Francisco Matarazzo, que foi um dos diretores do grupo e, segundo Marino, jogou no time de futebol da Celosul.

No início da década de 70 a Celosul viveu seu ápice para entrar em decadência alguns anos depois, com a crise no grupo Matarazzo. Apesar disso a região voltou a atrair paulistanos de outros bairros uma vez que foi nesta época que Ermelino foi separado de São Miguel e ganhou administração própria. Hoje a Celosul se mantém ativa, mas sob o comando de uma cooperativa. A Císper também resiste nas mãos de outros proprietários.

Revitalização de áreas de lazer

Naqueles tempos, como hoje, as opções de lazer em Ermelino eram escassas. A fonte do Jardim Belém foi o ponto de encontro favorito dos casais de namorados, e os homens se distraíam com os jogos de futebol. A fonte não existe mais e a Subprefeitura vem se esforçando para entregar áreas de lazer à comunidade. Quinze praças revitalizadas serão entregues até o final deste ano e duas pistas de skate, uma reformada e outra nova. Todos os projetos são definidos em conjunto pela administração local e pela comunidade que, afinal, é a maior interessada.

A Subprefeitura tem negociado ainda com comerciantes e empresários para que participem do programa da Prefeitura de adoção de áreas públicas, responsabilizando-se pela manutenção de praças e canteiros. “Temos pelo menos 20 interessados”, comemora o subprefeito, que espera assinar os contratos ainda em dezembro. O projeto de revitalização, batizado de “Colorindo as Praças”, prevê o plantio de flores nestes espaços, geralmente tomados pelo verde. São 95 praças nos bairros de Ermelino e Ponte Rasa.

Outra promessa para a região é o parque Dom Paulo Evaristo Arns, na avenida Abel Tavares, com uma área aproximada de 5 mil metros quadrados. Ali está localizada a casa sede da Chácara Matarazzo, residência de veraneio da família construída em 1941. A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente está estudando um projeto de reforma para a casa e para o terreno vizinho, hoje utilizado por ONGs. Há duas possibilidades: passar o parque, decretado no final do ano passado, para o comando da Subprefeitura, ou anexar a área localizada atrás do terreno (de 8 mil metros quadrados) para ampliar o parque e fazer então um projeto para ele.

O Casarão dos Matarazzo

O casarão é a única construção histórica sobrevivente em Ermelino. Além dele havia a Casa da Moenda do Sítio Piraquara, que teria sido erguida pelos índios guaianases no século XVI. Nos anos 70 restavam partes das paredes de taipa e uma janela, que não resistiram ao abandono. Alguns historiadores acreditam que o sítio seria até mais antigo que a Capela de São Miguel do Ururaí, esta ainda preservada no bairro vizinho.

A casa do Sítio Mirim é um pouco mais recente, do século XVII ou início do século XVIII, de acordo com os cálculos de historiadores. Também construída em taipa de pilão, a casa estava localizada próxima ao rio Tietê e à estrada de ferro da Central do Brasil.

A estação foi inaugurada em 1924 e a linha passava por Itaim Paulista, São Miguel e chegava a Calmon Viana. Os trilhos são atualmente utilizados pela CPTM, mas os trens não dão conta da enorme demanda nos horários de pico. Some-se a isso as linhas de ônibus, que partem somente de bairros vizinhos, e transporte passa a ser uma das maiores reclamações dos moradores de Ermelino. “Os ônibus já chegam aqui lotados”, diz Marino Bacaicoa.

Na lista de reivindicações também está a canalização de córregos, com o objetivo de minimizar os riscos de enchentes. Além dos dois córregos do jardim Keralux existem outros 16 na região. Antes de anunciar novas obras a Subprefeitura vai estudar as condições dos rios localizados na região central, que podem estar recebendo um volume de água incompatível com a profundidade da calha. Uma das idéias é fazer córregos paralelos fechados.

Mais urgentes são as áreas de risco nas encostas – duas são consideradas de alto risco e em uma delas o trabalho já está 50% feito. Mais de 100 munícipes vivem na encosta ameaçada, e não foi preciso removê-los do local.

Festa popular

Os moradores de Ermelino se orgulham de organizar a maior festa popular do Dia do Trabalho, atrás somente das comemorações da Força Sindical e CGT, com a diferença de que não são sorteados prêmios, grandes imãs de público. A comemoração dura três dias e reúne 50 mil pessoas em cada um deles.

Nadando contra a corrente, a comunidade tenta manter o mesmo perfil da primeira festa, realizada em 1959. O palco foi a avenida Miguel Rachid, por onde desfilaram a banda de Ermelino, carros alegóricos, bicicletas e escolares. No final do dia, gincanas e uma corrida. A festa é hoje realizada em mais de um palco e as principais atrações são os shows com artistas populares e o concurso de miss.