Cinedebate sobre a ditadura compõe programação da ação Prefeitura no Bairro, no Butantã

Após exibição do documentário “Cidadão Boilesen”, de Chaim Litewski, estudantes e comunidade local participaram de debate com Anivaldo Padilha

Na quarta-feira, 15 de abril, a Coordenação de Direito à Memória e à Verdade (CDMV) da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) promoveu,  em parceria com a Diretoria Regional de Educação do Butantã e com o CEU Uirapuru, um debate com estudantes e comunidade local sobre o obscuro período da ditadura militar (1964-1985).

A programação integrou a ação Prefeitura no Bairro, uma iniciativa coordenada pela vice-prefeita Nádia Campeão que combina ações de zeladoria e serviços com políticas públicas das várias áreas de governo em diversos bairros da cidade, buscando fortalecer o trabalho integrado do governo local nas Subprefeituras.

Foi exibido o documentário “Cidadão Boilesen”, de Chaim Litewski, que trata do controverso empresário Henning Albert Boilesen. Presidente do grupo Ultra, Boilesen foi um influente empresário no Brasil e um dos primeiros a financiar o aparato político-militar da ditadura militar por meio da Operação Bandeirante (OBAN), chegando inclusive, segundo relatos, a frequentar sessões de tortura.

Depois da exibição do documentário, aconteceu uma roda de conversa que contou com a participação de Anivaldo Padilha. Resistente à ditadura e representante do Conselho Mundial das Igrejas nos anos 70, Anivaldo Padilha foi fundamental na luta contra a tortura, e colaborou com o debate compartilhando a experiência de alguém que viveu, na própria pele, a violência daquele período.

 

Um aspecto muito debatido foi como os “anos de chumbo” deixaram profundas marcas na cidade de São Paulo e na própria dinâmica de socialização da população. A existência de logradouros que homenageiam violadores de direitos humanos no município, e mais especificamente uma rua (localizada na própria zona oeste) que homenageia Henning Boilesen, evidencia a necessidade de realizarmos o resgate da memória e do que de fato significou aquele período e as diversas violações aos direitos humanos cometidas pelo Estado.

“Além de representar uma reparação simbólica fundamental às vítimas diretas desses atos, alterar estas homenagens é também importante para trazer à tona a verdade dos fatos e personagens da ditadura. É inaceitável que pessoas que notadamente cometeram crimes continuem a ser reverenciadas como referências nacionais em locais de destaque de nossos espaços públicos”, aponta Clara Castellano, coordenadora-adjunta da CDMV, que coordena o eixo de ocupação dos espaços públicos por memória e verdade.

A alteração dos nomes desses logradouros é uma ação prioritária da Coordenação de Direito à Memória e à Verdade em 2015 e será construída em parceria com o legislativo e com ampla participação das comunidades locais.