Descontentes com o sistema educacional da época e com a situação social e política da França durante o governo do general Charles de Gaulle, estudantes parisienses realizaram um protesto que, mais tarde, recebeu a adesão de trabalhadores e culminou em um confronto entre 13 mil jovens e a polícia em 6 de maio de 1968. Para relembrar os 40 anos desse período turbulento, que ecoou em vários países do mundo, o Cine Olido, em parceria com a Cinemateca Brasileira e o Cinusp, exibe, a partir do dia 20, a mostra Maio de 68.
Fazem parte da programação dois longas-metragens do diretor italiano Bernardo Bertolucci inspirados no episódio francês, realizados em épocas distintas. Os sonhadores (2003) conta a história de três jovens apaixonados por cinema que se identificam pelos mesmos ideais. O cenário político que culmina com o embate entre universitários e policiais é a referência escolhida pelo diretor para contrastar com a condição humana e romântica vivida dentro dos ambientes isolados, como o casarão rodeado de espelhos em que dois dos protagonistas moram. Para narrar mais objetivamente os acontecimentos, Bertolucci dirigiu, em pleno ano de 1968, Partner, filme que também recorreu a um estudante típico da época como personagem central. Uma das produções mais radicais do cineasta italiano, o longa é um manifesto sobre os ideais defendidos por aquela geração.
Em 1968 era decretado no Brasil o Ato Institucional Número 5. A partir de então, o país, que convivia com o quarto ano de Ditadura Militar, passou a ser controlado por uma censura ferrenha, permeada por atos violentos. Para a mostra, foram selecionadas produções nacionais realizadas recentemente e outras produzidas durante o regime militar. Entre as atuais está Batismo de sangue (2007), de Helvécio Ratton, que mostra a resistência de frades dominicanos ao sistema.
Produzidos nos “anos de chumbo” (décadas de 1960 a 1970), filmes marcados por grande criatividade artística em temas variados, como política, dramas cotidianos e casos policiais, integram a programação. Entre eles estão o clássico do Cinema Novo, Terra em transe (1967), de Glauber Rocha, que faz duras críticas à ditadura; Todas as mulheres do mundo (1967), de Domingos de Oliveira; e O bandido da luz vermelha (1968), de Rogério Sganzerla
Veja a programação:
(Brasil, 1967, 106 min, DVD). Dir.: Glauber Rocha. Com Jardel Filho, Paulo Autran, Glauce Rocha e outros.
No fictício país de Eldorado, o jornalista e poeta Paulo se vê diante de diversas forças políticas que lutam pelo poder. Porfírio Diaz é um político de direita e paternalista; dom Felipe Vieira, um político populista; e Julio Fuentes, dono de um império de comunicação. Dia 27, 15h
(Itália, 1968, 105 min, DVD). Dir.: Bernardo Bertolucci. Com Pierre Clémenti, Tina Aumont, Sergio Tofano e outros.
Realizado durante o auge do movimento estudantil de 1968, Partner é um dos filmes mais radicais do cineasta italiano Bernardo Bertolucci. Esta edição especial apresenta o filme em versão restaurada, com quase uma hora de extras, incluindo entrevista com o diretor. Baseando-se livremente na obra O duplo, de Dostoiévski, o filme conta a história de um estudante com idéias revolucionárias, cuja existência solitária é abalada pelo aparecimento de seu duplo, que o incentiva a ter um maior engajamento político.
Dia 28, 19h30
(Alemanha, 1969, 25 min). Dir.: Harun Farocki. Com Harun Farocki, Eckart Kammer, Hanspeter Krüger e outros.
Primeiro filme realizado por Farocki fora da Academia de Cinema, que faz a ligação entre o aspecto didático e a agitação política por meio de uma rígida escassez de meios cinematográficos. O diretor aposta em uma elaboração pedagógica contra o voyerismo das reportagens da Guerra do Vietnã.
(Brasil, 2005, 57 min, DVD). Dir.: Silvio Tendler.
O documentário aborda e interpreta os 50 anos que precederam o início do século 21: o pós-Segunda Guerra Mundial, os movimentos de contra-cultura, as lutas pela independência das antigas colônias africanas e asiáticas, as ditaduras militares na América Latina, a Guerra do Vietnã e as outras invasões e guerras que ocorreram nesse período.
Exibições seguidas. Dia Dia 27, 19h30
(Estados Unidos, 1974, 112 min, 35mm). Dir.: Peter Davis. Com Georges Bidault, Clark Clifford, George Coker e outros.
Uma investigação sobre a Guerra do Vietnã por meio de imagens da guerra e entrevistas com ex-combatentes americanos e sobreviventes vietnamitas.
Dia 27, 17h
(Brasil, 1967, 86 min, DVD). Dir.: Domingos de Oliveira. Com Leila Diniz, Paulo José, Ivan de Albuquerque e outros.
Dois amigos, um descrente no amor e o outro procurando a felicidade da vida burguesa, falam do casamento desfeito de um deles, por ter decidido partir em busca de muitas mulheres.
Dia 28, 15h. Dia 30, 17h
(Brasil, 1967, 103 min, DVD). Dir.: Maurice Capovila. Com Rossana Ghessa, John Herbert, Paulo José e outros.
Jovem de origem simples procura a fama na publicidade e na televisão. Para tanto, envolve-se com um jornalista, um milionário, um produtor de TV e um publicitário. Após vencer e sucumbir na carreira, é renegada pela família e perde o amor de um estudante.
Dia 28, 17h. Dia 30, 15h
(Brasil, 1969, 85 min, DVD). Dir.: André Luiz Oliveira. Com Antônio Luiz Martins, Caveirinha, Sônia Dias e outros.
Lula, rapaz alienado de classe média alta baiana, sonha que é o grande astro do filme Tarzan e as bananas de ouro. Enquanto seus colegas da faculdade discutem política, ele prefere ler gibis e continuar sonhando com seu papel de herói das selvas.
Dia 29, 15h
(Brasil/França, 2007, 110 min, DVD). Dir.: Helvécio Ratton. Com Caio Blat, Daniel de Oliveira, Cássio Gabus Mendes e outros.
São Paulo, fim dos anos 60. O convento dos frades dominicanos se torna uma trincheira de resistência à Ditadura Militar. Movidos por ideais cristãos, três freis apóiam um grupo guerrilheiro. Perseguidos, acabam presos e torturados.
Dia 29, 17h. Dia 31, 19h30
(Brasil, 2004, 55 min, DVD). Dir.: Tatiana Polastri e Alexandre Rampazzo.
Documentário sobre o Frei Betto. Retrato da atuação dos dominicanos em sua luta contra a Ditadura Militar. Dividido em sete partes, o filme mostra a contradição entre depoimentos de grande parte da alta hierarquia e de religiosos comprometidos com a Teologia da Libertação.
(Brasil, 1971, 39 min). Dir.: Francisco Ramalho e Sérgio Muniz. Com Gianfrancesco Guarnieri, Othon Bastos e outros.
O documentário aborda a atuação do Esquadrão da Morte, organização paramilitar que, no fim dos anos 60 e início dos 70, fazia justiça com as próprias mãos, cometendo dezenas de assassinatos.
Exibições seguidas. Dia 29, 19h30. Dia 31, 17h
(Cuba, 1968, 97 min, 35mm). Dir.: Tomás Gutiérrez Alea. Com Sergio Corrieri, Daisy Granados, Eslinda Núñez e outros.
Mistura de ficção e documentário que faz um retrato de Cuba no começo dos anos 60. O diretor mostra os rumos da revolução de Fidel Castro narrados sob a ótica de Sérgio, um homem que, aos 38 anos, encontra-se subitamente sozinho em Havana, depois que sua mulher e seus pais partem para os Estados Unidos.
Dia 30, 19h30
(Brasil, 1968, 30 min, DVD). Dir.: Andrea Tonacci.
Durante período de crise, um líder do governo faz um desastroso pronunciamento pela televisão.
(Brasil, 1986, 90 min, DVD). Dir.: José Agrippino de Paula. Com Jô Soares, José Ramalho, Eugênio Kusnet e outros.
Obra futurista que mostra novas imagens sobre a humanidade.
Exibições seguidas. Dia 31, 15h
Serviço: Galeria Olido - Cine Olido - Av. São João, 473 - Centro. De 20/5 a 8/6. 16 anos. Grátis.
Parceria: Galeria Olido, Cinemateca Brasileira e Cinusp.