Ministra Ideli Salvatti e secretário Rogério Sottili anunciam a retomada da identificação das ossadas da vala de Perus

Análise dos restos mortais encontrados no Cemitério Dom Bosco é uma das mais significativas reivindicações de familiares de mortos e desaparecidos políticos da ditadura civil-militar

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) anunciaram nesta quinta-feira, dia 15, em São Paulo, a retomada da identificação das 1.049 ossadas encontradas, em 1990, na vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus. A análise das ossadas é uma das mais significativas reivindicações de familiares de mortos e desaparecidos políticos da ditadura civil-militar (1964-1985).

No dia 22, a SDH/PR lançará um edital que permitirá a contratação dos peritos brasileiros responsáveis pela identificação. E o Ministério da Educação (MEC) repassará à UNIFESP verba para locação, durante três anos, do imóvel onde será feita a análise das ossadas, além de eventuais reformas. O MEC garantirá também, por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a contratação de peritos estrangeiros, do Peru e da Argentina.

Conforme o protocolo de intenções assinado no dia 26 de março entre a SMDHC, a SDH/PR, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), prevendo as ações e responsabilidades de cada signatário, caberá à SMDHC acompanhar todas as etapas do trabalho de análise e identificação dos restos mortais encontrados no Cemitério Dom Bosco; auxiliar a CEMDP na viabilização das condições técnicas necessárias para a identificação, sobretudo no que se refere à coleta dos dados ante mortem; garantir a participação de familiares de mortos e desaparecidos políticos em todas as etapas do processo; e oferecer hospedagem para as equipes internacionais que participarão das atividades.

Na reunião de quinta-feira, a ministra Ideli Salvatti, da SDH/PR, disse que a identificação das ossadas será tratada com a devida seriedade. "Minha primeira audiência na SDH foi a respeito das ossadas de Perus e tenho bem claro que esta será uma das prioridades em meus poucos meses de mandato", afirmou.

Segundo o secretário de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Rogério Sottili, a identificação das ossadas de Perus é uma ação central em sua gestão. "Esse tema representa uma dívida histórica do Estado perante os familiares, que não podem mais esperar. Para nós, esta é uma questão central", reforçou.

O secretário anunciou que o deputado federal Renato Simões (PT/SP) disponibilizou para a SMDHC uma emenda parlamentar que, caso aprovada, garantirá a hospedagem dos peritos internacionais na Cidade e cobrirá despesas de viagens para a coleta de dados ante mortem. “Esse é o passo mais importante dos últimos 20 anos no caminho da identificação das ossadas de Perus. Um passo que poderá trazer a paz para muitos familiares e contar uma história jamais contada", disse Sottili.

Denise Fon, representante do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, agradeceu a determinação de todos e relembrou os desafios do processo em mais de 20 anos, cobrando informes periódicos sobre todas as etapas. "Gostaríamos de ter reuniões periódicas para sermos informados de tudo o que está acontecendo."