Pavilhão do Ibirapuera recebe exposição ‘Puras Misturas’

Exposição com curadoria de Adélia Borges e coordenação do Departamento do Patrimônio Histórico anuncia a criação do futuro Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque Ibirapuera. A mostra gratuita celebrou a riqueza e a diversidade da cultura do Brasil ao apresentar peças de arte erudita, popular e indígena que dialogam entre si.

A Prefeitura de São Paulo inaugurou no dia 11 de abril de 2010, a exposição “Puras Misturas”, que anunciou a criação do Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque Ibirapuera. A futura instituição ocupará o Pavilhão Engenheiro Armando Arruda Pereira, um edifício de 11 mil metros quadrados projetado por Oscar Niemeyer nos anos 1950, tombado pelos órgãos de patrimônio histórico municipal, estadual e federal. Depois de sediar eventos como a Bienal de Artes de São Paulo (1953) e o Pavilhão dos Estados durante o IV Centenário de São Paulo (1954), o prédio deixou de ser utilizado como espaço cultural para abrigar, por quase quatro décadas, a Prodam (Companhia de Processamento de Dados do Município de São Paulo) e agora retorna a sua vocação original.

A Exposição de Lançamento da Instituição

Em “Puras Misturas”, os visitantes conheceram uma parte do acervo do futuro museu.  Foram exibidas peças de arte erudita, popular e indígena adquiridas recentemente pela Secretaria Municipal de Cultura, por meio do Departamento do Patrimônio Histórico, ou vindas de outras coleções públicas, com destaque para o acervo do antigo Museu do Folclore Rossini Tavares de Lima, que desde o ano passado pertence à Secretaria e a Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade. A curadoria geral é de Adélia Borges, e Cristiana Barreto é a curadora geral adjunta.

A exposição celebrou a riqueza e diversidade da cultura do Brasil, apresentando um diálogo entre variadas formas de criação artística produzidas em diferentes tempos e lugares. “Ao construir diálogos entre as culturas letradas e iletradas, ou cultas e populares, foi possível evidenciar como ambas se alimentam mutuamente, num processo permanente de recriação e ressignificação, que acaba por tornar equívoca a própria oposição entre essas duas esferas”, afirma Adélia Borges.

A expressão “Puras Misturas”, cunhada pelo escritor João Guimarães Rosa em carta a um amigo, foi escolhida para esse projeto por sua afinidade com o conceito da exposição. “Tomamos emprestada essa expressão paradoxal e contraditória porque ela expressa com poesia a miscigenação que constitui a força maior da cultura brasileira. E esse processo é dinâmico, está sempre se reinventando”, diz Adélia.

Ocupando uma área de cerca de 2.500m2 contínuos, sem divisórias, a exposição se desdobrou em quatro módulos:

- Viva a Diferença!
Na entrada do Pavilhão, está uma instalação “usável” com 65 banquinhos (de um total de 88 que se revezarão durante a mostra), de variados formatos e materiais, onde os visitantes poderão sentar. São bancos confeccionados por povos indígenas, por comunidades artesanais de várias partes do país, por artesãos contemporâneos e por designers como Sergio Rodrigues, Carlos Motta, Marcelo Rosenbaum, Michel Arnoult, Nido Campolongo, Claudia Moreira Sales, Lina Bardi, Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki.

- Abre-Alas
Na sequência, esculturas e objetos utilitários conduziram os visitantes a uma viagem ao Brasil profundo. Nesse módulo estão obras de artistas como Bispo do Rosário (RJ), Getúlio Damado (RJ), José Francisco da Cunha Filho (PE), José Maurício dos Santos (CE), Mestre Fida – Valfrido de Oliveira Cezar (PE), Paulo Laender (MG), Tamba – Cândido Santos Xavier (BA) e Véio – Cícero Alves dos Santos (SE), entre outros.

- Da Missão à Missão
Uma linha do tempo, construída em um painel de 180 metros de comprimento, faz um histórico das principais iniciativas de difusão da diversidade da cultura brasileira. O painel terá início com a Missão de Pesquisas Folclóricas realizada em 1938 por iniciativa de Mário de Andrade, passando por nomes como Gilberto Freyre, Aloisio Magalhães e Lina Bo Bardi, até chegar ao projeto do Pavilhão, cuja missão será “pesquisar, registrar, salvaguardar e difundir a diversidade cultural brasileira”. Esse módulo contou com a participação de Vera Cardim na equipe de curadoria.

- Fragmentos de um Diálogo
Esse é o módulo propositivo do Pavilhão das Culturas Brasileiras. Com a participação de José Alberto Nemer na equipe de curadoria, o módulo teve manifestações culturais distintas que se sucederam num percurso contínuo, com caráter assumidamente fragmentário, como teasers de exposições a serem desenvolvidas pela instituição posteriormente.

Ele reúne obras de artistas “eruditos”, como Alex Flemming, Di Cavalcanti, Emmanuel Nassar, Farnese, Fulvio Pennacchi, Luiz Hermano, Mauro Fuke, Rubem Grilo, Samico, Tarsila do Amaral, Vicente Rego Monteiro Victor Brecheret, e “populares”, como Alcides Pereira dos Santos, Artur Pereira, J. Borges, José Antonio da Silva e Zé do Chalé. Entre os designers, há peças dos irmãos Campana, Ronaldo Fraga e Lino Vilaventura. A arte indígena estará representada com de diferentes povos, como os Mehinako, do Mato Grosso, os Tukano, do Amazonas, e Kadiweu, do Mato Grosso do Sul, além da produção artística marajoara.

Os três primeiros módulos ocupou o piso térreo do edifício e Fragmentos de um Diálogo o piso rebaixado.


O Futuro Pavilhão das Culturas Brasileiras

A revitalização do pavilhão Engenheiro Armando Arruda Pereira, necessária para abrigar a futura instituição do Pavilhão das Culturas Brasileiras, teve pré-projeto conceitual iniciado em 2008, sob a coordenação de Adélia Borges, com a participação de Cristiana Barreto, Marcelo Manzatti e Maria Lúcia Montes, entre outros colaboradores e consultores. Neste mesmo ano, o escritório de Pedro Mendes da Rocha foi contratado pela Secretaria Municipal de Cultura para elaborar projeto executivo de restauro e adequação fazer a adaptação do prédio ao uso museológico.

Para restaurar o pavilhão, a Secretaria Municipal de Cultura buscará recursos do governo estadual e federal para custear as intervenções de restauro das fachadas e cobertura; as obras internas e implantação de sistema de ar-condicionado e ventilação.

O Pavilhão abriga todo o acervo do antigo Museu do Folclore Rossini Tavares de Lima, que ocupava o prédio da Oca até 2000, quando foi transferido para a Casa do Sertanista em função da Mostra do Redescobrimento. A coleção, que passou por catalogação e higienização, conta com cerca de 3.600 objetos (cerâmicas, roupas, gravuras, pinturas, esculturas, etc.), 2.200 fotografias, 400 registros sonoros e 9750 livros e documentos. Todo o acervo já se encontra no edifício no Ibirapuera.

A Secretaria Municipal de Cultura irá centralizar no Pavilhão das Culturas Brasileiras outros acervos municipais que hoje se encontram dispersos à população, como a coleção da Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade, peças de Vitalino que se encontram na Biblioteca Mário de Andrade e obras de arte indígena do Museu da Cidade. Muitas delas se encontram há vários anos inacessíveis à população.

Além disso, há aquisição de novas peças, iniciada ano passado, com ênfase na contemporaneidade. Elas contemplam obras de artistas como Artur Pereira, Chico da Silva, GTO, Ulisses, Veio e Zé do Chalé; artefatos de povos indígenas de várias partes do país, como os Wajãpi do Amapá e os Kayapó Xikrin de Mato Grosso; peças de artesanato de comunidades de vários estados; e ainda peças de design popular, criadas por pessoas que driblam a miséria com alta inventividade.

“A iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura ao decidir criar o Pavilhão das Culturas Brasileiras foi o de dar visibilidade às preciosas coleções da Missão de Pesquisas Folclóricas e do Museu do Folclore, coligidas por Mário de Andrade e Rossini Tavares de Lima. E sobretudo o de atualizar o esforço notável desses intelectuais na fixação de uma arte espontânea que se confunde com o gesto criativo do artista brasileiro. Nesse percurso de mais de 70 anos, contribuíram decisivamente Lina Bo Bardi, cuja exposição ‘A mão do povo brasileiro’ marcou o imaginário de nossa geração, e Aloísio Magalhães, que via no design e na arquitetura o mesmo grau de invenção dos nossos mais autênticos artistas populares. A eles - e a seu legado - dedicamos a nova instituição”, diz o secretário Carlos Augusto Calil.

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