Teatro da Vertigem comemora 25 anos com programação especial nos centros culturais

Secretaria Municipal de Cultura realiza mostra que acontece entre os dias 3 e 28 em centros culturais

Movimentos corporais expressivos, recomposições de espaços e investigações do ator. Essas são as principais características do trabalho desenvolvido pelo Teatro da Vertigem, grupo de grande relevância para a cena artística do Brasil. Com o intuito de celebrar o aniversário da companhia, a Secretaria Municipal de Cultura programou uma mostra de 25 anos que chega, entre os dias 3 e 28, a quatro centros culturais. A proposta é relembrar e transmitir os modos e meios de produção dos trabalhos do grupo. Fazem parte da programação apresentações do espetáculo “Enquanto Ela Dormia”, laboratórios de criações cênicas, acompanhamentos de montagens, rodas de conversas e exposições fotográficas.

Formada no início da década de 90 por estudantes que pesquisavam artes cênicas na USP, a companhia nasceu a partir do desenvolvimento de experimentações dramatúrgicas e suas múltiplas possibilidades. Daí veio o nome “Vertigem”, que remete aos lugares de risco, descoberta, criação, aventura e desequilíbrio em que os espetáculos se colocam.

Com mais de 15 montagens em sua trajetória, participações em festivais, turnês dentro e fora do país e atuações em residências artísticas, o grupo acumula mais de 20 indicações e prêmios em diversas categorias. Esses são alguns dos espetáculos premiados: “O Paraíso Perdido”, que ganhou o APCA de 1993 de Melhor Pesquisa de Linguagem; O Livro de Jó, o Prêmio Shell de 1995 de Melhor Espetáculo e Direção, para Antônio Araújo, que também ganhou a premiação por “Apocalipse 1,11”, em 2000; e “BR3”, em 2011, a Triga de Ouro (medalha de ouro) pela Melhor Realização de uma Produção na Quadrienal de Praga, na Tchecoslováquia.

Palcos inusitados e processos criativos

A Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e lugares da cidade de São Paulo, como o Rio Tietê, o Hospital Humberto Primo, o Presídio do Hipódromo e a Igreja Santa Ifigênia, já foram palcos de montagens do Teatro da Vertigem, que tem como uma das grandes marcas para suas encenações a escolha por espaços não convencionais.

Lucienne Guedes, atriz da companhia há 20 anos, diz que “o objetivo é fazer apresentações em espaços que já tenham sua própria história. Atrelado a uma questão sensorial, além do enredo da dramaturgia, isso provoca no público um resgate de emoções”, explica.

Utilizada pelo grupo desde sua primeira montagem, “O Paraíso Perdido”, em 1992, essa experimentação de locais é conhecida nas artes plásticas como site specific, método artístico que promove uma interação com o espaço em que a obra é apresentada. Para Eliana Monteiro, diretora da companhia há dez anos, o processo de escolha acontece de acordo com o tema. “Em ‘O Livro de Jó’, por exemplo, nós optamos por fazer a montagem do espetáculo em um hospital porque era o ambiente relacionado às mortes causadas pela Aids. O intuito não era impactar, mas discutir e refletir. O espectador, que caminhava pelos corredores do Humberto Primo, sentia que aquilo havia sido uma realidade”, explica Eliana.

Outras duas características do Teatro da Vertigem são o processo colaborativo e a liberdade que o público tem para escolher o seu ponto de vista sob o espetáculo durante a apresentação, tanto como espectador quanto participante. Além da direção e encenação, áreas como cenografia, iluminação, música e vídeo também estão presentes nas produções das montagens. Segundo Guilherme Bonfanti, iluminador e um dos fundadores da companhia, essa mistura de elementos é salutar. “Com a forte presença dos discursos de todas as áreas, o grupo preserva a função única de cada um, mas mantém a criação conjunta, o que faz com que o trabalho se mantenha vivo durante tantos anos.”

Mostra de 25 Anos

A Mostra Teatro da Vertigem 25 Anos propõe uma troca de conhecimentos que permite discutir os processos da companhia. Para entender o desenvolvimento da montagem de um ato, laboratórios de criação cênica serão conduzidos pela diretora Eliana Monteiro. A programação traz a apresentação e história do grupo, exibições de filmagens dos espetáculos, exposições de fotografias que se tornaram referências da companhia e rodas de conversas que propõem discussões sobre a cidade, o teatro, os espaços e as criações.

Enquanto Ela Dormia

Construído a partir de uma pesquisa sobre a violência contra a mulher e as relações de poder entre os gêneros, o processo de criação da peça “Enquanto Ela Dormia” foi norteado por visitas às delegacias e pelas escutas de depoimentos de vítimas. Com texto de Carol Pitzer e direção de Eliana Monteiro, o monólogo parte de uma linha cronológica das dores do feminino, como, por exemplo, os pés de lótus das mulheres chinesas e a expulsão da deusa Lilith do Paraíso.

O espetáculo é inspirado na versão de 1648, a primeira do conto “A Bela Adormecida”, e fala de Dora, papel interpretado pela atriz Lucienne Guedes. A personagem presencia uma cena de abuso em um ônibus e sofre ao relembrar os traumas de infância. Para a diretora, “o espetáculo é um mergulho na geografia da dor das mulheres e uma provocação ao que está acontecendo na nossa sociedade”. O público poderá participar do processo de montagem do espetáculo na companhia do iluminador, Guilherme Bonfanti.

Por Juliana Pithon

Apresentações:

| Centro Cultural Olido. Av. São João, 473 - Centro| Tel. 3331-8399. | Atividades diversas: De 3 a 7, 18h. Enquanto Ela Dormia: Dias 6 e 7, 20h

| Centro de Culturas Negras do Jabaquara. Rua Arsênio Tavolieri, 45 - Jabaquara. | Tel. 5011-7445. |Atividades diversas: De 10 a 14, 18h. Enquanto Ela Dormia: Dias 13 e 14, 20h

| Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes. R. Inácio Monteiro, altura do nº 6.900, - Cidade Tiradentes.| Tel.: 2555-2840. | Atividades diversas. De 17 a 21, 18h. Enquanto Ela Dormia. Dias 20 e 21, 20h

| Centro Cultural de Santo Amaro. Av. João Dias 822, Santo Amaro. | Tel. 5541 7057 | Atividades diversas. De 24 a 28, 18h. Enquanto Ela Dormia. Dias 27 e 28, 20h
| +16 anos. Grátis