Integrantes do Programa Transcidadania estudam Economia Solidária

Uma das propostas do curso é mostrar que, além do trabalho com carteira assinada, há a possibilidade de ser empreendedor

 “Nunca pensei que poderia passar da catraca, do portão para dentro de uma faculdade e de repente estou aqui dentro estudando” diz Fernanda Silva, beneficiária do Programa Transcidadania no intervalo da aula de Economia Solidária. O curso foi possível a partir de parceria entre a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), firmada em torno de Transcidadania, política de reintegração social para Travestis e Transexuais da Prefeitura de São Paulo. “O curso é ótimo. Já trabalhei com vendas e com o curso acredito que posso trabalhar como cuidadora”.

O primeiro dia foi desafiador para a professora do curso, Erika Butikofer. “Uma das beneficiárias me chamou de doutora. Imediatamente eu disse que não precisava tanta formalidade. Atitudes assim refletem o quanto é preciso a Universidade diversificar seu corpo de alunos e professores. A diversidade é fundamental para a formação humana”. No curso, os alunos refletem sobre as diversas áreas de atuação do empreendedorismo solidário e como podem colocar em prática suas idéias.

Para a beneficiária Thaís Lima, estar em um ambiente universitário é “voltar a acreditar que a gente faz parte da sociedade e temos direito de nos socializar em diferentes ambientes sociais. Estar aqui dentro é muito enriquecedor”. Thaís considera o curso muito proveitoso e que ele está possibilitando a ela planejar seu próprio negócio. “Trabalhei um tempo com eventos, mas como me formei em gestão de alimentos, por meio do Transcidadania, quero unir o que aprendi nos dois cursos”, planeja.

A parceria faz parte da grade obrigatória de estudos de 200 participantes do Transcidadania, que inclui ainda o ensino básico, médio e outros cursos, como o de Direitos Humanos, que ressalta o papel de cidadania de cada pessoa envolvida com o programa.

Para o diretor acadêmico da FESPSP, Aldo Fornezieri, compreender a diversidade sexual, étnica, racial, cultural, social e econômica dentro do ambiente acadêmico é muito importante. “Uma das principais características da ciência é a garantia da liberdade de pensamento e ideias. Isso só é possível a partir da garantia de espaços de debate e pesquisa em diversos temas relacionados aos direitos humanos.”

Economia Solidária

O conceito do que é Economia Solidária já está estabelecido dentro do próprio Ministério do Trabalho e Emprego. É um modo diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Diferente da economia convencional, na qual existe a separação entre os donos do negócio e os empregados, na economia solidária os próprios trabalhadores também são os donos. São eles que tomam as decisões e repartem os resultados.

Há milhares de iniciativas como estas no país, do campo à cidade, em que trabalhadores são organizados coletivamente em associações e grupos produtores, cooperativas de agricultura familiar, cooperativas de coleta e reciclagem, empresas recuperadas assumidas pelos trabalhadores, redes de produção, comercialização e consumo, bancos comunitários, cooperativas de crédito, clubes de trocas, entre outras.

O conceito de economia solidária mostra que o trabalho com carteira assinada, conhecido como mercado formal, não é o único modo de tirar o próprio sustento. “No inicio do curso, muitas delas me questionaram sobre em que área poderiam trabalhar com a carteira assinada. A formalidade e a carteira assinada são significativas para eles e elas. A proposta do curso é mostra que existe outros modos de se sustentar, como ser empreendedor”, explica a professora Érika Butikofer.