Ciclo de oficinas em Direitos Humanos reúne cerca de 700 educadores da Secretaria Municipal de Educação

Profissionais da educação refletiram sobre novas práticas pedagógicas ancoradas no exercício dos Direitos Humanos e no Direito à Memória e à Verdade.

Aproximadamente 700 educadores da rede municipal participaram do primeiro ciclo de oficinas de Educação em Direitos Humanos realizadas durante os meses de maio, junho e julho em todas zonas da cidade e que contou com encontros dedicados ao Direito à Memória e à Verdade sobre o período da ditadura militar de 1964. O projeto é fruto de uma parceria entre as coordenações de Direito à Memória e à Verdade e Educação em Direitos Humanos, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), e as Diretorias Regionais de Ensino (DREs), da Secretaria Municipal de Educação (SME). Até o momento, foram realizadas seis oficinas que mobilizaram as diretorias da Freguesia/ Brasilândia, Pirituba, Penha, Itaquera e Campo Limpo

Com base no Plano Nacional de Educação (PNE) em Direitos Humanos, o curso é dividido em três módulos que, sob diferentes vieses, abordaram conceitos fundamentais e exemplos históricos de violações que suprimiram e até hoje ainda se interpõem à construção de uma cultura de direitos humanos.

Saiba mais sobre os três módulos do curso: http://goo.gl/rO3Fou

Consagrado ao direito à memória e à verdade, o último módulo oferece um panorama histórico sobre os anos em que o país esteve sob o comando da ditadura militar. Além da contextualização histórica, são apresentados diferentes canais, recursos e materiais que, por meio de várias linguagens, permitem que o educador aprofunde seus conhecimentos e reflita sobre o período e sobre o legado da ditadura no presente.

Com o lema “Conhecer para não repetir” e uma aposta no potencial da educação para fortalecer a democracia, a partir do conteúdo formativo, os educadores são estimulados a conceber ações em sala de aula e em suas comunidades.

Carla Borges, coordenadora de Políticas pelo Direito à Memória e à Verdade da SMDHC, acredita na importância de incluir o debate e levar a memória dos acontecimentos e violações cometidas na ditadura para as escolas e as comunidades. “Não apenas os familiares de mortos e desaparecidos e ex-presos políticos, mas toda a sociedade de São Paulo têm direito a conhecer a verdade histórica sobre esse período e exercer seu direito à memória e à verdade”.

A ditadura marcou a relação dos paulistanos com a cidade tanto de forma física quanto simbólica. Ao refletir sobre o legado de medo e violência deixado pelo regime militar, os educadores da DRE da Freguesia/Brasilândia lançaram a proposta de realizar um seminário que reflita sobre a violência policial. “Eu era adolescente, no início dos anos 80. Eu não podia sair de casa sem a carteira de trabalho para não ser preso”, relata o professor José Antônio da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Geraldo Sesso Júnior.

Os encontros provocaram debates e envolveram os professores até tarde da noite, após suas jornadas de trabalho. No CEU Pêra Marmelo foram reunidos cerca de 250 educadores na manhã de sábado para participar da formação que contou com a presença da ativista, resistente e ex-presa política Amelinha Telles. Amelinha falou sobre sua experiência de luta e lembrou os efeitos que as violações cometidas pelos militares tiveram na sociedade. “A tortura teve e tem um efeito negativo não só na pessoa que sofre a tortura”, disse ela. “O crime da tortura é imprescritível, é lesa-humanidade porque afeta todo o raciocínio e a alma de um povo. Ele rompe com um dos laços mais importantes que nós temos que é a solidariedade”. E concluiu: “a nossa ignorância política nos leva a reproduzir aquilo que foi fortemente imposto a nós há tantos anos atrás”.

Para muitos dos participantes, os encontros revelaram-se, além de espaço de aprendizado, como convite ao compartilhamento de angústias e outras inquietações. “Eu fico pensando se nós fôssemos jovens, o que faríamos naquele período? Onde estaríamos? Quantos amigos perderíamos? Ou se fôssemos os pais e eles fossem nossos filhos... Sabe aquela coisa do humano, de se colocar no lugar (do outro)?”, refletiu Miriam, da DRE Penha, durante o módulo voltado ao Direito à Memória e à Verdade realizado na UNICID.

“Eu nasci em 70 e meu pai não tava lá“, desabafou a professora Roseane, que atua em Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) da DRE Itaquera. “Meu pai foi vereador na Bahia. E quando eu era pequena, ele falava pra mim: ‘quando você nasceu eu não estava lá’. Ele fava que a principio tinham pego ele uma vez e falaram que ele estava envolvido com Carlos Prestes. Meu pai nem sabia o que era isso ou quem era essa pessoa. Depois falaram que ele era comunista, mas ele não sabia também o que era comunismo”.

No encerramento da oficina, cada educador se comprometeu a entregar o Kit-DMV que recebera ao final da formação em sua unidade de ensino, compartilhando com os colegas o conteúdo e a experiência. Composto por publicações diversas, o conjunto de materiais de referência oferece aos professores a oportunidade de conhecerem mais sobre os temas apresentados, permite o trabalho em sala de aula e nas comunidades.

Saiba mais sobre o KIT-DMV:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/direito_a_memoria_e_a_verdade/noticias/?p=176610

Para o início do segundo semestre já estão previstas pelo menos cinco oficinas de formação e alguns seminários junto a outras Diretorias Regionais de Educação.