Projeto Antonio Benetazzo

Na intersecção entre os campos artístico e cultural, Antonio Benetazzo aliou sua intensa e variada produção ao engajamento político. Artista em diálogo com tendências da vanguarda pictórica, o militante foi morto por oficiais da ditadura aos 30 anos de idade, tendo o seu trabalho interrompido no período de maior maturidade. As obras, que sobreviveram graças à afetividade de amigos e familiares, refletem o cruel esfacelamento promovido pelos militares – violência que ainda ecoa no presente, apesar da difusão das políticas publicas de memória e dos avanços das diversas comissões da verdade espalhadas pelo país.

Enterrado no Cemitério Dom Bosco, em Perus, local onde foi encontrada uma vala clandestina contendo mais de mil conjuntos ósseos, Benetazzo representa as inúmeras vidas ceifadas pelo aparato repressivo e pelos grupos de extermínio, que matavam não apenas por perseguição política, mas também por motivações higienistas, vitimando populações vulneráveis. Pessoas que tiveram negados seus direitos de cidadania, seguidos do próprio direito à vida e, finalmente, post-mortem, do direito à identidade, em uma deliberada política de desaparecimento forçado, que permanece ativa nos dias atuais. O projeto evidencia também o impacto da ditadura em toda sociedade, que pela interdição militar foi privada indiscriminadamente do livre acesso às expressões artísticas e aos bens culturais.

Na contramão da censura e da política de desaparecimento, o projeto de caráter inédito foi iniciado em 2014 pela Coordenação de Direito à Memória à Verdade. Finalmente, 40 anos após o assassinado do artista militante, a trajetória e a obra de Benetazzo voltam à esfera pública. Mais do que uma reparação individual trata-se de uma reparação coletiva que permitirá devolver para a população o acesso a uma obra que lhe foi negada em razão da violência de Estado.

Ao revisitar e revelar a obra de um grande artista plástico até então praticamente desconhecido, restitui-se ao Brasil algo que lhe foi negado em razão da brutalidade e da violência da ditadura de 1964. Assim, procura-se uma reconciliação com a memória coletiva para ressignificar o presente de forma a impossibilitar que essas violações se repitam.

O projeto é composto por quatro frentes:

  • Pesquisa que inventariou mais de 200 obras e diversos documentos 
  • Ensaio audiovisual: “Entre Imagens (intervalos)”. Veja  o teaser. Confira o vídeo da pré-estreia aqui
  • Exposição: “Antonio Benetazzo, permanências do sensível”, no Centro Cultural São Paulo
  • Publicação: “Antonio Benetazzo, permanências do sensível”, contendo todas as obras selecionadas para a exposição e artigos de críticos, artistas e especialistas.