Cia. Empório Teatro Sortido encena "Trilogia das Placas Tecnônicas" no Teatro Cacilda Becker

Espetáculos que remetem aos ‘terremotos’ internos de cada um podem ser vistos entre 18 de agosto e 24 de setembro

Reunindo os espetáculos “Ãrrã”, “Não nem Nada” e “Chorume”, a Cia. Empório Teatro Sortido encena no Teatro Cacilda Becker, na íntegra, sua Trilogia das Placas Tectônicas. As duas primeiras peças ficam em cartaz em agosto, respectivamente, entre os dias 18 e 20 e de 25 a 27. “Chorume” pode ser vista em setembro, entre os dias 1º e 24.

Para o autor e diretor das três encenações, Vinicius Calderoni, o título da trilogia remete aos terremotos presentes em cada uma das peças que a compõe. Entretanto, o nome possui também uma dimensão poética por trás. “As placas tectônicas são coisas que estão por debaixo da terra e a gente não vê, e essa dramaturgia é sobre coisas que correm por debaixo da pele, da superfície e do que é visível”, explica o dramaturgo, reconhecido com o prêmio Shell de Melhor Autor por “Ãrrã”. Ele exemplifica essa dimensão poética com uma cena de “Chorume”. Nela, há a tentativa de representar um lugar abstrato do personagem, um espaço para guardar palavras não ditas. “É uma dimensão meio absurda, difícil de teatralizar.”

A montagem

Uma característica recorrente nas três peças é o uso de objetos do cotidiano que não são de inserção imediata no teatro, ou seja, não comuns ao universo cênico. Uma garrafa de água, por exemplo, compõe um diálogo non sense de “Chorume”, com os personagens conversando apenas com as informações do rótulo; em “Ãrrã”, um homem fala com o GPS de seu carro; já em “Não nem Nada”, trechos de notícias de jornal, informes publicitários e discursos políticos são utilizados diversas vezes na dramaturgia. Outra característica que engloba os três espetáculos é o uso de cenários minimalistas. “Eles são compostos por um único grande objeto que tem várias possibilidades de se reconfigurar”, explica Calderoni.

Plano-sequência em cena

Com poucos atores e muitos personagens, as três peças encadeiam, em uma espécie de jogo cênico, diversas situações, que, no exemplo de “Ãrrã”, vão do cotidiano de uma conversa de bar a uma aldeia africana onde se pratica mutilação genital. Apesar de não terem personagens fixos e tratarem de temas densos, os três espetáculos são de fácil compreensão. “Não são obras herméticas, pois tudo parte de um lugar muito coloquial, muito reconhecível, para se construir outras possibilidades”, explica o diretor.

O encadeamento das situações no palco lembra um recurso cinematográfico denominado “plano-sequência”, em que, em uma unidade formada entre um corte e outro, mais de uma cena acontece (informalmente, chama-se de “plano sequência” uma tomada de longa duração, sem cortes, ou seja, sem que a filmagem seja interrompida para afastar ou aproximar a câmera, por exemplo).

“Não nem Nada” é composta por 12 cenas que se interligam como se fossem um único plano-sequência. “É um jogo ininterrupto, no qual uma situação se une à outra, como peças que se conectam”, afirma Calderoni. “Os outros espetáculos, por sua vez, têm também um dinâmica semelhante, não há uma pausa, tudo está em movimento”, conclui.

Por Gabriel Fabri