Cineasta alemão Heinz Emigholz vem ao Brasil para mostra no CCSP

“Arquitetura como Autobiografia: Filmes de Heinz Emigholz” traz 24 títulos inéditos no Brasil e dois encontros com o cineasta

O cineasta Heinz Emigholz foca os seus filmes em construções
 realizadas durante o século XX


Por Gabriel Fabri

Em parceria com o Goethe Institut, o Centro Cultural São Paulo apresenta em agosto a mostra “Arquitetura como Autobiografia: Filmes de Heinz Emigholz”. Até o dia 13, são exibidos ao todo 24 títulos do cineasta alemão, entre curtas e longas-metragens, todos inéditos no Brasil. Um dos destaques é a vinda do próprio Emigholz, que participa de dois debates: no dia 1º, com o curador Aaron Cutler, e no dia 6, com o professor e urbanista Renato Cymbalista e o crítico de cinema Filipe Furtado. 

Para Furtado, dar liberdade para que os trabalhos arquitetônicos falem por si mesmos é a grande contribuição dos filmes de Emigholz. “O cinema permite que as próprias obras ressoem, são as construções, e não especialistas, que ajudam a estabelecer cada um dos arquitetos explorados”, explica o crítico. Nomes como Louis Sullivan, Rudolph Schindler, Pier Luigi Nervi e os irmãos Auguste e Gustave Perret são alguns daqueles que têm suas obras revisitadas por Emigholz. “Todos eles deixaram uma herança que Heinz tem em alta conta”, exalta Furtado. A única exceção é a retratada no filme “A caverna de D’Annunzio”, que mostra os cômodos de uma mansão que Mussolini deu de presente ao escritor Gabriele D'Annunzio, ligado ao fascismo italiano.  

Focadas em construções realizadas durante o século 20, as produções provocam em sua essência uma reflexão sobre a permanência das obras. “Arquitetura é uma arte que está sempre muito escrita no tempo. Quando visitamos um prédio invariavelmente tomamos consciência do peso da passagem do tempo entre a sua construção e nosso encontro”, explica o crítico. Ele destaca também a questão do espaço cênico nos filmes. Para Furtado, o cinema de Emigholz permite ao espectador ter consciência sobre o processo de exploração desse espaço. 

Durante a mostra, o filme “O prado das coisas” será exibido pela primeira vez em uma nova cópia restaurada. O longa-metragem é o precursor da série "Fotografia e além", da qual foi selecionada a maioria das produções desta mostra. Vencedora do prêmio Teddy de Melhor Documentário no Festival de Berlim (Alemanha), em 1988, a obra tem sessões nos dias 31 de julho e 5 de agosto.

Serviço: Centro Cultural São Paulo. R. Vergueiro, 1.000, Paraíso. Próximo da estação Vergueiro do metrô. Centro. | tel. 3397-0001 e 3397-0002. De 30/7 a 13/8. R$1

Veja programação completa: 

A BASE DA MAQUIAGEM I
(The basis of make-up I, Alemanha, 1974/1983, 20 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
Leitura visual dos diários de Emigholz e um de seu pai, Heinrich Emigholz, assim como colagens, desenhos e fotografias de lugares por onde passou. 
A BASE DA MAQUIAGEM II 
(The basis of make-up II, Alemanha, 1983/2000, 48 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
Leitura visual dos diários e cadernos de rascunho de Emigholz, assim como desenhos e estudos cinematográficos de um dos bancos de Sullivan; da obra “A porta do inferno”, de Rodin; entre outros exemplares. 
A BASE DA MAQUIAGEM III 
(The basis of make-up III, Alemanha, 1995/2004, 26 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
Leitura visual dos diários de Emigholz, intercalada com estudos de cinema. O jogo entre a natureza e sua interpretação pelo homem é representado por objetos como as esculturas de animais e deuses greco-romanos que decoram o interior da mansão do poeta italiano Gabriele D’Annunzio.
| Sala Lima Barreto. Exibições na sequência. Dias 1º e 7, 15h30

O BANDO SAGRADO 
(Der zynische körper, Alemanha Ocidental, 1986/1990, 89 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
Último longa-metragem de ficção de Emigholz. Na história, um editor de livros está morrendo e, junto com ele, a República Federal da Alemanha. Seus amigos reúnem o que para ele são apenas os dejetos de uma vida que já não existe mais.
| Sala Lima Barreto. Dias 1º e 6, 17h30

CONVERSA ENTRE HEINZ EMIGHOLZ E AARON CUTLER
| Sala Lima Barreto. Dia 1º, 19h30

OS BANCOS DE SULLIVAN 
(Sullivans banken, Alemanha, 1993/2000, 38 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
O filme mostra os oito últimos edifícios construídos pelo arquiteto norte-americano Louis H. Sullivan (1856-1924) para elegantes instituições bancárias do centro-oeste dos Estados Unidos, uma era passada que coexistia com a modernidade já obsoleta de 1995, ano em que foram filmados. 
AS PONTES DE MAILLART 
(Maillarts brücken, Alemanha, 1995/2000, 24 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
O filme mostra 13 construções do engenheiro civil sueco Robert Maillart (1872-1940). Maillart levou para a engenharia civil a beleza do desenho, mantendo a economia de materiais e eficiência nas construções através da simplificação da forma, em comunhão com o meio ambiente.
| Sala Lima Barreto. Exibições em sequência. Dia 2, 15h30. Dia 9, 19h30

PERRET NA FRANÇA E ARGÉLIA 
(Perret in Frankreich und Algerien, Alemanha, 2011/2012, 110 min, DCP). Dir.: Heinz Emigholz.
O filme apresenta 30 construções dos irmãos franceses Auguste Perret (1874-1954) e Gustave Perret (1876-1952), realizadas na França e Argélia entre 1904 e 1954. Os arquitetos trabalharam durante um período em que a Argélia ainda era uma colônia francesa, e morreram pouco tempo antes do início da guerra de independência argelina, que resultou no fim da colonização. 
| Sala Paulo Emilio Salles Gomes. Dia 2, 17h

A PISTA DE POUSO 
(The airstrip - Aufbruch der moderne, Teil III, Alemanha, 2011/2013, 112 min, DCP). Dir.: Heinz Emigholz.
O filme acompanha 30 localidades no mundo, traçando um percurso da arquitetura moderna após o lançamento das bombas atômicas ao final da Segunda Guerra Mundial. O longa evoca, de forma confessional, o fardo de ser alemão. Dentre os lugares visitados, está o Northfield Memorial, em Tinian, nas Ilhas Marianas do Norte, de onde partiram as bombas atômicas para Hiroshima e Nagasaki.
| Sala Paulo Emilio Salles Gomes. Dia 2, 19h30

LOOS ORNAMENTAL 
(Loos ornamental, Áustria, 2006/2008, 72 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
O filme apresenta 27 construções do arquiteto austríaco Adolf Loos (1870-1933), realizadas na Áustria, República Checa, boa parte durante o Império Austro-Húngaro, e na França, entre 1899 e 1931. Inspirado nas ideias de Louis Sullivan, Loos revolucionou a arquitetura de seu tempo ao eliminar a ornamentação florida típica europeia. 
| Sala Lima Barreto. Dia 4, 17h30. Dia 7, 19h30

AS CASAS DE SCHINDLER 
(Schindlers häuser, Áustria, 2006/2007, 99 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
São mostradas 40 construções do arquiteto austríaco naturalizado norte-americano Rudolph M. Schindler (1887-1953), todas realizadas em Los Angeles (EUA), entre 1921 e 1952. 
| Sala Lima Barreto. Dia 4, 19h30. Dia 9, 17h

DOIS MUSEUS 
(Zwei museen, Alemanha, 2012/2014, 18 min, DCP). Dir.: Heinz Emigholz.
O filme justapõe o museu Coleção Menil, em Houston (EUA), construído pelo arquiteto italiano Renzo Piano, entre 1982 e 1986, e o Museu de Arte Ein Harod, em Israel, construído pelo arquiteto polonês Samuel Bickels em 1948. 
O PRADO DAS COISAS 
(Die wiese der sachen, Alemanha Ocidental, 1974/1987, 88 min, 16mm, restaurado em DCP).
Primeira tentativa de Emigholz de explorar, por meio do cinema, espaços arquitetônicos como indícios de histórias humanas. A ação acontece na cidade de Clonetown, onde um terrorista, desiludido e pouco confiável, narra, às margens do esquecimento, sua decadência eminente a um negociante de carros sequestrado. Vencedor do Prêmio Teddy de Melhor Documentário no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em 1988. 
| Sala Paulo Emilio Salles Gomes. Exibições na sequência. Dia 5, 17h

PARABETON - PIER LUIGI NERVI E O CONCRETO ROMANO 
(Parabeton - Pier Luigi Nervi und römischer beton, Alemanha, 2011/2012, 100 min, DCP).          
O filme justapõe 17 construções do engenheiro civil italiano Pier Luigi Nervi (1891-1979) realizadas na Itália e na França, entre 1932 e 1971, todas inspiradas em obras da antiguidade, e dez ruínas do Império Romano.
| Sala Paulo Emilio Salles Gomes. Dia 5, 19h30

DEBATE ENTRE HEINZ EMIGHOLZ, RENATO CYMBALISTA E FILIPE FURTADO
Mediação: Aaron Cutler.
| Sala Lima Barreto. Dia 6, 19h30

UMA SÉRIE DE PENSAMENTOS 
(Eine serie von gedanken, Alemanha, 1986/2010, 91 min, HD, convertido em ProRes). Dir.: Heinz Emigholz.

O longa-metragem é composto por quatro curtas: “El Greco em Toledo”, sobre a pintura “O enterro do conde de Orgaz”, de 1586; “As lágrimas de Leonardo”, com imagens do jogador de futebol Leonardo Nascimento de Araújo e áudio da peça de rádio, adaptada de um texto de Emigholz; “A bordo do USS Ticonderoga”, sobre uma foto de Wayne Miller, na qual soldados americanos se preparam para um ataque aéreo; e “Um museu em Essen”, sobre a recém-construída extensão do Museu Folkwang.
| Sala Lima Barreto. Dia 8, 15h30. Dia 12, 17h30

DOIS PROJETOS DE FREDERICK KIESLER 
(Zwei projekte von Friedrich Kiesler, Áustria/Alemanha, 2006/2009, 16 min, HD, convertido em ProRes). Dir.: Heinz Emigholz.
O filme apresenta dois projetos do artista austríaco naturalizado norte-americano Frederick John Kiesler (1890-1965): a Casa Sem Fim, concebida como uma construção sem divisórias e na qual os dois lados se unem em um movimento circular (existe apenas em maquetes); e o Santuário do Livro, braço do Museu de Israel que abriga os Manuscritos do Mar Morto, construído em parceria com Armond Bartos.  
A CAVERNA DE D’ANNUNZIO 
(D’Annunzios höhle, Alemanha, 2002/2005, 52 min, DigiBeta, convertido em ProRes). Dir.: Heinz Emigholz.
Filmagem de 15 quartos da opulenta mansão Villa Cargnacco (hoje, um museu), no Lago de Garda (maior lago da Itália), presente do governo de Mussolini ao popular escritor nacionalista e militar Gabriele D’Annunzio (1863-1938), onde residiu de 1921 até sua morte. 
| Sala Lima Barreto. Exibições em sequência. Dia 8, 17h30. Dia 11, 17h

GOFF NO DESERTO 
(Goff in der wüste, Alemanha, 2002/2003, 110 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
O filme apresenta 63 construções do arquiteto americano Bruce Goff (1904-1982), realizadas nos Estados Unidos. Escolas, centros religiosos, empresariais e casas foram construídos com materiais locais e inspirados nas culturas aborígenes, camuflando-se com o meio ambiente. 
| Sala Lima Barreto. Dias 8 e 12, 19h30

MISCELÂNEA I 
(Alemanha, 1988/2001, 20 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
Variações sobre o tema da morte, como visitas ao túmulo do escritor belga Georges Rodenbach, às usinas elétricas de Hans Heinrich Müller, construídas em 1926, que remetem ao cenário do filme clássico “Metrópolis”, de Fritz Lang, e à versão em bronze de “A porta do inferno”, de Rodin.
MISCELÂNEA II 
(Alemanha, 1988/2001, 19 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
Suporte para a coleção de cenas dos filmes “Os bancos de Sullivan”, “As pontes de Maillart” e “A caverna de D’Annunzio”, todos exibidos nesta mostra. Lugares como o memorial em homenagem à equipe morta no acidente do ônibus espacial Challenger, em Ohio (EUA), e um castelo em Arco, traçando uma conexão entre o patriotismo e o fascismo, são mostrados.
MISCELÂNEA III 
(Alemanha, 1997/2004, 22 min, 35mm). Dir.: Heinz Emigholz.
Suporte para a coleção de cenas de “Goff no deserto” e “A caverna de D’Annunzio”, ambos exibidos nesta mostra. Pode-se ver, por exemplo, o portal da antiga Bolsa de Chicago (EUA), construído por Louis Sullivan, em 1894, já revelando a modernidade da cidade. 
| Sala Lima Barreto. Exibições em sequência. Dia 9, 15h30. Dia 13, 17h30

SENTIDO DA ARQUITETURA 
(Sense of architecture, Áustria/Alemanha, 2005/2009, 168 min, HD, convertido em ProRes). Dir.: Heinz Emigholz.
São apresentadas 42 construções de origem austríaca, realizadas entre 1983 e 2005 por arquitetos proeminentes, como Klaus Kada, Gerhard Mitterberger e o casal Feyferlik/Fritzer. O filme é um desdobramento de um projeto de instalação audiovisual itinerante e desenvolve uma narrativa na qual as construções simbolizam as diferentes etapas da vida de um personagem implícito. 
| Sala Lima Barreto. Dias 11 e 13, 19h