Ato no Ibirapuera relembra data histórica com música e poesia

Familiares e militantes de direitos humanos participaram de homenagem aos mortos e desaparecidos políticos que lutaram pela democracia

Com o objetivo de relembrar a data do golpe civil-militar de 1964, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) promoveu na noite de 1º de abril um ato em memória a todos aqueles que lutaram e morreram pela democracia no Brasil. “É uma data que não passa despercebida por quem viveu esse período, mas que também não pode ser esquecida por quem não viveu. Um país e uma cidade sem memória está fadada a repetir os erros do passado”, disse Carla Borges, coordenadora de Direito à Memória e à Verdade da SMDHC.

O ato teve início no foyer do Auditório Ibirapuera com participação de Criméia de Almeida, militante que integrou a guerrilha do Araguaia, foi detida por sua atuação política e teve familiares mortos pelas forças do regime militar. Criméia fez a leitura de uma poesia de Julio Fuchik, militante da antiga Tchecoslováquia preso pela Gestapo, em 1942, e condenado à morte pelos tribunais nazistas. Para ela, relembrar a data do golpe é algo importante para os familiares que perderam entes durante a repressão e até hoje clamam por justiça. “Essa lembrança visa resgatar não só a história dessas pessoas que lutaram pela liberdade, mas também punir os responsáveis, para que nunca mais se repitam esses atos no Brasil”.

A homenagem contou com uma emocionante apresentação do Coro Luther King, que abriu a apresentação com a música “Acordai”, tema popular do português Fernando Lopes Graça, composta em alusão a Revolução dos Cravos. “As músicas foram escolhidas porque nossa intenção era colocar o dedo na ferida”, explicou Sira Milani, coordenadora da Rede Cultural Luther King. “Um ato como esse é importante e nos emociona. Do ponto de vista musical, uma situação como esta reforça o nosso estímulo e desejo de comunicar uma mensagem ao público. O discurso musical nunca é vazio. Ele jamais vai estar isento de um posicionamento histórico e político”, concluiu Sira.

Eduardo Suplicy, secretário de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, destacou a relevância do ato e a necessidade de se reforçar as instâncias democráticas do país. “É importante relembrarmos o dia 1º de abril como uma data de episódios extremamente tristes, que fizeram com que perdêssemos tantas pessoas. E também lembrar o quanto precisamos fazer com que a democracia e a liberdade estejam sempre existindo e sendo aperfeiçoadas”.

Rogério Sottili, secretário-adjunto da SMDHC, manifestou a preocupação com o presente e o futuro do Brasil, contextualizando com as recentes manifestações que pedem intervenção militar no país. “Este ato é uma homenagem a todos os mortos e desaparecidos políticos e seus familiares, mas é também uma homenagem a todos aqueles que seguem lutando para que os atos da ditadura nunca mais se repitam no nosso país”, declarou Sottili.

Ao término da apresentação do Coro Luther King, cerca de 100 pessoas presentes caminharam em cortejo até o Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos da Ditadura, instalado em frente ao Portão 10 do Parque Ibirapuera. A escultura foi criada em 2014 por iniciativa da Coordenação de Direito à Memória e à Verdade da Prefeitura de São Paulo. A obra traz os nomes de todos os mortos e desaparecidos políticos do período da ditadura civil-miliar de que se tem conhecimento até hoje.

Ao chegarem no monumento, os participantes depositaram velas e rosas brancas, em meio a cartazes com os rostos de dezenas de mortos e desaparecidos políticos. Os nomes de algumas vítimas da ditadura foram lembrados em voz alta com resposta em coro: presente!