Missão de Pesquisas Folclóricas idealizada por Mário de Andrade
Gilberto de Nichille
Idealizada por Mário de Andrade quando foi o primeiro diretor do Departamento de Cultura da Municipalidade Paulistana, a Missão de Pesquisas Folclóricas chegou a Pernambuco no dia 13 de fevereiro de 1938, exatamente 24 horas depois da polícia local ter invadido e fechado as casas de candomblé do orixá Xangô daquele Estado. Para Alexandre Araújo Bispo, mestre em Antropologia Social pela USP e diretor da Divisão de Ação Cultural e Educativa do Centro Cultural São Paulo (CCSP), esse foi um dos momentos mais significativos da empreitada. “Achei importante registrar esse episódio de intolerância religiosa e racismo e tomei-o como tema da exposição ‘Medo, fascínio e repressão’, que, juntamente com o Seminário Missão de Pesquisas Folclóricas 1938-2015, integra uma série de atividades que o CCSP realiza, de 20 a 23 deste mês, em torno do acervo de mais de 20 mil itens recolhidos durante a Missão e que, tombado em 2009 pela Unesco, está sob a guarda da Discoteca Oneyda Alvarenga do CCSP.”
Na mostra, podem ser vistos quase 300 objetos sacros, apreendidos pela polícia da época em 23 terreiros de Xangô com o intuito de desestimular esse tipo de prática religiosa. Essas peças confiscadas foram entregues, em 1938, à equipe da Missão pelo delegado João Inácio Ribeiro Roma, que compreendeu o valor histórico e cultural da iniciativa de Mário de Andrade.
“Um dos objetivos da exposição é suscitar a reflexão sobre medos e preconceitos que ainda hoje persistem em alguns setores da sociedade a respeito das diferenças sociais, raciais e religiosas. Por isso o nome da mostra: ‘Medo, fascínio e repressão’”, explica Bispo.
A partir da mostra, foi programado o seminário, composto por oito mesas de debate, com a presença de convidados e ex-funcionários do CCSP. O conteúdo é a atuação de profissionais e equipes que passaram pelo polo cultural, abordando como estes implementaram diferentes estratégias de divulgação da Coleção Missão de Pesquisas Folclóricas, debatendo pesquisas, tratamento da documentação, digitalização, publicações, espaços virtuais e tombamento. Para participar dos debates, é necessário fazer inscrição, até o dia 10 de outubro, no site do CCSP (link). As vagas são limitadas.
A exposição, juntamente com o seminário e uma série de oficinas, faz parte da programação que marca os 80 anos da Discoteca Oneyda Alvarenga e os 70 anos de morte de Mário de Andrade.
Serviço: Centro Cultural São Paulo – Piso Flávio de Carvalho. R. Vergueiro, 1.000, Paraíso. Próximo da estação Vergueiro do metrô. Centro. Abertura: dia 17, das 15h às 18h30 (nesse dia, haverá homenagem a Mário de Andrade com o ator Pascoal da Conceição e o pianista Eduardo Santangelo). De 18/10 a 13/12. 3ª a 6ª, das 10h às 20h. Sáb., dom. e feriados, das 10h às 18h. Grátis. Inscrições para os debates: até dia 10/10 (link).
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