27 de março, Dia do Circo

Verônica Tamaoki, coordenadora e curadora do Centro de Memória do Circo, relembra o nascimento de Aberlado Pinto, o palhaço Piolin

Artigo por Verônica Tamaoki

O circo vem sendo celebrado por um número maior de pessoas no dia a ele instituído: 27 de março. Não só pela comunidade circense que nesse dia realiza espetáculos, encontros, festivais, oficinas, entre outras atividades, mas também por outros setores da sociedade. E passa a fazer parte inclusive do calendário escolar, motivo pelo qual não vai ser difícil encontrar no próximo 27 de março, crianças saindo da escola fantasiadas de palhaço.

Mas afinal por que 27 de março se consagrou Dia do Circo no Brasil?


O que todos provavelmente sabem é que 27 de março se consagrou Dia do Circo em homenagem ao nascimento de Abelardo Pinto – 1897-1973, o palhaço Piolin. O que talvez poucos saibam é o envolvimento dos modernistas paulistas e do casal Pietro Maria e Lina Bo Bardi, na criação dessa data. Não fossem eles nós não teríamos o nosso Dia do Circo.


A primeira vez que se comemorou publicamente o aniversário de Piolin foi em 1929, quando no dia 27 de março, os modernistas – Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Menotti Del Pichia, Yan de Almeida Prado, entre outros -, em sua fase antropofágica, liderados por Oswald de Andrade, organizaram um almoço em homenagem ao aniversário de 32 anos de Abelardo Pinto, cujo prato principal foi o próprio palhaço – de maneira simbólica, é claro. Se levarmos em conta que os índios antropófagos, nos quais nossos modernistas se inspiravam, comiam ritualmente seus inimigos para adquirir suas qualidades, o “festim antropofágico”, como foi denominado o almoço, foi a maior consagração que um artista poderia receber.


Mas o 27 de março só veio a se tornar o Dia do Circo em 1972, quando o casal Pietro Maria e Lina Bo Bardi organizou uma grande mostra no Museu de Arte Moderna, em homenagem ao cinquentenário da Semana de Arte Moderna, e instalou o Circo Piolin no Belvedere do MASP por considerar o palhaço, segundo palavras de Pietro, o mais autêntico e justo artista do modernismo paulista. Piolin, que andava esquecido, viu seu circo ser montado num dos locais mais nobres de São Paulo, a Av. Paulista. E viu também, nesse mesmo ano, o dia do seu nascimento ser decretado pelo estado de São Paulo como o Dia do Circo.


No ano seguinte, Piolin veio a falecer, mas o Dia do Circo, criado em sua  homenagem, continua vivo. A data se espalhou e hoje é comemorada em todo o país, do Oiapoque ao Chui.  


Nesse dia comemora-se também o Dia Internacional do Teatro. E o que torna o 27 de março uma data ainda mais interessante é o fato de que o país onde vicejou o circo-teatro, até hoje o mais importante teatro popular da nossa história, comemore o circo e o teatro no mesmo dia.

Viva o circo! Viva o Teatro! Viva o Circo-Teatro!
    
Verônica Tamaoki é autora de “O Fantasma do Circo”, de “Circo Nerino”, em co-autoria com Roger Avanzi, o palhaço Picolino. Atualmente é coordenadora e curadora do Centro de Memória do Circo, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.