Vôlei: O atleta “ruim” que treinou a seleção federal da República Dominicana

Wendel treinou nas quadras do Centro Olímpico em 2001, aprendeu a jogar e a ensinar ao lado do atual Coordenador do COTP

A série Pratas da Casa resgata um ex-jogador do Centro Olímpico de vôlei. Aluno em 2001, antes mesmo da grande reforma, aprendeu a jogar e ensinar dentro das quadras do COTP. Sob os olhares de Fábio Broggini, então técnico de vôlei na ocasião, Wendel Alves Camargo encontrou a base para a sua carreira internacional.

Apenas um garoto na época, Wendel se apresentou ao Centro Olímpico para a peneira com 16 anos. “Eu cheguei aqui e o Fábio já colocou pânico. Disse que o time era muito bom e que ele não acreditava que iríamos conseguir passar” conta Wendel. Depois de uma espera de 4 horas para o inicio da peneira, o garoto até então inexperiente teve a oportunidade de jogar junto aos alunos do COTP. ”Fizemos uma semana de teste, ao final desta semana o Fábio me contou que eu estava aprovado de uma maneira surpreendente: ‘Você é ruim, mas eu gosto de você, vou deixá-lo entrar no time para ver o que a gente pode fazer” relembra.

Após as palavras do técnico, Wendel iniciou os treinos, todos os dias da semana, demorava duas horas no trajeto de sua casa até o Centro Olímpico. O atleta conta que realmente sentiu uma diferença entre ele e o experiente time do COTP. “Quando eu entrei no Centro Olímpico, vi que eu realmente estava atrás em consideração ao restante do time. Sempre que eu ia embora, levava uma listinha das coisas que eu tinha que melhorar, eu não sabia de nada. Eu era bem iniciante, gostava de jogar, era guerreiro, mas não tinha técnica nenhuma”. Wendel explica que nunca tinha levado o esporte a sério, e que até então o vôlei era apenas lazer. “O meu interesse pelo vôlei começou pelo meu pai, ele nunca foi um bom atleta, mas sempre gostou de todos os esportes. Ele comprou uma rede de vôlei e começou a levar nas viagens em família e acho que até foi fácil aprender a lidar com o Fábio, porque o meu pai também tem o mesmo jeito. Ele cobrava muito da gente, ele gostava do desafio da competição”. Wendel aprende rápido, em pouco tempo mostrou disciplina, vontade e resultado. “Depois de três meses no Centro Olímpico já estava jogando nas competições como titular, foram três meses de treinamento intenso, treinava de segunda a sexta, aos finais de semana chamava os amigos para jogar. Após um ano consegui entrar na federação paulista e fui o único a continuar até o ano seguinte. Esse foi o começo para começar a deslanchar”.

O técnico Fábio Broggini, não nega e nem esconde o orgulho que sente do garoto. “Ele superava a cada mês, era uma evolução absurda. Ele chegou pra teste e em um ano consegui colocá-lo em uma seleção paulista. Ele é um garoto alto e muito esperto, então ele assimilava rapidamente as coisas, muito disciplinado nas condutas de treinamento. Então quando se tem um atleta muito disciplinado e que sabe o que quer a resposta é positiva”.

Após dois anos no Centro Olímpico, Wendel saiu do time por não haver uma categoria em que ele pudesse se enquadrar. Procurou outros clubes, mas o descontentamento era certo. Segundo o ex-aluno, nenhum outro lugar oferece toda a estrutura e apoio fornecido pelo Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa. Após a tentativa, Wendel voltou para as quadras do COTP, mas desta vez, com outro intuito. O ex-aluno virou assistente estagiário, ajudava o Técnico dentro do Centro Olímpico e depois seguia até o Ibirapuera para dar assistência a outra turma treinada por Fábio Broggini. “Fiquei aqui por oito meses e tive que sair. Eu precisava começar a trabalhar para poder pagar a faculdade. Então trabalhei por três anos vendendo peças de moto em uma loja. Quando estava no meio da faculdade eu saí para fazer estágio no vôlei. Ai trabalhei no Esporte Clube Pinheiros e no Colégio Bandeirantes.”

Dois meses depois, um convite inesperado chegou direto da República Dominicana. Um amigo que atuava como técnico da seleção federal do país convidou Wendel para ser assistente da seleção. O ex-jogador conta que após a faculdade não voltou a treinar como jogador. “Depois de 2003 nunca mais entrei em quadra para jogar, exceto na faculdade, mas treinando todos os dias não. Eu gostaria de ter continuado, mas sabia das minhas limitações, eu não ia conseguir ganhar dinheiro como jogador e eu gostava de ser técnico, tive um ótimo exemplo de um, então achei legal seguir essa carreira. Eu queria sentir essa energia,o prazer das quadras e para isso não preciso estar jogando. E por essa seleção eu fui para o mundial, para o Grand Prix e demais torneios internacionais”.

Foi no país da América Central que Wendel conheceu a sua mulher, uma ex-jogadora de vôlei brasileira que morava nos Estados Unidos, após a tentativa de ficar na República Dominicana, a esposa de Wendel teve que voltar para os Estados Unidos por não conseguir arranjar um emprego. “Como nós estávamos juntos, eu decidi ir morar nos Estados Unidos com ela. Após algum tempo ela veio para o Brasil participar de um programa e depois de cinco meses voltei pra cá. Tentei arranjar emprego aqui, mas o técnico da seleção da República Dominicana me convidou para voltar para os treinos das Olimpíadas. Então nós voltamos juntos para a República Dominicana”. Após seis meses, sua esposa engravidou, a procura de dar o melhor para o filho que estava para nascer, Wendel decidiu voltar para os Estados Unidos e continuar sua carreira nas quadras americanas. “Hoje eu sou técnico e estou buscando um trabalho nos Estados Unidos, no momento sou assistente voluntário, estou procurando algo como técnico. Então eu dou assistência ao time, estudo inglês e trabalho para manter minha família”, relata.

De volta ao Centro Olímpico, apenas para uma visita, Wendel aproveita para matar a saudade do técnico que o ensinou tanto. Fábio Broggini fala sobre o laço que foi criado dentro e fora de quadra. “a gente tem uma relação como pai e filho, então ele vem aqui matar a saudade do lugar que abriu as portas e a gente mata a saudade um do outro. A gente tem carinho, grande respeito um pelo outro. Não é com qualquer pessoa que a gente constrói isso”.

Após ter a possibilidade de treinar uma seleção federal, Wendel mostra gratidão e se emociona ao falar como é voltar a sua origem após ter conquistado tanto. “Tudo que eu tenho é graças ao Fábio, foi aqui que eu consegui abrir todas essas portas. Se não fosse isso eu não conheceria a minha mulher, então tudo o que eu tenho e quem eu sou é devido ao vôlei. O esporte me ensinou muito não só em técnica, mas em questão de caráter, eu entrei no vôlei eu era um adolescente. Fico com vontade de voltar, de ficar aqui”. Segundo o ex-aluno, o Centro Olímpico não perde em nada para os centros de formação esportiva dos outros países. “A diferença do centro Olímpico é a formação pessoal. A gente não pensa em ganhar a qualquer custo, aqui os professores se interessam pela sua vida, como estão as coisas em casa e isso faz total diferença. Quando eu estava aqui o Centro não tinha passado pela grande reforma, já tive a oportunidade de trabalhar em outros lugares e países, e eu vejo que o que eles oferecem aqui não perde pra ninguém e fica a frente de muitos!“.

Texto:

Renata Simond - rsimond@prefeitura.sp.gov.br

Foto:

Thomaz Ayub - thomazayub@prefeitura.sp.gov.br

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