Roda de conversa discute obra de Benetazzo e Ditadura Militar

O debate aconteceu no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, onde a exposição fica até o dia 16 de novembro

Um quadro inacabado abre e encerra a exposição ‘Antonio Benetazzo, permanências do sensível’. A obra é uma metáfora para a interrupção que a violência da Ditadura Civil-Militar – que vigorou no Brasil entre os anos de 1964 e 1985- representou na arte, na vida do Antonio e na democracia brasileira.

Esse aspecto foi ressaltado pelo curador da exposição, Reinaldo Cardenuto, durante a roda de conversa realizada na terça-feira (11), no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (CFCCT), onde a mostra está em cartaz até o dia 16 de novembro. O debate reuniu cerca de 70 estudantes e contou com a presença do artista plástico e ex-preso político, Alípio Freire e da Nordana Benetazzo, irmã de Antonio Benetazzo.

Obra Incompleta - de outubro de 1972

Alípio, que era amigo de Benetazzo, ressaltou a importância da exposição não ficar restrita ao centro da cidade e inspirar os jovens da região. “Isso é repertório, vocês precisam olhar para esses quadros e pensar ‘eu também posso’”.

Levar a exposição para Cidade Tiradentes faz parte do compromisso de territorializar as políticas de construção de memória coletiva sobre a ditadura em toda a cidade. “Esse ciclo de violência militar permanece até hoje nas periferias”, resumiu Carla Borges, coordenadora de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (DMV/SMDHC).

Para o curador Cardenuto, a exposição destaca o vínculo que existe entre arte e política. “A arte é o lugar da descoberta e de resistência. Ela tem que caminhar junto com a política e precisamos debater a política por meio dela”. Ele também convidou os jovens a se inspirarem. “Isso pode despertar o processo de criação de cada um de vocês”.

Questionada por um dos estudantes, Nordana Benetazzo contou como foi o processo de confirmação da morte do irmão pelas mãos do Estado e não por um atropelamento como forjaram no primeiro momento. “Fomos colando os pedaços e unindo os relatos. As pessoas queriam a verdade. O corpo foi localizado alguns anos depois e lembro de ter ido fazer o reconhecimento acompanhada com o dentista que cuidou dele na infância”.

O secretário da SMDHC, Felipe de Paula, encerrou o debate com a lembrança de ações da secretaria como o Cine Direitos Humanos e Grupo de Trabalho para identificação das Ossadas de Perus. “A gente precisa conhecer nossa história para não deixar que isso se repita. As pessoas continuam morrendo por causa da cor da pele e por onde moram e isso não pode acontecer”.

A exposição é gratuita e pode ser visitada de terça a sábado, das 10h às 17h, na Avenida Inácio Monteiro, 6900, Cidade Tiradentes.