Movimento cobra transformação do prédio do DOI-Codi em Marco de Memória

Em sua terceira edição, o ato organizado pelo Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça lembrou vítimas da ditadura militar

O Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça realizou a 3ª edição do Ato Unificado: Ditadura Nunca Mais, nas instalações do antigo DOI-Codi, onde hoje funciona o 36ª Distrito Policial, localizado na Rua Tutóia. A iniciativa tem apoio da Coordenação de Direito à Memória e à Verdade (CDMV), vinculada à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, e do Núcleo de Preservação da Memória Política.

O objetivo do ato - realizado no sábado (14) - é reforçar a demanda dos movimentos da sociedade civil dedicados à luta por memória, verdade e justiça de que o local seja transformado em um marco de memória das vítimas da repressão e tortura durante o governo militar. O edifício, um dos principais centros de tortura montados pela ditadura no Brasil onde estima-se que tenham sido assassinados cerca de 50 militantes políticos, foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio, Histórico e Artístico do Estado de São Paulo, em janeiro de 2014, mas até hoje não há perspectivas da instalação de um memorial no local.

Manifestantes se reúnem em frente ao edifício do antigo DOI-Codi

A manifestação contou com cerca de 150 participantes, entre ex-presos políticos, familiares de mortos e desaparecidos políticos, bem como de jovens pesquisadores e coletivos dedicados ao tema. A ação teve início na Praça Santíssimo Sacramento, com apresentação do Coro Luther King, Coro Canto Sospeso (Itália) e do Coral Infantil Lazi, com a regência do Maestro Martinho Lutero, e se dirigiu em cortejo até a Rua Tomaz Carvalhal, por onde entravam os resistentes capturados clandestinamente pela polícia e de onde é possível avistar as salas de tortura.

“Todos os anos nos reunimos neste local para lembrar à população e aos vizinhos que este prédio representa um marco de memória, que não pode ser esquecido. Esperamos a adesão de todos à iniciativa de celebrar a vida neste mesmo lugar que foi de morte. E para relembrar que a iniciativa de tombamento deste lugar foi uma decisão histórica que não pode ser relegada a um segundo plano”, defende José Luís Del Roio, representante do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça.

“São Paulo infelizmente é uma das cidades onde mais se perseguiu e matou pessoas durante o regime militar – quase um 20% dos mortos e desaparecidos políticos foram assassinados aqui. Por isso evidentemente está repleta de lugares que carregam muitas memórias desse período. É fundamental ressignificar esses espaços de dor e de morte, para que a cidade possa contar sua própria história e para os que não necessariamente viveram o período possam conhecer o que aconteceu e não deixar que se repita. Esse é um dos compromissos centrais da nossa Coordenação”, afirma Carla Borges, coordenadora da CDMV.

Ao final do ato, os presentes depositaram rosas vermelhas em frente ao 36º. Batalhão, rememorando os nomes dos que ali foram detidos e assassinados.

A preservação dos locais de memória é uma recomendação do Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3) e, posteriormente, foi inserida no relatório final da Comissão Nacional da Verdade para que as violações aos direitos humanos, ocorridas ao longo dos 21 anos de ditadura civil-militar não voltem a se repetir.