Inventário de Obras de Arte em Logradouros Públicos da Cidade de São Paulo

Monumento a Federico Garcia Lorca

Quem passa pela praça das Guianas, nos Jardins, pode observar uma escultura que se destaca na paisagem por suas cores e formas: o monumento a Federico Garcia Lorca (Fuentevaqueros, 1898 – Viznar, Espanha, 1936).

Exilados espanhóis, membros do Centro Cultural Garcia Lorca, resolveram homenagear o poeta morto por forças franquistas, sob acusação de ser comunista, durante a Guerra Civil Espanhola. Lorca, no entanto, não era vinculado a ideologias ou partidos políticos. Dizia-se um homem livre, sem preconceitos, que lutava contra a opressão e pelos direitos das minorias.

O escritor Paulo Duarte foi convidado a participar e colocou o Centro em contato com o escultor e arquiteto Flávio de Carvalho (Amparo da Barra Mansa, RJ, 1899 – Valinhos, SP, 1973). O projeto da escultura foi enviado à Serralheria Diana, de propriedade de espanhóis no bairro do Tatuapé, onde Flávio de Carvalho acompanhou sua execução passo a passo. Depois de pronta, a praça das Guianas foi escolhida para a implantação.

A cerimônia de inauguração, no dia 1º de outubro de 1968, foi prestigiada pelo poeta chileno Pablo Neruda, que fez um caloroso discurso elogiando o amigo Garcia Lorca e o autor da escultura. Uma exposição na Biblioteca Mário de Andrade e um espetáculo no Theatro Municipal com a participação de Chico Buarque, Geraldo Vandré, Sérgio Cardoso e outros completaram a homenagem, com repercussão internacional.

Na madrugada de 20 de julho de 1969, uma explosão danificou a escultura. Nunca se apurou o responsável pelo ato, que, no entanto, foi atribuído ao CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Folhetos deixados junto à obra informavam sobre a destruição do monumento ao poeta "comunista e homossexual", no dia da Revolução Cubana.

Os destroços da escultura foram levados a um depósito da Prefeitura. Em 1971, Flávio de Carvalho restaurou-a para levá-la à Bienal de Arte de São Paulo. Com muito custo e sem o apoio das autoridades responsáveis, conseguiu colocá-la do lado de fora do prédio da Bienal, no Parque Ibirapuera, onde ficou apenas dois dias. O embaixador da Espanha reclamou da presença da "escultura do comunista" e ela voltou ao depósito.

Dispostos a devolver a obra ao espaço público, alunos da Escola de Comunicações e Artes e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo falsificaram documentos e a roubaram em 1979. Durante três meses, trabalharam na sua recuperação e a depositaram no vão livre do MASP (Museu de Arte de São Paulo), estrategicamente, no dia em que o prefeito Olavo Setúbal participava de um evento no museu. Pietro Maria Bardi, diretor do MASP, e o prefeito não aprovaram o ato. Dias depois, finalmente, a obra foi reimplantada na praça das Guianas, seu local de origem.


Seção Técnica de Levantamentos e Pesquisa
Divisão de Preservação - DPH