Ato reivindica reparação aos trabalhadores perseguidos por empresas que apoiaram a ditadura civil-militar

Objetivo é tornar efetivas recomendações expressas no relatório final da Comissão Nacional da Verdade

O auditório do Arquivo Público Municipal ficou lotado na manhã desta quinta-feira, (11), durante o ato organizado pelo Fórum de Trabalhadores e Trabalhadoras por Verdade, Justiça e Reparação, com apoio da Comissão de Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo. O objetivo do encontro foi debater o trabalho das comissões já extintas, principalmente a Comissão Nacional da Verdade (CNV), e avaliar a perspectiva de implementação das recomendações constantes no relatório final da CNV.

O ato, que reuniu movimentos sociais, entidades, comitês, sindicatos, centrais sindicais e comissões de memória e verdade de todo o país, discutiu quais os caminhos possíveis a serem percorridos para a busca por justiça e reparação, responsabilizando empresas e empresários que colaboraram com a ditadura perseguindo trabalhadores, delatando, elaborando “listas sujas” e demitindo.

“É muito significativa esta presença de tantas pessoas que contribuíram para a democratização e lutaram contra a ditadura”, disse Eduardo Suplicy, secretário de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo. Suplicy destacou a importância de se enfatizar a perseguição sofrida pelos trabalhadores, inclusive para que os jovens saibam o que aconteceu e para que isto “nunca mais volte a acontecer em nossa história”.

Representando a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), Ivan Seixas, ex-preso político, enfatizou que o ato, ao exigir reparação, é o desdobramento das recomendações da CNV. “Nossa tarefa aqui não é de homenagens. É de fazer cumprir as recomendações das comissões, especificamente sobre os crimes contra os trabalhadores e suas famílias.”

Eugênia Gonzaga, presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos da SDH/PR, ponderou que o judiciário brasileiro ainda trabalha com a política do esquecimento, não sendo “simpático” a medidas de reparação e justiça. “Ainda temos dificuldade em avançar na questão da justiça de transição”, disse ela. Apesar disto, Eugênia acredita que é possível trilhar caminhos jurídicos em direção a reparação por parte das empresas que colaboraram com a ditadura, inclusive a partir de exemplos internacionais. “A responsabilização de entes privados não é uma novidade no âmbito da reparação dos direitos humanos”, afirmou a procuradora, citando como exemplo empresas que colaboraram com o regime nazista na Alemanha.

No caso do Brasil, a presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos acredita que a reparação coletiva, por meio da construção de memoriais, por exemplo, pode ser uma alternativa. “Os presidentes destas empresas hoje não têm interesse em ver seus nomes ligados aos crimes do passado.”

Entre as empresas e entidades acusadas de colaborar com a ditadura estão: Ultra, Itaú, Souza Cruz, Volkswagen, Pirelli, Antarctica, O Globo, os jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, GM, Brastemp, Esso, Votorantin, Scania, FIESP, SESI, Usiminas, Light, Cosipa, Brastemp, Duratex, Philips, Eternit, entre outras.