Num discurso emocionado, a boliviana Mônica Rodrigues, representando a comunidade de imigrantes latinoamericanos de São Paulo, enalteceu a importância do acordo assinado na sexta-feira, dia 4, entre a Prefeitura de São Paulo e a Caixa Econômica Federal (CEF), com o objetivo de facilitar a abertura de conta bancária por parte dos imigrantes. “A bancarização representa uma conquista de muitas que ainda queremos”, afirmou.
Mônica lembrou o assassinato do menino boliviano Bryan Capcha, cuja família já havia sido assaltada em casa outras vezes justamente por ser obrigada a guardar suas economias na própria residência. “Esta tragédia marcou nossa comunidade”, disse, com voz firme. Para ela, a possibilidade de abrir conta bancária não acabará com os assaltos, mas será importante para reduzi-los. “Vemos o Brasil como uma terra de sonhos e oportunidades, e vivemos aqui também para contribuir com o crescimento do País e da cidade de São Paulo.”
Durante a cerimônia, o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili, destacou que o acordo pode gerar impacto por todo o País, estando a cidade de São Paulo na vanguarda de uma ação diretamente vinculada à redução da vulnerabilidade da comunidade de imigrantes do Mercosul e países associados. “A exclusão dos estrangeiros no sistema bancário não tem nenhuma justificativa. Com um simples olhar para uma realidade específica, a vida de muita gente fica um pouco mais fácil”, ponderou. Sottili ressaltou, ainda, a necessidade de mais avanços na garantia de cidadania e de direitos básicos dos imigrantes, como a regularização da feira da Rua Coimbra e a inclusão da feira da Alasita no calendário de eventos da Capital. “Sorte de um país e de uma cidade que contam com imigrantes entre seus moradores. Enriquecemos nossa cultura, potencializamos nosso desenvolvimento, favorecemos a diversidade.”
Recordando suas raízes estrangeiras, o prefeito Fernando Haddad refletiu sobre o atual movimento de restrição aos fluxos migratórios em vigor em todo o mundo e defendeu que é preciso reverter essa tendência. “Com a mesma ênfase com que se defende a livre circulação de mercadorias, devemos lutar para a queda de barreiras de imigração. É preciso pensar na integração da América do Sul, um sonho antigo de nossos libertadores”, disse. “O acordo de hoje é um pequeno passo diante do longo caminho que temos que percorrer. Nosso município vai acolher todos os que queiram aqui viver e trabalhar”, afirmou o prefeito.
O tom emocionado da fala da imigrante boliviana Mônica Rodrigues sensibilizou o vice-presidente de Varejo e Atendimento da Caixa Econômica Federal, José Henrique Marques da Cruz, que afirmou ter a certeza de estar no caminho certo ao ouvir depoimentos como o dela. “Estamos fazendo uma ação de política pública que fará grande diferença na vida de milhares de imigrantes."
O vice-presidente da CEF anunciou que as novas regras para abertura de conta bancária passam a vigorar a partir do dia 26 de outubro. Pelo acordo, além da abertura de conta-corrente e poupança, os imigrantes poderão ter acesso a vários serviços da Caixa, incluindo o microcrédito e o envio de recursos para o exterior em condições facilitadas.
Para abrir a conta, os imigrantes do Mercosul e dos países associados precisarão apresentar o protocolo de pedido de encaminhamento do Registro Nacional de Estrangeiros (RNE); uma cópia do Sistema Nacional de Cadastramento de Registros de Estrangeiros (SINCRE), emitido pela Polícia Federal; o documento que originou o SINCRE (passaporte ou documento de identidade do país de origem); e o CPF, que pode ser obtido, em cerca de uma semana, com o protocolo da Polícia Federal e passaporte ou documento de identidade.
Fotos: Cesar Ogata/Secom