Diálogo Intergeracional debate reflexos do período da ditadura nos dias de hoje

Altos índices de homicídios da juventude negra e de periferia praticados por policiais – objetos de uma pesquisa da UFSCAR divulgada no dia 2 – foram debatidos por jovens e por pessoas que viveram o período da repressão

(Atualizado em 7/4/2014)

Os reflexos da ditadura civil-militar nos dias de hoje, sobretudo nos índices alarmantes de homicídios da juventude negra e de periferia praticados por policiais, foram o foco do Diálogo Intergeracional – Direito à Memória e à Verdade Ontem e Hoje, que aconteceu no sábado, na Praça das Artes, reunindo jovens e pessoas que viveram o período da repressão.

O evento integrou as atividades realizadas pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) para o cinqüentenário do golpe de 1964, que instaurou no País um período de exceção de mais de 20 anos, severamente marcado pelo autoritarismo e por graves violações aos direitos humanos, que até hoje não foram totalmente esclarecidas – e apresentam reflexos nefastos na democracia brasileira.

Na quarta-feira, dia 2, foi divulgada uma pesquisa do Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos (GEVAC) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) segundo a qual homens negros, sobretudo jovens, são as principais vítimas da violência policial no estado de São Paulo. Dos 939 casos de ações de policiais analisados pelo estudo, entre 2009 e 2011, 61% das vítimas tinham esse perfil (saiba mais).

Assim, o Diálogo Intergeracional proporcionou a troca de experiências entre os que vivenciaram a violência de ontem e os vivenciam a violência de hoje, ajudando a pensar em como desconstruir a cultura de violência e esse legado autoritário no Brasil.

"Esse Diálogo Intergeracional é tão importante porque um país que não tem memória, que não tem sua verdade desvendada e que tem a impunidade como marca de sua história vive suas sequelas hoje. E suas sequelas matam a nossa juventude", disse o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili, ao abrir o evento.

"Falar de ditadura não é só olhar para trás", completou Carla Borges, coordenadora de Políticas pelo Direito à Memória e à Verdade da SMDHC. “Temos de resgatar a memória política de nosso país para que possamos compreender como opera a violência institucionalizada.”

Também participaram da abertura do encontro a ex-presa política Maria Auxiliadora Arantes e o rapper James Lino – Lino leu o relato de Maria Auxiliadora, conhecida como Dodora, em primeira pessoa, como se fosse ela, e, depois, Dodora leu o depoimento do rapper, que disse já ter sido alvo de ações policiais apenas por ser negro. Edson Teles, preso com seus pais, César e Amélia Teles, quando tinha apenas 4 anos de idade, encerrou a abertura.

Os participantes foram então divididos em três grupos, para discutir e responder às perguntas "como a violência do Estado te marca ou te marcou?" e "como a marca da violência do outro te afeta?". "Precisamos pensar que desmilitarizar a polícia é também acabar com a justiça militar e com a impunidade das mortes causadas por policiais", disse o ex-preso político Antônio Carlos Fon em um dos grupos. 

O evento foi realizado pela Coordenação de Políticas pelo Direito à Memória e à Verdade e a Coordenação de Políticas para Juventude da SMDHC, em conjunto com o Coletivo Político Quem, a Comissão da Verdade da ALESP, a Comissão da Verdade da FESP-SP, Comissão da Verdade da UNIFESP, Comissão da Verdade da PUC-SP, Comissão de Familiares, Mortos e Desaparecidos Políticos, Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, Frente de Esculacho Popular, Kiwi Companhia de Teatro, Levante Popular da Juventude, Margens Clínicas e União Estadual dos Estudantes/SP.

 

Diálogo Intergeracional – Direito à Memória e à Verdade Ontem e Hoje
Praça das Artes
Av. São João, 281
Dia 5/4, às 15h
Entrada gratuita