A mulher criadora em dança é tema de encontro

Entre os dias 7 e 31 de março, o Centro de Referência da Dança celebra o Dia Internacional da Mulher com seminário, cine debate e apresentações de espetáculos


Cena de “Balé de pé no chão” (2005), documentário de Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro 
sobre Mercedes Baptista, precursora da dança afro-brasileira

Por Natália Tayota

Quando se fala do papel da mulher na dança, o senso comum nos remete a pensar que elas sempre tiveram uma posição de destaque nessa arte, simplesmente porque são maioria. Mas não é bem assim. Historicamente, na dança clássica, as mulheres eram subjugadas aos coreógrafos e diretores, que em sua maioria eram homens. O cenário só começou a mudar com o surgimento da dança moderna, quando as mulheres marcaram presença e começaram a reagir quanto à condição passiva de serem apenas intérpretes. É diante desse contexto que o Centro de Referência da Dança de São Paulo promove, durante todo o mês, o encontro “A mulher criadora em dança”, em comemoração ao 8 de março, dia internacional da mulher.

O objetivo é resgatar e afirmar o papel feminino na criação artística, levantando a discussão sobre a relação da mulher com o trabalho e com o universo das artes. Sobre esse assunto, a diretora artística do Balé da Cidade de São Paulo (BCSP), Iracity Cardoso, acredita que, internacionalmente, existam mais homens criadores do que mulheres, mas em São Paulo, a participação delas tem sido bastante expressiva à frente das companhias, principalmente de dança contemporânea. Para a diretora, as mulheres têm conquistado espaço, aliando capacidade a um “jeitinho” próprio da natureza feminina. “A mulher tem se desenvolvido muito na dança, com talento, paciência, insistência e objetivo claro”, afirma.

A programação, gratuita, conta com um seminário, apresentação de cine debate do filme “Balé de pé no chão”, que fala da trajetória de Mercedes Baptista, considerada a principal precursora da dança afro-brasileira; rodas de conversa sobre a mulher da dança na política e a mulher no mundo do trabalho, além de apresentações de espetáculos. Nos dias 7 e 8, será encenado o duo “Intercessão”, protagonizado por bailarinas do BCSP. Na ocasião, Iracity participa de um bate-papo com o público. De 13 a 15, a Cia. Fragmento de Dança apresenta “Ecos”, trabalho inspirado em criadoras importantes como Frida Khalo e Virginia Woolf. Entre os dias 20 e 22, a Nave Gris Cia. Cênica mostra “Dikanga Kalunga”, espetáculo que aborda as relações de ancestralidade feminina da dança negra contemporânea. Encerra as coreografias “Cálamo”, da iN SAiO Cia. de Arte, encenada entre os dias 27 e 29.

Serviço: Centro de Referência da Dança de São Paulo. Baixos do Viaduto do Chá s.n., Galeria Formosa – Centro. São Paulo  (Antiga Escola Municipal de Bailado). Tel. 3214.3249. De 7 a 31. Grátis.

Confira a programação completa:

RODAS DE PROSA: PAPÉIS E REPRESENTAÇÕES DA MULHER NA SOCIEDADE
| Encontros às 3ª-feiras para debater os temas: “Transcidadania”. Dia 10, 15h; “A violência”. Dia 17, 15h; “Mulheres da dança na política”. Dia 24, 15h; e “A mulher no mundo do trabalho”. Dia 31, 15h

CINE DEBATE ESPECIAL: A MULHER CRIADORA
Nesta sessão especial, será exibido o filme “Balé de pé no chão” (2005), dirigido por Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro. O documentário acompanha a singular trajetória de Mercedes Baptista, considerada a principal precursora da dança afro-brasileira. Bailarina de formação clássica, a partir da criação de seu grupo, no início da década de 1950, volta-se para o estudo dos movimentos rituais do candomblé e das danças folclóricas. Suas concepções coreográficas permanecem até hoje identificadas como repertório gestual da dança afro.
| Dia 11, 19h30

Seminário: A Mulher Criadora em Dança

NEGRITUDE NA DANÇA
Discussão sobre o espaço e os papéis reservados à mulher negra dentro do universo da dança. Participam do encontro mulheres negras engajadas na produção de espetáculos de dança, pesquisadoras do tema e representantes do feminismo negro.
| Dia 12, 18h30

MULHERES CRIADORAS EM DANÇA
O encontro debate sobre até quando, através da história, será negligenciado o papel da mulher artista e criadora.
| Dia 19, 18h30

CORPOS FEMININOS: CULTURA E MÍDIA
Discussão sobre o forte e permanente patrulhamento sobre o corpo da mulher, o fetiche que provoca e o impacto dessa realidade no universo da dança.
| Dia 26, 18h30

Apresentações de espetáculos

INTERCESSÃO
Com Irupé Sarmiento e Simone Camargo ou Rebeca Ferreira (integrantes do Balé da Cidade de São Paulo).
A coreografia fala da fricção entre os corpos, aqueles que se alimentam e se degeneram. Somente quem sente esse contato percebe o que permanece. Haverá um bate-papo com Iracity Cardoso, diretora artística do Balé da Cidade de São Paulo.
| Dia 7, 21h. Dia 8, 20h

CIA. FRAGMENTO DE DANÇA
Espetáculo: “Ecos”. Coreografia e dir.: Vanessa Macedo. Com Chico Rosa, Daniela Moraes, Vanessa Macedo e outros.
Construção estética e dramatúrgica recorrente nos trabalhos da companhia inspirados em artistas mulheres. A pesquisa começou em 2006 com Frida Kahlo, passou pela artista plástica britânica Tracey Emin (2008) e chegou na escritora Virginia Woolf (2010), buscando enfatizar o olhar crítico e poético dessas notáveis profissionais.
| Dias 13 e 14, 21h. Dia 15, 20h

IN SAIO CIA. DE ARTE
Espetáculo: “Cálamo”. Concepção, coreografia e dir.: Claudia Palma. Intérpretes-criadores: Cristina Ávila, Felipe Teixeira, Mariana Molinos e outros.
O espetáculo vê a pele como espaço que pode explicitar modos de vida e conter expressões humanas. Limite passível de perfurações, atravessamentos e vertigens, camadas que trilham por entre os poros, quase como a retenção de uma escrita no corpo.
| Dias 27 e 28, 21h. Dia 29, 20h

NAVE GRIS CIA. CÊNICA
Espetáculo: “Dikanga Kalunga”. Dir.: Murilo de Paula. Concepção, coreografia e interpretação: Kanzelumuka. Acompanhamento musical: Lê Perez e Sandro Lima.
O trabalho aborda relações da ancestralidade feminina na contemporaneidade por meio da dança negra contemporânea, transitando entre memórias pessoais e dramaturgias presentes nas mitologias e manifestações tradicionais de origem banto. O corpo é pensado como encruzilhada: lugar de encontro, de chegada e partida.
| Dias 20 e 21, 21h. Dia 22, 20h