Projeto “Ruas de Memória” exige alteração dos nomes de ruas que homenageiam agentes da ditadura

Intervenção pública na avenida que leva o nome do general Golbery é a primeira de uma série de mobilizações

Acontece neste domingo, dia 31, na zona sul de São Paulo, a primeira intervenção pública “Ruas de Memória”, projeto criado para promover o debate público sobre os crimes da ditadura civil-militar a fim de alterar, definitivamente, o nome de espaços públicos que homenageiam torturadores e violadores dos direitos humanos que agiram durante este período da história.

A mudança depende de Projetos de Lei que precisam ser aprovados pela Câmara de Vereadores do município. Para que a lei se efetive, a Coordenação de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), responsável pela iniciativa, tem criado estratégias, em diálogo com a sociedade civil, para sensibilizar a população sobre a importância de retirar esses símbolos da cidade.

Para Clara Castellano, coordenadora-adjunta de Direito à Memória e à Verdade, “retirar este tipo de homenagem de nossos espaços públicos é, em primeiro lugar, uma forma de reparação simbólica importantíssima para as vítimas diretas desses crimes que até hoje não viram seus algozes sendo julgados e punidos”. A mudança também busca trazer à tona, para toda a sociedade, a verdade histórica sobre fatos e personalidades daquele período e reconstruir a memória histórica da cidade a partir da valorização da cultura democrática e de promoção dos direitos humanos.

“É inaceitável que pessoas que comprovadamente cometeram crimes de lesa-humanidade continuem sendo colocadas, simbolicamente, como referências nacionais em locais de destaque da cidade”, diz Castellano.

Avenida General Golbery Couto e Silva

A primeira mobilização do “Ruas de Memória” está marcada para o próximo domingo (31/5). A concentração se inicia às 14 horas, na avenida que leva o nome do general Golbery do Couto e Silva, reconhecido ideólogo da ditadura militar e chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), um dos principais instrumentos de espionagem da repressão. Ali será realizado um grande sarau com o tema “Violência de Estado Ontem e Hoje”.

Para os organizadores do encontro, a violência praticada pela ditadura civil-militar deixou marcas físicas e simbólicas nos espaços públicos da cidade. A cultura do medo, gerada pelas constantes perseguições políticas, endureceu São Paulo e fez com que as ruas deixassem de ser lugares de expressão da cidadania, do encontro e da coletividade.

Realizar intervenções públicas nestes lugares que perpetuam nomes de violadores é, portanto, uma forma de chamar atenção da comunidade local sobre a violência que estes nomes carregam e a importância simbólica da alteração. Coletivos como o Imargem e movimentos literários como Praçarau, A Voz do Povo, Sarau Magoma, Jaçarau, Verso em Versos, Sarau do Pira, Preto no Branco (coletivo Tamo Vivo), Sarau do Mercado, A Plenos Pulmões e Sarau Candeeiro participam da ação.


Serviço:
Ruas de Memória: sarau artístico – violência de Estado ontem e hoje
31/5, domingo, 14h
Avenida Golbery Couto e Silva, 94, Jardim Lucélia - Grajaú 
Ref.:próximo ao Centro de Promoção Social Bororé)