Espetáculo teatral recupera obras censuradas pela ditadura

Peça 'Liberdade é pouco' é um dos destaques da programação do Festival de Direitos Humanos e busca devolver à sociedade um pouco da riqueza cultural banida da época da ditadura

O espetáculo ‘Liberdade é pouco’, que integra o Festival de Direitos Humanos – Cidadania nas Ruas, começou nesta quarta-feira, dia 11, na escadaria do Teatro Municipal, no centro, emocionando o público com uma adaptação livre do texto “Liberdade Liberdade”, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, censurado pela ditadura civil-militar (1964-1985).

A peça transita por espaços, tempos, depoimentos e narrativas musicais que compõem um pequeno inventário reflexivo sobre um período histórico marcado pela repressão política, que resultou em um enorme número de mortos e desaparecidos e que, lamentavelmente, culmina em uma realidade que se repete e se reinventa nos massacres, chacinas e assassinados de jovens que vivem nas regiões periféricas das cidades.

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Assim, além das graves violações aos direitos humanos cometidas no período da repressão, o espetáculo trata do genocídio da juventude negra nas periferias das metrópoles. “O desafio é conseguir falar para todos os públicos, estabelecer um paralelo sobre a censura e a tortura com os dias atuais, como os assassinatos de jovens nas periferias e os autos de resistência”, diz o dramaturgo Dorberto Carvalho, responsável pela adaptação do texto histórico.

Do teatro municipal, o espetáculo segue em cortejo musical até o Vale do Anhangabaú, atraindo quem passa pela região. Observando com atenção, o músico Thomas, de 25 anos, ressaltou a importância de a peça ocupar as ruas. “Em tempos em que cada vez mais somos levados a consumir arte em shoppings, galerias ou até dentro de casa, é importantíssima a expressão artística na rua.”

Rudifran Pompeu, diretor da peça, também enfatizou a questão da ocupação do espaço público. “Temos de voltar para as ruas e resgatar questões históricas que muita gente não sabe. Durante muito tempo, existiu a privação da cultura. Agora, não só podemos como devemos manter esse acesso livre o tempo todo.”

A ideia do projeto partiu do ator Celso Frateschi, buscando devolver à sociedade um pouco da imensa riqueza cultural banida do período ditatorial. O elenco conta com alguns artistas que vivenciaram a censura e a perseguição política.

As intervenções teatrais acontecem até sexta-feira, dia 13, sempre às 19h, partindo do Teatro Municipal.

 

'Liberdade é pouco'
Saída dos balcões do Teatro Municipal (Praça Ramos de Azevedo, s/n) com cortejo até o Vale do Anhangabaú
De 11 a 13/12
Às 19h

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Foto: Paulo Pereira/Estúdio Luzia