Seminário sobre violência de estado encerra semana de debates com educadores de Itaquera

Quase 3 mil professores da rede municipal de educação foram formados em direito à memória e à verdade. Os cursos variam de 4 a 12 horas e contam pontuação para progressão na carreira

Cerca de 300 educadores da região de Itaquera, zona leste da capital, estiveram presentes na noite de terça-feira (6), no auditório do CEU Azul da Cor do Mar, para o último dia de atividades do “Seminário Violência Ontem e Hoje”.

O encontro foi organizado pela coordenação de Direito à Memória e à Verdade em parceria com a coordenação de Educação em Direitos Humanos, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC). O seminário fez parte da formação de professores sobre o tema da ditadura militar e seus impactos nos dias atuais, além de indicar formas para trabalhar essas questões com alunos da Rede Municipal de Ensino.

Para Gabriela Vallim, articuladora do programa “Juventude Viva” em Itaquera e integrante da comitiva brasileira na Assembleia Geral da ONU em Nova York, “é necessário considerar os movimentos periféricos como manifestações culturais de uma população marginalizada”. Vallim destacou as novas formas de organização dos jovens e deu forte ênfase para as alterações causadas pelas novas tecnologias que, segundo ela, resultaram em movimentos como o “rolezinho”.

O secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Eduardo Suplicy, relembrou os tempos da censura no Brasil, nos anos 1970, e cantou músicas de Geraldo Vandré – símbolos da luta pela democracia durante o regime – junto ao público. “Já vivemos tempos mais difíceis e não podemos permitir que as regras do jogo democrático sejam quebradas”, afirmou Suplicy. 

Monique Lupi, também articuladora em Itaquera, acredita que mesmo após quase quatro décadas de escravidão, práticas racistas ainda impactam de maneira devastadora grande parte da sociedade. Uma das idealizadoras do movimento “15 contra 16” – que luta contra a redução da maioridade penal – Monique falou sobre o funk e definiu as novas manifestações culturais da periferia, muitas vezes delegitimadas pelo discurso dominante, como formas de resistência: "Não podemos perder um movimento que conta nossa história, que é do povo preto, para a loucura das lutas de classes”, afirmou a jovem. Cláudio Aparecido da Silva (Claudinho), coordenador de Juventude da SMDHC, arrematou: “o funk é resultado da onipresença do Estado nas periferias da cidade e de todo o Brasil”.

Mediador da mesa, Jonas Waks, coordenador-adjunto de Educação em Direitos Humanos, apresentou as principais políticas públicas desenvolvidas pela SMDHC no combate à discriminação e a favor do direitos humanos. Entre os programas, Waks destacou o Prêmio Municipal de Direitos Humanos e o Festival ENTRETODOS. “São ações que tratam de várias temáticas: gênero, direito à cidade, cultura, e que devem ser levadas à sala de aula”, completou.

O seminário abordou a violência estatal, durante três dias, por meio de filmes e debates. No programa, a exibição do documentário “Coratio” contou com a participação de Ana Caroline Castro, jornalista e diretora do filme, e Anivaldo Padilha, ex-preso político e exilado, em um acalorado debate. Discussões sobre os temas “Aparato Policial, Tortura e Impunidade: relações entre ontem e hoje” e “Violações de Direitos Humanos e Territorialidade; como tratar o passado e o presente com os alunos”, tiveram lugar com a presença do jornalista Bruno Paes Manso e educadores da rede pública.

Para Carla Borges, coordenadora de Direito à Memória e à Verdade da SMDHC, o saldo do projeto é bastante positivo "das 13 DREs (Diretorias Regionais de Ensino) da cidade, 11 tiveram cursos, alcançando praticamente todos os territórios do município e formando 2.841 educadores".