Escolas municipais receberão materiais sobre a ditadura civil-militar

Livros, filmes, documentos oficiais e jornalísticos serão enviados às escolas para auxiliar o professor na abordagem do tema em sala de aula

A Coordenação de Direito à Memória e à Verdade (CDMV) da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) entregará às escolas municipais uma seleção de publicações e documentários sobre a ditadura civil-militar no Brasil, como forma de complementar os materiais didáticos nessa frente. Serão distribuídos 1.000 kits às escolas que participarem de formações para gestores escolares, professores, bibliotecários e responsáveis pelas salas de leitura, organizadas em parceria com a Secretaria Municipal de Educação.

Distribuídos como parte das ações da SMDHC em memória dos 50 anos do golpe de 1964, os livros e documentários buscam a ampliação do conhecimento sobre as graves violações de direitos humanos praticadas durante a ditadura civil-militar, incorporando no cotidiano escolar reflexões sobre esse período histórico e suas implicações nos dias atuais.

Com depoimentos de familiares de desaparecidos e militantes resistentes que sobreviveram ao período, o material aborda os fatos que marcaram o regime de maneira aprofundada e sensível, permitindo aos professores explorarem outros recursos e linguagens para tratar desse momento sombrio da história brasileira.

“O objetivo desta ação é fazer chegar às escolas um conjunto de materiais de referência já disponíveis, a fim de subsidiar o trabalho dos educadores em sala de aula sobre o tema e complementar o material didático”, diz Carla Borges, coordenadora de Direito à Memória e à Verdade da SMDHC.

A entrega dos materiais está vinculada à participação em encontros formativos de educadores, com a presença de diretores e autores das publicações, bem como de resistentes que viveram esse período. As formações terão um total de 8 horas, com pontuação para a progressão profissional dos professores, e estão previstas para outubro e novembro.

A seleção de materiais

 - Arte do cinquentenário, assinada por Elifas Andreato

O cartaz criado para relembrar os 50 anos do golpe de 1964, por iniciativa da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), foi desenhado pelo artista plástico e jornalista Elifas Andreato, importante ilustrador brasileiro que protestou, por meio da arte, contra a ditadura civil-militar. O artista explica que, na concepção artística, procurou ser o mais direto possível e refletir o sofrimento da época, mas fugindo do modelo de panfleto político, com um desenho moderno e ao mesmo tempo contundente.  “O olhar presente no cartaz representa uma visão atenta às graves violações contra os direitos humanos praticadas durante a repressão e um alerta, um chamado por vigilância para os dias de hoje, para que períodos como aquele não se repitam”, explica Elifas.

 - 'O dia que durou 21 anos', de Camilo Tavares (2013, 77 min.)

O filme foca o dia do golpe civil-militar de 1964 e revela, com base em documentos oficiais da CIA e áudios originais da Casa Branca, como os presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson articularam o plano civil e militar que derrubou o presidente João Goulart, eleito pelo voto popular.

 - '1964 - um golpe contra o Brasil', de Alípio Freire (2012, 135 min.)

A partir de depoimentos de resistentes e especialistas do tema, o filme discute o golpe civil-militar que derrubou o governo do presidente João Goulart.

 - 'Verdade 12.528', de Paula Sacchetta e Peu Robles (2013, 55 min.)

O documentário, cujo nome se refere à lei que criou a Comissão Nacional da Verdade, aprofunda o debate sobre as expectativas em relação a essa Comissão, por meio de uma série de relatos e depoimentos de quem viveu o período ditatorial. O filme traça um paralelo entre a violência de Estado daquela época e os dias atuais, mostrando como a impunidade daqueles que participaram do sistema repressor estimula e encoraja as violações por parte dos agentes de Estado hoje.

 - Curtas-metragens do Festival ENTRETODOS sobre direito à memória e à verdade

Seleção especial com todos os curtas sobre o tema exibidos nas seis edições anteriores do Festival: 'Ato Institucional' (2012), 'Preto ou branco' (2013), 'Sr. Kleidemann' (2010), 'Salmon' (2013) e 'Aranceles' (2009, 15min).

 - 'A Constituição de 1988, 25 anos. A construção da democracia e liberdade de expressão: o Brasil antes, durante e depois da constituinte' (Editora Instituto Vladimir Herzog)

O livro mostra como, nos últimos 25 anos, as liberdades e os direitos garantidos pela Constituição contribuíram para o aprimoramento da democracia, ainda que persistam graves problemas econômicos, sociais e políticos, principalmente no que se refere ao funcionamento dos partidos e do Congresso Nacional.

 - 'Vala clandestina de Perus – desaparecidos políticos, um capítulo não encerrado da história brasileira' (Editora Instituto Macuco)

A descoberta da vala clandestina no Cemitério Dom Bosco, bairro de Perus, no começo dos anos 90, e o trabalho da CPI instalada na Câmara Municipal de São Paulo para investigar a origem das mais de mil ossadas ali encontradas são retratados com detalhes pela publicação organizada pelo Instituto Macuco, como fruto do projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

 - 'K, relato de uma busca' (Editora Cosac Naify)

Aclamado pela crítica e finalista dos prêmios Portugal Telecom e São Paulo de Literatura de 2012, o livro é o romance de estreia do jornalista Bernardo Kucinski, que conta a história de um pai em busca da filha que desapareceu, como tantos outros, durante a ditadura no Brasil. A narrativa é composta de capítulos quase independentes, apresentando vários ângulos de uma mesma história, uma história de ausência e de impunidade.