Ossadas de Perus são transportadas para laboratório na UNIFESP

A universidade abrigará o Centro de Arqueologia e Antropologia Forense onde será realizada a análise científica para a identificação dos restos mortais

Nos dias 10 e 11 de setembro, uma equipe multidisciplinar conduziu um minucioso trabalho para transportar parte dos remanescentes ósseos referentes ao Caso Perus para o Laboratório do Centro de Arqueologia e Antropologia Forense (CAAF) montado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) com apoio do Ministério da Educação para sediar as análises antropológicas dos materiais. No total foram transportadas 411 caixas, guardadas em 30 nichos ou sepulturas. Os materiais foram encontrados na Vala Clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus, em 1990 e desde 2002 estavam alocados no Ossário Geral do Cemitério do Araçá, à espera de definições quanto à retomada da identificação.

O translado foi realizado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, pela UNIFESP e por três secretarias da Prefeitura de São Paulo: a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, responsável pela política de direito à memória e à verdade na Cidade, a Secretaria Municipal de Serviços, onde está alocada a Superintendência do Serviço Funerário, e a Secretaria Municipal de Segurança Pública, que realizou a escolta durante todo o traslado.

Fotos: Peu Robles / João e Maria.doc

Familiares de mortos e desaparecidos políticos, pelo Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça e pela Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” estiveram presentes em todas as etapas para acompanhar o trabalho. “É uma pena que tenha demorado tantos anos, mas finalmente está acontecendo, é um momento muito especial”, disse Ivan Seixas, Coordenador da Comissão da Verdade da ALESP, ex-preso político e filho de Joaquim Seixas, assassinado pela ditadura e enterrado no Cemitério de Perus. “Nossos companheiros começaram a voltar para casa”, afirmou emocionado Antônio Carlos Fon, do CPMVJ.

As más condições de conservação das ossadas e a série de negligências com que foi conduzido o caso até o presente reduzem sensivelmente a probabilidade de identificação e tornam a análise um processo complexo. O compromisso das instituições e equipes envolvidas é esgotar as possibilidades de análise e dar uma resposta definitiva às famílias, por meio de um processo transparente e com absoluto rigor científico, baseado em metodologias consagradas internacionalmente. “Eu sei que as chances de encontrá-lo são baixas, mas fico feliz que o Estado ao menos tente dar essa resposta”, disse Walquíria Ibanez, sobrinha de Abílio Clemente Filho, desaparecido em 1971, aos 22 anos.

A transferência de custódia dos materiais da Prefeitura para a UNIFESP foi formalizada em documento específico que comporá o Termo de Cooperação firmado pelas instituições à frente da execução do trabalho de identificação no último dia 4. As demais caixas, do total de 1.049, serão transportadas uma vez concluída a reforma estrutural do imóvel, prevista para dezembro.