Centro Olímpico completa 40 anos neste mês

“O COTP mudou a minha vida”

 

 

Histórico

Criado em 03 de fevereiro de 1976, para receber os atletas do “Programa Municipal Adote um Atleta”, o COTP foi concebido como uma unidade destinada ao aperfeiçoamento de atletas da categoria de base.

Paralelamente, havia o “Programa de Ação Desportiva”, onde os antigos Clubes Esportivos Educacionais, hoje Centros Esportivos trabalhavam de forma integrada com o COTP, indicando jovens com potencial para o alto rendimento.

Nesta época, passaram pelo Centro Olímpico, atletas que fizeram história como Hortência, Amauri, Ricardo Prado, Montanaro, entre outros, que se tornaram mundialmente famosos em suas especialidades. Hoje, dentro de uma nova realidade do esporte, o Centro Olímpico atende atualmente, cerca de 1.000 atletas em 10 modalidades olímpicas, individuais e coletivas.

Com uma área de 50.000 m², sendo aproximadamente 10.000 m² de áreas cobertas, o COTP conta com: piscina olímpica coberta e aquecida; dojô olímpico; arena para ginástica artística; três quadras para treinamento de basquete, vôlei e handebol; centro de treinamento de boxe; centro de treinamento de luta olímpica; campo de futebol com gramado sintético, além do complexo de atletismo.

Centro Olímpico

Além de ser considerada uma das melhores bases para formar atletas profissionais do Brasil, o COTP transforma vidas. A prova disso são o Patrick, Matheus, Mike e Fofão.
Histórias de superação, persistência e determinação. Não só resultados dentro das argolas, das piscinas e das quadras, mas também na vida. Na vida de cada um que passou por aqui. Seja tornar-se atleta profissional e conquistar o Brasil e o mundo como a Fofão, ou na mudança de realidade como no Mike.

 

 

“O Centro Olímpico mudou a minha vida”


Patrick, de 14 anos, está no COTP desde 2009. Completando sete anos de casa, ganhou o Sul-Americano na Argentina em 2015 nas argolas.
Em 2014, participou do mesmo campeonato no Peru, mas não conseguiu bons resultados. E ele explica: “eu não ganhei nada no Peru. Passei mal, a água de lá não era filtrada. Era horrível. Acabei tomando. Ela vinha direto do solo, eu passei mal, vomitei o campeonato inteiro. Eu recebia café da manhã na cama e enquanto os outros estavam na piscina, eu estava na cama. Eu não aguentava comer nada, comia e vomitava na hora.”, conta mais: “fiz salto e argola. Na argola eu quase vomitei tudo. Quando eu desci, eu saí correndo pro banheiro.”

O Centro Olímpico deu a oportunidade para atletas, como o Patrick, estudarem em escolas particulares com bolsa integral através de campeonatos em que obtiveram bons resultados. É uma das grandes mudanças de realidade que o COTP e o esporte podem proporcionar.

Sobre a mudança de vida que teve desde que começou a treinar, ele diz, com orgulho, que estar ali o deixa muito feliz, e completa: “O Centro Olímpico me deu muitos amigos. Antes eu não era muito de fazer, eu ficava isolado no canto. Mudou bastante a minha vida, me fez sentir mais alegre, mais solto. Gosto bastante porque tem adrenalina e desafio. O COTP me dá coisas que ninguém pode me dar. Ninguém tem uma central médica sem fila, uma psicóloga que não precisa pagar, viagem, lanche, tem toda uma estrutura pra gente. O pessoal aqui se importa com os atletas. O Centro Olímpico mudou a minha vida. E eu tento retribuir do melhor jeito: treinando.”

 

 

Persistência

Uma das qualidades que um grande atleta deve ter é a persistência. E isso não faltou na vida do levantador Matheus Siqueira.

Começando na escola como brincadeira, veio em 2014 participar de uma peneira. E se surpreendeu. Passou em todas as fases e começou a treinar no mesmo ano. Em junho, uma tristeza: teve uma entorse de segundo grau e ficou afastado das quadras por seis meses. Na volta, resultados: entrando na final de um jogo contra o São José, se destacou. Mas, logo após, mais um tristeza: foi cortado do time. Depois da sua grande volta, nada poderia fazê-lo desistir.

A volta por cima

Com o apoio da sua mãe e inspirando-se no seu primo Pedro Vinícius, foi treinar em outro clube para poder se fortalecer e evoluir como atleta e ter a oportunidade de voltar ao Centro Olímpico. E assim foi, ganhando três campeonatos e tornou-se o destaque.
E, mais uma vez, com muita persistência e orgulho, diz: “quero fazer do vôlei a minha profissão.”

 

 

“Aqui é a minha casa”

O atleta mais antigo da casa é o Mike, de 22 anos. Treina desde 2007 e, com orgulho, já diz: “é uma piscina perfeita para treinar. Vários atletas olímpicos, como Cesar Cielo e Thiago Pereira, elogiam.”

Entrou com 12 anos e percebeu a seriedade do treinamento quando ganhou suas duas primeiras medalhas, de bronze e prata, no Campeonato Paulista, já com 16.

“Até então eu nunca tinha ‘pegado’ uma medalha importante, logo, não tinha a ambição de querer algo”. Depois desse campeonato, começou a levar as coisas a sério (dieta, sono e alimentação). O mais difícil, segundo Mike, é a alimentação. Mas confessa que no final do dia é muito gratificante pensar “comi bem, treinei bem e agora é só descansar”. E então, os resultados começaram a aparecer.

Participou de um dos campeonatos de natação mai importante do país, o José Finkel, que aconteceu no meio do ano. Mas focou-se no Campeonato Brasileiro, para conseguir a bolsa, que se concretizou, conseguindo seu melhor resultado.

Saiu de uma realidade de quem pouco tem para onde ir, um lugar sem esperança, sem futuro, sem oportunidades, em uma sociedade injusta. Cresceu no Capão Redondo, onde viu muita coisa, principalmente amigos que hoje não estão vivos.

Sobre sua infância, desabafa: “se eu não estivesse aqui, eu poderia estar preso ou morto. É uma realidade totalmente diferente, você estar aqui, me tirou de uma visão que eu tinha de que, só quem consegue as coisas são os que roubam”. Na comunidade todo mundo pensa isso. O Centro Olímpico me tirou dessa ilusão. A realidade é essa aqui, no meio de gente que te orienta que é seu amigo de verdade, que pensa no seu bem. O COTP me ajudou muito nisso.”

Sua mãe o apoiou desde o começo, sempre a colocando como guerreira.
Seu pai saiu de casa quando tinha nove anos.
Focou-se no esporte, mesmo desacreditado, sempre acreditou que o mal sempre vence o bem. O Centro Olímpico virou a sua casa, o técnico virou o seu pai. Construiu uma família e mudou de realidade através do esporte.

 

 

Veterano

Em 40 anos de Centro Olímpico, Ricardo Barros, da Comissão técnica de atletismo, um dos profissionais mais antigos, participou de mais de 30 desta história.
Vivenciou a transformação de vida de diversos atletas.

Sobre o esporte mudar a realidade, Ricardo comenta: “isso muda a vida das pessoas. Gente que já passou por aqui, que não tinha condição nenhuma e o esporte mudou tudo, de chegar até em uma Olimpíada.”

Conta, com orgulho, os casos de sucesso que seus atletas conquistaram: três que foram para o mundial, outra atleta que foi 12° do mundo, outro em 4° do mundo, entre tantos outros. E deixa claro: “não é o meu trabalho, é o trabalho da equipe como um todo”.

 

 

“Eu tenho muito orgulho de falar que eu passei por aqui”

Hélia Rogério de Souza Pinto, a gigante Fofão. O orgulho da casa. O orgulho do Brasil.
Seu primeiro contato com o vôlei foi na escola quando fazia educação física. E era sua terceira opção, as primeiras eram basquete e handebol, por incrível que pareça. Mas ela era o perfil de quem estava disposta a tudo. Por ser sempre muito ativa Fofão foi uma das três jogadoras da escola a ser escolhida pela professora a fazer “peneira” no COTP.

Depois de uma semana na seletiva, ficou sabendo que ela seria a única que entraria no time entre todos que vieram. Já nasceu com o dom, não precisou fazer nada além do que já sabia para ser a melhor. Surpreendeu-se e, segundo ela, “achou o máximo” ter se destacado entre tantos.

E então começou a dar seus primeiros toques e manchetes de uma futura campeã, com o brilho que duraria por anos. As responsabilidades chegaram e ela foi amadurecendo, sentia que não era mais brincadeira.

Na época, existia um projeto chamado “adote um atleta”, eles forneciam almoço, transporte, tudo que serviria de base. Fofão foi a primeira a ser adotada. Surpresa e confusa, falava: “vocês vão me pagar para eu vir jogar?”. Não entendia como um esporte poderia ser uma profissão, algo tão prazeroso para ela. E, então, começou a amadurecer no sentido profissional. O começo de um grande futuro.

Orgulhosa, diz sobre o Centro Olímpico: “Eu não chegaria aonde eu cheguei se eu não tivesse passado por aqui. Eu vivi aqui o aprendizado que todo atleta precisa para ser um profissional. É você aprender de verdade o que é dar uma manchete, a dar um toque. A base de treinamento que eu tive aqui foi o diferencial para um ser uma grande atleta.”

Seu pai foi quem deu o maior apoio e motivação, facilitando seu novo sonho. Ele sentiu a verdade quando Fofão disse “pai, eu vou ser uma jogadora de vôlei”, e fez o que precisou para ajudá-la.
Ele era quem a trazia para mostrar o caminho, vinham de longe, da zona norte. “Eu vinha pra cá muito feliz, eu chegava muito cedo e eu dormia no vestiário, ficava com as moças limpando a quadra, tudo pra passar o tempo. A história de vida minha está toda aqui. Eu sou muito grata por ter conhecido aqui, por ter passado por tudo isso.”

Sobre a visibilidade e apoio do COTP para os atletas, Fofão diz aliviada: “O importante é que aqui continuam incentivando. Isso é muito importante, é uma esperança. Porque eu saí daqui, os outros podem sair também. O meu primeiro clube apareceu por causa daqui, eles me viram no treino e me chamaram.”

A atleta foi a maior do vôlei feminino. Atuou pela Seleção de 1991 a 2008, disputou 340 partidas e esteve presente em cinco edições das Olimpíadas. É a mais vitoriosa do vôlei, pois além de ter sido campeã olímpica em 2008, foi bronze em 1996 e 2000, a única.

Nas 22 competições que ganhou medalhas pela Seleção, levou 11 vezes o prêmio de melhor levantadora (incluindo Pan de 1999, Olimpíadas de 2000, Pan de 2007, Olimpíadas de 2008) e três de MVP (Pan de 1999, Sul-Americano de 2007 e Torneio de Voleibol Final Four em 2008).

Fofão é um dos maiores orgulhos e revelação do Centro Olímpico. Grande pessoa dentro e fora das quadras, com carisma e técnica, ganhou o Brasil e o mundo.

Será eternamente lembrada por todos.

Sabendo que saiu de um lugar que proporcionou tudo a ela. Sabendo que dali, sairá mais um/uma Fofão.

Uma inspiração para todos os atletas.

 

Texto: Estella Cezare Gomes - ecgomes@prefeitura.sp.gov.br

Fotos: Daniel Alves - dalves@prefeitura.sp.gov.br