Por Gabriel Fabri
Proibidos de conversarem entre si, mineradores de ouro e diamantes na África do Sul desenvolveram, no século XIX, uma forma de se comunicar com o barulho das botas que usavam. Foi assim que nasceu a gumboot dance, ritmo trabalhado pela companhia Gumboot Dance Brasil no espetáculo “Yebo”. A coreografia, dirigida por Rubens Oliveira, é apresentada entre os dias 4 e 6 de dezembro no Teatro Zanoni Ferrite.
Oliveira explica que o maior desafio do espetáculo, para os dançarinos, é manter a estrutura corporal, representando os mineradores. “A dança é o tempo inteiro em plano médio, dificilmente a gente fica em pé”, afirma o diretor cênico. Essa opção remete a uma das condições degradantes em que eles trabalhavam nas minas: como o teto era baixo na maior parte dos lugares, era necessário ficar curvado.
O espetáculo retrata a realidade desses trabalhadores e o nascimento da gumboot dance. “São milhares de homens recrutados para trabalhar em um sistema opressivo, em que muitos morriam atrás de uma riqueza que não era para eles”, explica Oliveira. O coreógrafo também faz um paralelo com a atualidade. “Também no nosso país, na nossa cidade, os corpos vivem um momento opressivo, com o machismo, o racismo, o preconceito contra o jovem da periferia”, completa.
O diretor explica as principais características da gumboot dance. “É uma dança muito forte, porque une os sons das botas de borracha com batidas e percussões energéticas e gritos”, declara. Além disso, há sempre um líder conduzindo os outros dançarinos e o ritmo trabalha com música e cantos africanos.
Antes de fundar a companhia de dança, Oliveira foi até a África do Sul para estudar o ritmo. Lá, observou que a gumboot não está muito presente na classe artística, mas é uma dança popular. “Foi muito bom ver a importância que atribuem a essa dança hoje. Vi crianças dançando como se tivessem vivido aquela história dos mineradores”, lembra, completando que os jovens aprendem a gumboot como uma forma de contar histórias através dos sons e dos movimentos.
Ele destaca também que o ritmo virou uma forma de protesto. “Nas passeatas, você sempre vê os sul-africanos usando botas ou capacetes”, explica, em alusão ao uniforme dos mineradores.
Serviço: Teatro Zanoni Ferrite. Av. Renata, 163, Vila Formosa. Zona Leste. | tel. 2216-1520. Dias 4 e 5, 20h. Dia 6, 19h. Grátis (retirar ingresso a partir de uma hora antes)