Tchekhov e Cortázar inspiram peça vencedora do Prêmio Shell

“Não vejo Moscou da janela do meu quarto” chega a dois teatros municipais entre os dias 3 e 26 de abril

 Condenados ao confinamento, os três personagens de “Não vejo Moscou da janela do meu quarto” 
anseiam por uma viagem à capital russa (Foto: Roberto Setton)


Por Gabriel Fabri

Baseado na peça “As três irmãs”, do russo Anton Tchekhov, e no conto “Casa tomada”, do argentino Julio Cortázar, o premiado “Não vejo Moscou da janela do meu quarto” 
traz três personagens condenados ao confinamento e que anseiam por uma viagem à capital russa. Neste mês, o espetáculo foi convidado para fazer parte da programação gratuita do Circuito São Paulo de Cultura. As apresentações acontecem nos Teatros Leopoldo Fróes, na zona sul, entre os dias 3 e 5, e no Zanoni Ferrite, na zona leste, de 24 a 26, com entrada franca.

Segundo Silvana Garcia, ganhadora do Prêmio Shell 2014 de Melhor Direção pelo espetáculo, os textos de Cortázar e Tchekhov têm um mesmo movimento. “Em ambos, os personagens estão constrangidos a um deslocamento que os obriga a abandonar o pouco que ainda têm”, explica. O movimento os leva a um cotidiano confinado. “É também um lugar de alienação em relação ao mundo”, completa.  

Um exemplo do encontro entre os dois textos é que, em “Não vejo Moscou...”, os personagens de Tchekhov estão na mesma condição dos irmãos do conto de Cortázar: em uma casa que vai sendo tomada, e não se sabe exatamente pelo o quê. “Procurei dar um tratamento dramático à narrativa de Cortázar e trouxe para um patamar narrativo o drama tchekhoviano", explica Silvana, que destaca a importância da interpretação sutil na peça. “Os atores construíram figuras que são de certa maneira ambíguas, sobre as quais não temos certezas, mas impressões”.

No espetáculo, Moscou representa apenas uma ideia. “É um desejo de felicidade, um lugar sonhado onde tudo poderia ser diferente”, explica a diretora. Situada no período de maior paranoia da Guerra Fria, os anos 50, a peça traz em suas sutilezas uma discussão sobre o medo do que é diferente. “Os agentes formadores da xenofobia andam em sincronia com a alienação, com o confinamento e estreitamento dos horizontes culturais e com a intolerância. Não vejo que isso tudo esteja tão distante de nossa atualidade”, provoca Silvana.

Serviço: |Teatro Leopoldo Fróes. Rua Antonio Bandeira 114, Santo Amaro. Zona Sul. | tel. 5541 7057. Dias 03 e 04, 20h. Dia 05, 19h.
|Teatro Zanoni Ferrite. Av. Renata, 163, Vila Formosa. Zona Leste. | tel. 2216-1520. Dias 24 e 25, 20h. Dia 26, 19h. Grátis (retirar ingresso, até um par por pessoa, uma hora antes). 70 min. + 14 anos.