Exposição revela obra inédita de artista assassinado por agentes da ditadura militar

Após quase dois anos de pesquisa foram identificadas cerca de 200 obras de Antonio Benetazzo

Começa amanhã (01) no Centro Cultural São Paulo, às 19h, a exposição "Antonio Benetazzo, permanências do sensível". É a mais completa mostra da desconhecida obra deste artista plástico, morto brutalmente pela ditadura militar, em 1972. A exposição, com curadoria de Reinaldo Cardenuto, fica aberta até o dia 29 de maio.

Dividida em seis partes que revelam os eixos temáticos e as variedades estilísticas do autor, a mostra reúne o maior número de obras de Benetazzo já encontradas – todas espalhadas em casas de amigos e parentes. A exposição coroa o inédito projeto desenvolvido desde 2014 pela Coordenação de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo (CDMV/SMDHC).

Na mostra o público poderá conhecer cerca de 90 obras, incluindo os desenhos realizados em 1971, quando esteve na clandestinidade, alguns estudos, além de objetos pessoais e cópias do jornal Imprensa Popular, publicação oficial do Movimento de Libertação Popular (MOLIPO), redigido por Benetazzo. A exposição tem, ainda, parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, o Centro Cultural São Paulo e conta com apoio do Instituto Vladimir Herzog.

“O projeto tira da clandestinidade a desconhecida obra artística de um importante militante político. Ao mesmo tempo, é também uma forma de reparação histórica”, salienta Marie Goulart, assessora da Coordenação de Direito à Memória e à Verdade da SMDHC.

Além da exposição, a pesquisa sobre a obra e vida de Benetazzo deu origem também ao documentário "Entre Imagens – (Intervalos)", filme-ensaio dirigido por André Fratti Costa e Reinaldo Cardenuto. O filme foi recentemente exibido na 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, onde se destacou e recebeu elogios de críticos e do público. O projeto resultará também na publicação de um livro com artigos da curadoria, de especialistas e reproduções das obras selecionadas para a exposição. 

“Estamos diante de uma bela obra, a transitar por diferentes estilos e a propor olhares ainda desconhecidos sobre o Brasil do regime militar. É imprescindível destacar que ele foi um grande artista, autor de um projeto estético singular”, afirma o curador Reinaldo Cardenuto.

A exposição, o documentário e o livro relembram que a ditadura não só impediu a produção e circulação de obras críticas contra o regime, mas atacou e prejudicou a sociedade como um todo. Um dos principais objetivos da mostra, além de inserir Benetazzo na História da Arte brasileira, é incentivar os visitantes – principalmente aqueles que não vivenciaram o período da ditadura – a refletir sobre o regime autoritário para que o conheçam e não deixem que essa violenta história se repita.

O artista
Uma das fases mais intensas da trajetória artística de Benetazzo ocorreu na segunda metade da década de 1960. Naquele período, professor de Filosofia e de História da Arte no Cursinho Universitário e no Instituto de Arte e Decoração (Iadê), ele compôs mais de 150 obras, com estilos, motivos e técnicas os mais variados.

Dessa época datam autorretratos, retratos de familiares e de amigos, representações do corpo e da sexualidade feminina, abstrações realizadas com cores vibrantes, colagens pop a partir de material publicitário e nanquins, em diálogo com a estética visual dos ideogramas. Benetazzo se dedicou, ainda, à fotografia, incluindo vistas da cidade de Caraguatatuba, detalhes da arquitetura paulistana, cliques de banners espalhados por São Paulo e retratos de populares na rua.

O militante
Simultaneamente às atividades artísticas, Benetazzo ampliou o seu engajamento político. De 1965 em diante, rompeu com o Partido Comunista Brasileiro (PCB) – por ser contra a linha “pacifista” e institucional de resistência aos militares adotada pelo Partidão – e se aproximou da luta armada contra a ditadura. Primeiro se envolveu com a Dissidência Universitária de São Paulo (DISP) e depois, a partir de 1968/69, com a Aliança Libertadora Nacional (ALN). Em 1968, Benetazzo ajudou a organizar o 30º congresso da UNE, em Ibiúna (SP).

Ingressando na clandestinidade em 1969, quando militava na ALN, Benetazzo mudou-se para Cuba onde adquiriu treinamento de guerrilha. Ainda em Cuba, ajudou a fundar um novo grupo de esquerda, o Movimento de Libertação Popular (MOLIPO), que a partir de 1971 passou a realizar várias ações revolucionárias em luta contra o regime militar.

Retornou secretamente ao Brasil na segunda metade de 1971, quando continuou atuando na clandestinidade e ajudou a desenvolver inúmeras ações políticas pelo MOLIPO. No decorrer de 1972, redigiu praticamente todos os textos do Imprensa popular, jornal oficial do MOLIPO, no qual denunciava a ditadura e defendia a luta armada como projeto de resistência contra o regime militar. Capturado por agentes da repressão no dia 28 de outubro de 1972, dois dias depois foi brutalmente assassinado a pedradas, no Sítio 31 de Março, em Parelheiros.

 

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Exposição: Antonio Benetazzo, permanências do sensível
Abertura - dia 1 de abril, às 19h
Duração da mostra - 10 de abril a 29 de maio de 2016
Centro Cultural São Paulo – Piso Flávio de Carvalho
Rua Vergueiro, 1000