Prefeitura faz coleta de DNA para identificar vítimas da ditadura na Vala de Perus

O regime militar usou a vala clandestina para sepultar desaparecidos políticos que assassinou

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) da Prefeitura de São Paulo cumpriu mais uma etapa da coleta de DNA de familiares de mortos e desaparecidos políticos sepultados na Vala clandestina de Perus. Nesta etapa foram coletadas as amostras sanguíneas dos familiares de Francisco José de Oliveira, Ana Rosa Kucinski, Heleny Guariba e Elson Costa. A partir destas amostras será possível fazer a comparação genética do DNA dos familiares com as ossadas, a fim de averiguar se elas são restos mortais dos desaparecidos e mortos políticos assassinados pela ditadura civil-militar (1964-1985).

Esta etapa de coleta de DNA, acompanhada pela Coordenação do Direito à Memória e a Verdade da SMDHC, foi realizada por uma das frentes de atuação do Grupo de Trabalho de Perus (GTP), instituído pela Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal para identificar e analisar as ossadas do cemitério clandestino. Criado em 2014, o GTP conta com psicólogos, arqueólogos e antropólogos forenses e é responsável pela análise das mais de mil ossadas encontradas no Cemitério Dom Bosco, onde está localizada a Vala.

O trabalho de coleta que pode levar a identificação das ossadas é feito numa parceria da SMDHC com a UNIFESP e com a Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça (Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos). A Secretaria da Prefeitura de São Paulo através de sua Coordenação de Direito à Memória e à Verdade, lidera o Comitê Gestor do GTP. É responsável, assim, pelo levantamento de dados dos desaparecidos, oferecendo subsídios que auxiliam na investigação.

Vala Clandestina de Perus

Na vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus, aberta em 1990, foram descobertas mais de mil ossadas. Entre esses restos mortais, acredita-se haver desaparecidos políticos da ditadura civil-militar, indigentes e vítimas de grupos de extermínio que atuaram em São Paulo nos anos 1960 e 1970.

Em 2001, as caixas contendo os restos mortais do Caso Perus foram depositadas no Ossário Geral do Cemitério Araçá, onde ficaram até a transferência para o Laboratório do Centro de Arqueologia e Antropologia Forense (CAAF) da UNIFESP onde se encontram agora. Em julho de 2014, as ossadas voltaram a ser analisadas, com uma sistemática compilação de informações escritas e audiovisuais sobre o regime militar, a estrutura da repressão desencadeada por ele durante anos em São Paulo e sobre o próprio Cemitério Dom Bosco. 17 peritos trabalham diariamente no Laboratório e o trabalho é feito sob supervisão da Cruz Vermelha Internacional.

Essas informações possibilitaram chegar aos nomes das possíveis vítimas enterradas na Vala Clandestina, bem como reunir dados fundamentais para as análises antropológicas. Elas começaram em setembro de 2014, quando houve o transporte de 411 caixas do Ossário do Araçá para o Laboratório da UNIFESP. Para o mesmo local foram levadas também 22 caixas referentes ao Caso Perus, que se encontravam no Instituto Médico Legal (IML).