Peça “Pequenas certezas” reabre Espaço Ademar Guerra no CCSP

Após três anos fechada, sala é reaberta com melhorias; espetáculo fica em cartaz até 28 de janeiro

Com o objetivo de oferecer salas com as melhores condições estruturais, esta gestão dotou o Espaço Ademar Guerra, no Centro Cultural São Paulo, que estava fechado há três anos, com novos equipamentos. A reabertura aconteceu em dezembro passado.

Ao mesmo tempo em que grupos de jovens com seus aparelhos de som portáteis ensaiavam passos de jazz e hip-hop nos corredores da entrada, próximo a eles, uma fila começava a se formar naquela noite de sexta-feira. A expectativa era grande: faltava pouco para a reabertura do local, também conhecido como “Porão”, um dos locais com mais personalidade da cidade. Nessa noite, estreava o espetáculo, #Pequenas Certezas#, dirigido por Fernanda D’Umbra.

Para se dirigir ao espaço, o público adentra, aos poucos, as entranhas do CCSP, desce escadas, percorre corredores até chegar ao “Porão”. O novo projeto arquitetônico conta com melhores condições técnicas de iluminação e som, além de segurança. A estética do lugar ressignifica o cenário da encenação montada lá. Invertendo a lógica dos tradicionais palcos italianos (aqueles mais altos e em frente da plateia), as cenas acontecem no chão e com cadeiras podendo ocupar diversos cantos da sala, tornando a experiência público-espetáculo ainda mais intimista.

Noite de abertura

Para a cineasta Marina Person, uma das convidadas presentes na reabertura do espaço, dia 1º de dezembro passado, o local proporciona uma oportunidade para os grupos teatrais saírem do convencional. “Você tem esse elemento a mais de criação, de fazer do espaço o próprio cenário e adicionar algumas coisas”, afirma a apresentadora e diretora do filme Califórnia. Ela conta também já ter visto espetáculos ali montados com as mais variadas configurações. “Poder pegar algo que não foi desenhado para esse fim e transformá-lo, é incrível”, completa. Frequentadora do CCSP desde a adolescência, Marina ressalta a importância da reabertura. “Um teatro que não tem espetáculo vira um lugar morto, então que viva o ‘Porão’!”

Também esteve presente a atriz Selma Luchesi, que atuou na peça #Tempo de Viver# em janeiro de 2017, no espaço Missão, localizado próximo do Ademar Guerra. Para ela, ver o local finalmente aberto é motivo de felicidade. “São Paulo ganha muito com esse lugar. Participar da reabertura dele me deixa muito emocionada como artista e cidadã paulistana”, conta Selma. Já o pesquisador José Cetra Filho chamou atenção para a quantidade de espetáculos bons que assistiu ali. “É uma sala que estava fechada há um tempo e que tem ‘micróbios’ de coisas maravilhosas que aconteceram lá. Estávamos todos ansiosos para que ela fosse aberta”, afirma.

Entrevista: Pequenas Certezas

Pela primeira vez encenada no Brasil, a autora mexicana Bárbara Colio estreia no país com o texto #Pequenas Certezas#. O enredo acompanha a disputa por uma herança após o desaparecimento de um personagem. A atriz Cris Couto interpreta um dos papéis excêntricos da história, a Sra. Polanco, que gosta de fazer bolos e visitar necrotérios.
A diretora Fernanda D’Umbra retorna ao “Porão” após diversas experiências como atriz e encenadora no espaço. A primeira, no ano 2000, foi organizar uma mostra de teatro.

Veja o que ela fala sobre a sala:

Como é retornar depois de tanto tempo?
Você acha que conhece o “Porão”, então percebe que ele tem outras dezenas de possibilidades de ocupação e iluminação, e você cria com esse espaço um novo lugar. Que é o México. Que é a cabeça das personagens. Um lugar dentro do outro. O “Porão” permite isso. Permite esse "tudo".

De que maneira a dramaturgia de Pequenas Certezas dialoga com o espaço?
Quando expõe uma solidão devastadora nas personagens, que, assim como o espaço, estão cheias de nada, de pedras, de fundos, de caminhos sem fim, de paredes. Nada é fácil, nada é o que parece. O espaço se assemelha ao interior das personagens.

Qual a importância desse espaço para você?
Infinita. Fiz e faço de tudo ali. Teatro, show, amor, faço amigos e amigas eternos, acho o “Porão” uma espécie de floresta de pedras. Se você sobrevive a ele com classe, para sempre sobreviverá nos palcos. Ele é uma prova de fogo, um lugar belíssimo e estranho. Eu fiquei mais forte trabalhando lá. Todo mundo fica.

Você já viveu algum episódio marcante no “Porão”?
Teve uma vez que eu achei que estava morrendo lá. Foi durante a peça #Vamos Sair da Chuva Quando a Bomba Cair”, com direção de Mário Bortolotto. Eu caí feio. Mas, como você vê, não morri.

Apresentações: Centro Cultural São Paulo – Espaço Ademar Guerra. +12 anos. 70 min. De 4 a 28. 5ª a sáb., 21h. Dom., 20h. R$ 30

Gabriel Fabri e Juliana Pithon