Sampa Skate é objeto de estudo em Mestrado da USP

Giancarlo Machado, autor da dissertação, concedeu entrevista exclusiva para a SEME e falou sobre a competição

O mundo do skate também é objeto de estudo no mundo acadêmico. O antropólogo social Giancarlo Machado seguiu esse caminho e fez uma dissertação de mestrado sobre a prática do street skate em São Paulo, com destaque para o Circuito Sampa Skate, criado pela Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação. Machado, que atualmente é doutorando da Universidade de São Paulo (USP), concedeu uma entrevista exclusiva sobre esse assunto para a SEME.

Um dos interesses do antropólogo ao desenvolver sua dissertação era conhecer e acompanhar de perto o Sampa Skate. “Essa é uma competição com um formato bem diferente das outras. Os competidores não pagam para participar, recebem lanches por parte dos organizadores, podem desfrutar de uma excelente pista de skate, e ao final da competição ainda possuem a chance de ganhar boas premiações, além de cursos profissionalizantes e a bolsa atleta”, fala Giancarlo, que anda de skate há 15 anos.

“O Circuito Sampa Skate revelou inúmeros skatistas que se consagraram mundialmente, como Kelvin Hoefler, um dos melhores streeteiros da atualidade. Considero tal evento uma porta de entrada no universo do skate paulistano. A partir dele, muitos jovens passam a enxergar esse esporte de uma outra forma, constroem perspectivas em suas trajetórias como skatistas e percebem que o skate oferece inúmeras possibilidades profissionais.” , lembra.

Depois da conclusão de suas pesquisas, Giancarlo Machado teve novas impressões sobre a competição. Para ele, o Circuito possibilita a criação e ampliação de redes de sociabilidade entre vários skatistas, a circulação dos competidores por várias regiões e bairros, o que é visto pelo estudioso como uma chance de conhecer a própria cidade, além da promoção da cidadania e inclusão social. “Eles ficam sabendo de outras pistas, de futuras competições, de lugares da cidade que possibilitam a prática do skate. Além disso, o Circuito Sampa Skate reúne muitas famílias. Em cada etapa que participei, sempre via inúmeros pais, mães e até avós, que não mediam esforços para levar seus filhos e netos para uma etapa da competição, independente de qual parte da cidade ela fosse realizada.”

Sampa e o skate

Para Giancarlo, São Paulo é uma das melhores cidades do país para andar de skate. Segundo o antropólogo, o surgimento de equipamentos urbanos como bancos, escadas, corrimãos, muretas e bordas favorece a prática do street skate, modalidade movida pela imprevisibilidade. Com relação aos espaços públicos, o skatista elogiou as pistas construídas, especialmente aquelas que se encontram nos CEUs.

Ao comentar sobre iniciativas semelhantes ao do Clube Ryuso Ogawa, na Vila Guarani (zona sul de São Paulo), o estudioso destacou valores que extrapolam as fronteiras do esporte: “isso revela também um diálogo entre o poder público e o universo do skate, algo que considero muito importante. Através de iniciativas como essa, os skatistas aprendem não só as técnicas do esporte que praticam, mas também estabelecem formas de sociabilidade e ocupam um espaço público com base em suas próprias experiências”.

Questionado sobre o preconceito que ainda envolve a prática, Giancarlo citou o diálogo e o bom senso como bases para a mudança dessa situação: “O skate é comumente associado a uma prática de vandalismo e alguns praticantes são estigmatizados por conta disso. Já vi casos em que shoppings centers barravam jovens skatistas somente pelo fato deles portarem o skate debaixo do braço. A prática desse esporte nas ruas envolve muitas polêmicas, além de ser motivo de conflito por conta dos usos e apropriações de certos espaços urbanos. Porém, a criminalização ou o banimento do skate das ruas não é a medida mais sensata. O diálogo e o bom senso é o que deve prevalecer diante os problemas que uma prática esportiva enfrenta e ao mesmo tempo impõe em uma cidade como São Paulo.”

Origens do interesse

Giancarlo passou toda a sua adolescência envolvido com o skate. Além da participação em diversos campeonatos e até mesmo do apoio de patrocinadores, Machado também sempre quis saber mais sobre a prática. Para isso, ele colecionou revistas de skate e se tornou colaborador em algumas delas. Depois de algum tempo, o skatista resolveu seguir a vida acadêmica para estudar a prática do skate, uma de suas paixões. “A partir dessa temática eu poderia dialogar com muitas teorias da área da Antropologia Urbana”, conta.

Ainda na elaboração do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) em Ciências Sociais, o mestre em Antropologia Social focou sua pesquisa na análise das redes de relações que são tecidas e ampliadas a partir de suas participações em campeonatos de skate. “Percebi que, embora os skatistas participassem de competições e andassem de skate em pistas, eles também atribuíam demasiada importância ao skate praticado nas ruas”, relata Giancarlo.

Texto:

Juliana Salles - jsalles@prefeitura.sp.gov.br

Fotos:

Arquivo pessoal - Giancarlo Machado

Arquivo - SEME

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