Programa Aldeias valoriza cultura guarani em São Paulo

Iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura completa um ano em 2015. Realizado em seis aldeias localizadas na cidade de São Paulo, envolve cerca de dois mil indígenas.

Apresentação dos guarani no Centro Cultural São Paulo (CCSP)
 realizada no dia 18 de março (Foto: Sosso Parma)
 

Por Ana Carolina Andrade

O Programa Aldeias, iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura, completa um ano em 2015. A ação, pioneira em sua área, é fruto de uma parceria da Secretaria, por meio do Núcleo de Cidadania Cultural, com as comunidades guarani Mbya e de um convênio com o Centro de Trabalho Indigenista (CTI).

Originado a partir do "Vocacional Aldeias", realizado de 2008 a 2013, o Programa Aldeias partiu de uma reivindicação à Secretaria por parte das populações indígenas e dos agentes culturais envolvidos no vocacional.

O Programa é realizado em seis aldeias (Tekoa) localizadas na cidade de São Paulo: Tekoa Krukutu, Tekoa Tenonde Porã e Tekoa Kalipety, inseridas na Terra Indígena Tenondé Porã, e Tekoa Pyau e Tekoa Ytu, inseridas na Terra Indígena Jaraguá. Atualmente, envolve cerca de dois mil indígenas. 

De acordo com sua coordenadora, Heloísa Pires de Lucca, os principais objetivos do programa são a valorização e o fortalecimento das expressões culturais tradicionais do povo guarani e o apoio à sua participação nas decisões políticas. "Queremos também dar visibilidade às ações e cultura guarani para quem vive em São Paulo ", esclareceu 

Para Davi Guarani, liderança da Aldeia Tekoa Pyau, no Jaraguá, o programa é uma política de respeito e participação que envolve toda a comunidade. "Temos a formação de jovens, a valorização da nossa cultura, tudo com autonomia dos guarani. É de fato uma política indigenista", afirmou.

O programa é realizado nas aldeias em uma ação conjunta entre agentes culturais da Secretaria, chamados pelos guarani de "juruás", agentes e lideranças guarani e o CTI.

As ações trabalhadas se refletem no cotidiano das aldeias, sendo assim, permanentes, já que envolvem plantio, construção de casas de reza, celebrações e cultivo da agricultura tradicional.

Davi explica que o tempo das atividades é o tempo guarani, e não o juruá. "Nossa divisão do ano se dá entre Ara Pyau (ano novo) e Ara Yma (ano velho). Cada tempo é dedicado a um tipo de atividade. O Ara Pyau é tempo de agradecimento, de plantio, de batismo, atividades e cerimônias. Já o Ara Yama é tempo de se guardar, do guarani não se expor. O programa e suas atividades se desenvolvem nesses tempos", conta.

Entre as ações realizadas em conjunto aos guarani, buscando seu protagonismo, estão o fomento e a transmissão de práticas e conhecimentos tradicionais, como danças, plantios, intercâmbios com outras aldeias e até  formação audiovisual.

Ações em 2015

Com o sucesso em 2014, foram ampliados o número de agentes para oito envolvidos e será prorrogado o contrato com o CTI. O valor total do programa neste ano permanece  o mesmo do ano passado, 520 mil reais. 

A coordenadora Heloísa avalia como positivo esse primeiro ano e acredita que a consolidação do programa passa por outro processo, que é a sua transformação em lei. "Estamos estudando qual a melhor alternativa, mas acreditamos que isso garantiria uma política cultural indigenista permanente”, afirmou.

A exposição Nhande Kuery São Paulo Pygua

No sábado, 14, os resultados do programa puderam ser vistos em uma exposição no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Além de exibição de fotos e degustação de comidas típicas, os indígenas realizaram apresentações musicais e de dança, e também debates sobre a demarcação de suas terras e a realidade indígena. O prefeito Fernando Haddad, o Secretário Municipal de Cultura, Nabil Bonduki, e o Secretário Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Eduardo Suplicy, também estiveram presentes.

Durante a exposição,  Nabil Bonduki explicou que no novo Plano Diretor Estratégico de São Paulo os territórios indígenas dos guarani foram reconhecidos. "O Plano Diretor reconheceu os território indígenas já marcados pela FUNAI, passo muito importante para sua demarcação", assentiu o Secretário.

O prefeito Fernando Haddad reforçou essa conquista do Plano Diretor. "Durante a vigência do Plano estes territórios estão protegidos pela legislação municipal. Como os Planos Diretores mudam, continuarei em diálogo com o governo federal para tentarmos até 2016 demarcar essas terras", afirmou.

Confira aqui as fotos da exposição que também será realizada na Galeria Olido.