Projeto "Time de Futebol" atende moradores em situação de rua no Centro de São Paulo

Virada de confiança

Adriano de Camargo, técnico das equipes Tenda Barra Funda e Tenda Bela Vista, explica a história do projeto “Time de Futebol” e o papel deste esporte na vida dos moradores em situação de rua: “O futebol tem um atrativo social muito grande. Eu precisava de uma estratégia para me aproximar deles e havia uma demanda: eles pediram para jogar futebol. Uni o útil ao agradável: criei a oficina”, lembra Camargo.

Depois de dois anos, os resultados são visíveis: “Hoje em dia temos vários resultados: mais de 30 encaminhamentos para emprego, 45 meninos em curso de PRONATEC, 65 encaminhamentos para retirada de documentos, quatro reaproximações familiares, então está dando certo. No começo foi difícil”, expõe o professor. As oficinas não se limitam ao espaço das quatro linhas. Visitas ao Parque do Ibirapuera, Museu do Futebol e palestras também integram as atividades do projeto. Os principais objetivos das oficinas são resgatar a autoestima dos participantes, criar vínculos e conscientizar os participantes a respeito das drogas “com perspectiva de política e redução de danos.”

Por já ter sido usuário de drogas, Adriano conhece de perto os desafios de quem decide recomeçar a vida. Com dificuldades em conseguir um emprego formal, o professor trabalhou durante quatro anos como feirante para pagar a faculdade de Letras. “As pessoas não acreditam que o ex-dependente químico é ser humano, que ele pode produzir, ter família”.

O missionário Amilcar de Souza Silva também enfrentou dificuldades quando largou as drogas. Dependente químico durante 15 anos, Silva chegou a ser preso no período em que era usuário de crack. “Em uma família como a minha, onde eu era o único dependente químico, quando sumia alguma coisa, todo mundo me olhava com desconfiança. Eu nem podia culpá-los, já que eu ensinei aquilo para eles”, pondera Amilcar, que passou por crises de abstinência e decepções familiares no primeiro ano de sua recuperação.

Silva sempre jogou futebol. No auge de sua dependência, porém, o corintiano se afastou do esporte por conta do crack. “Meus amigos me convidavam pra jogar futebol. Quando eu resolvia ir, me afastava das drogas naquele período, pois o esporte tem esse poder. Ao se envolver no jogo, a pessoa não lembra da droga”, afirma Amilcar.

Adriano de Camargo sintetiza a importância do futebol na vida de um morador em situação de rua: “O esporte como um todo é um meio de se aproximar do dependente químico, não uma finalidade. Essa é uma forma deles extravasarem e nós conhecermos algumas particularidades daquele ser humano. Alguns moradores em situação de rua não sabem lidar com frustrações. Através do futebol conquista-se a organização, disciplina, bom desempenho físico. Em resumo, esse é o melhor meio de ressocializar.”

Texto:

Juliana Salles - jsalles@prefeitura.sp.gov.br

Fotos: Arquivo pessoal - Adriano de Camargo

Quer receber notícias semanais da Secretaria de Esportes no seu e-mail? Escreva para o contato acima e nós teremos o prazer de incluí-lo em nosso mailing!