Você sabe o que se comemora no dia Nove de Julho?


Que esta segunda-feira é feriado estadual, não é novidade, mas poucos se lembram realmente do que a data representa. A resposta é simples: a data comemora a Revolução Constitucionalista de 1932, evento ocorrido apenas no Estado de São Paulo (por isso é feriado estadual). O que quase ninguém faz é associar os diversos nomes de ruas, viadutos e até de capitais brasileiras a esse evento! Vamos começar pelo nome: os revolucionários defendiam uma nova Constituição, na tentativa de devolver a democracia brasileira “arrancada” pelo governo Getúlio Vargas.

Embora tenha durado pouco (de maio a novembro de 1932), esse movimento foi importante o suficiente para trazer à cidade diversas outras referências. Por exemplo: a nossa Avenida 23 de Maio tem esse nome porque foi nessa data que quatro jovens foram assassinados, dando início formal à revolução. Eles se chamavam Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, conhecidos depois pela sigla MMDC, que dá nome a diversas ruas. A data que comemoramos hoje, no entanto, só foi estabelecida em 1955, com a inauguração do Mausoléu aos Heróis de 32 (o popular “Obelisco”), no dia 9 de julho.

Esse monumento guarda não apenas os corpos dos jovens MMDC, mas de todos os 717 mártires da revolução. Com 72 m de altura, é um importante marco da cidade e também cartão postal, situado na av. Pedro Álvares Cabral, em frente ao Parque Ibirapuera. Ele foi projetado pelo escultor ítalo-brasileiro Galileo Ugo Emendabili; quem tocou a obra foi o engenheiro alemão radicado no Brasil Ulrich Edler.

Entenda a Revolução Constitucionalista
Até 1930, o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM) se alternavam no poder, revezando o comando da nação entre paulistas (terra do café) e mineiros (estado de produção leiteira). A dobradinha ficou conhecida como “política do café-com-leite” e marcou um período da história brasileira conhecida como República Velha.

Nesse ano, para as eleições presidenciais, havia de um lado o candidato “café-com-leite” Júlio Prestes (que dá nome à estação de trens da capital) e, de outro, o gaúcho Getúlio Vargas, da Aliança Liberal (AL). O partido reunia aliados paraibanos, mineiros e gaúchos e essa chapa tinha na vice-presidência João Pessoa (que deu nome à capital da Paraíba). Só que o momento político era outro: o país atravessava as consequências econômicas da quebra da Bolsa de Nova York (ocorrida em 1929), alguns deputados eleitos pela AL em 1930 não tiveram seus mandatos reconhecidos e João Pessoa foi assassinado em Recife.

Com esse quadro instável, o eleito Júlio Prestes não só não assumiu, como Getúlio Vargas articulou com os militares (em sua maioria tenentes) um golpe para assumir o governo federal. Getúlio iniciou o Governo Provisório, nomeando interventores em todos os estados e eliminando todos órgãos legislativos (municipais, estaduais e federal). Os militares assumiram imediatamente esses postos de comando. Encerrava-se a República Velha e nascia o Estado Novo.

Sangue ditadura
Havia insatisfação diante do golpe militar de Getúlio e da falta de ferramentas democráticas. O estado de São Paulo iniciou então – com a ajuda de militares de outras patentes – novo movimento, contrário ao ditador, em defesa de nova Constituição. O clímax desse momento foi o dia 23 de maio, quando os jovens Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Camargo de Andrade tentaram invadir a sede de um jornal pró-Vargas, e foram mortos. Os nomes pelos quais eles eram conhecidos deram origem à sigla MMDC. Muitos outros morreram em combate, até os revolucionários assinarem a rendição, em 1º de outubro.

Mesmo “vencendo”, o governo Vargas foi obrigado a reconhecer a força dos paulistanos na busca pela restauração da democracia. Novas eleições foram realizadas, “oficializando” o ditador em um mandato constitucional pela constituição promulgada em 1934, com um governo “democrático” até 1937. Foi quando a Aliança Nacional Libertadora (ANL), inspirada pelo comunismo soviético, iniciou seu discurso de combate ao imperialismo e defesa da reforma agrária e da luta de classes; seus idealizadores tentaram um golpe contra Vargas, conhecido como “Intentona Comunista”.

Inspirado no fascismo italiano de Benito Mussolini (de ideias político-sociais totalitárias), Getúlio usou o “risco comunista” ao país para suspender as eleições de 1937, fechar o congresso e decretar o Estado Novo. Também enviou soldados brasileiros para lutar na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial (1938-1945), compondo a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Seu regime foi encerrado com o término da Segunda Guerra Mundial. Naquele ano, as eleições foram vencidas pelo general Eurico Gaspar Dutra.

 

Imagem (cartaz) reproduzido do site Xadrez Verbal