Cinema ao ar livre exibe “Sabotage: maestro do Canão” na região da Cracolândia

Sessão foi organizada pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania em parceria com o projeto CINEB, do Sindicato dos Bancários

O telão que exibe o filme sobre o rapper Sabotage é instalado no meio da rua Dino Bueno, foco do chamado fluxo (pontos de concentração de usuários de crack) na Cracolândia. Neste cinema, todos são bem-vindos. E o espaço é logo ocupado por frequentadores e trabalhadores da região.

A ideia de exibir o filme “Sabotage: maestro do Canão”, do diretor Ivan 13P, no território do programa “De Braços Abertos”, partiu do secretário de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Eduardo Suplicy. Quando assistiu ao longa pela primeira vez, percebeu que seria uma ótima chance para promover uma ação de integração e cultura, na região da Cracolândia.

“É uma oportunidade para eles pensarem um pouco em como é possível uma pessoa se libertar de condições como a que o próprio Mauro (Sabotage) conheceu: das restrições colocadas para quem nasce negro, numa favela, com recursos tão escassos.”

A identificação do público com a figura de Sabotage é clara. Já no início do filme, o rapper canta um trecho da música “Um bom lugar” e é acompanhado com efervescência pelos mais animados. “Mesmo os que estão afastados, nas tendas onde dormem, estão nos pedindo licença para que possam assistir”, conta a enfermeira Agostinha, que atua na região.

O espaço da Alameda Dino Bueno está inteiro ocupado no trecho entre as ruas Glete e Helvetia. Apesar do frio, os pequenos prédios da alameda têm moradores debruçados sobre suas janelas, curiosos com a exibição do filme.

Marcos é um dos frequentadores da região que aparece para a sessão de cinema ao ar livre. Diz que não é usuário de drogas, tampouco morador de rua, mas vive uma vida itinerante no centro de São Paulo, diariamente procurando abrigos ou pensões para passar a noite. Sua família é de Mogi das Cruzes, mas Marcos prefere a dinâmica da cidade grande, onde consegue encontrar caminhões para ajudar nos trabalhos de carregamento - e assim ganhar o dinheiro de seu sustento.

“Estou aqui há dez anos, e é difícil ver político fazer algo por aqui, viu?” A visão de Marcos sobre a ausência de políticas públicas revela o abandono histórico desta região pelo poder público e reforça a importância da ação pensada por Suplicy.

A exibição desta noite é apenas uma ponta de um projeto maior. Desde junho de 2014, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania desenvolve, no mesmo território, o projeto “Cidadania nas Ruas da Luz”, que acontece em diálogo com o programa “De Braços Abertos”, criado pela atual gestão da Prefeitura de São Paulo para promover a reinserção social de usuários de crack.

Assim como Sabotage, Marcos e tantos outros são vítimas de um histórico de grave desigualdade socioeconômica do país. Os que nascem em família pobre e conseguem fugir à regra da pobreza, talvez sejam retratados em documentários, como no caso do filme sobre o rapper do Canão, exibido nesse dia nas ruas da Luz. Mesmo sem a fama, o itinerante garante que sua vida é repleta de emoções. “Daria um filme tão bom quanto esse daí!”