Mostra de filmes de Jean Rouch celebra mês da consciência negra

“Eu, um outro: o cinema fabular de Jean Rouch” acontece a partir do dia 7, na Biblioteca Roberto Santos

Cena de "Crônicas de um Verão", co-dirigido pelo filósofo Edgar Morin.
O filme de 1960 é exibido no dia 9.

Por Gabriel Fabri

O francês Jean Rouch foi um dos principais nomes do Cinema Vérité ou “cinema-verdade”, um estilo de documentário inspirado na obra do russo Dziga Vertov que tenta captar a realidade da maneira mais fiel possível, usando a câmera como um mero meio de registro, de observação. Cinco filmes de Rouch e uma homenagem ao cineasta integram a mostra “Eu, um outro: o cinema fabular de Jean Rouch”, que acontece entre os dias 7 e 14 de novembro, na Biblioteca Roberto Santos, e faz parte da programação especial do mês da consciência negra. 

Trabalhando como engenheiro civil na África francófona durante a II Guerra Mundial, Rouch desenvolveu o interesse pelas tribos africanas, tema que marca a sua filmografia. Já no seu primeiro filme, em 1946, adotou a câmera de mão, pouco usada na época e, ao longo dos dez anos seguintes, Rouch fez uma série de pequenos curtas documentando os costumes africanos, que diferem muito de cada tribo. Entre eles, está “Os mestres loucos”, de 1955, em que ele registra os rituais da seita religiosa Hauka. O curta é exibido no dia 7, na sequência do primeiro longa-metragem de sua carreira, “Eu, Um Negro”, de 1959. 

Apesar da maioria de seus documentários terem sido gravados na África ocidental, a sua mais lembrada obra é “Crônica de Um Verão”, de 1960, co-dirigida pelo filósofo francês Edgar Morin. O filme, que é exibido no dia 9, entrevista parisienses a partir de uma simples e difícil questão: “você está feliz?”. O longa-metragem teve influência no movimento da Nouvelle Vague, em especial na obra do cineasta Jean-Luc Godard. 

Integra a mostra o documentário “Mosso Mosso, Jean Rouch Como Se”, de Jean-André Fieshi. O tributo ao cineasta, que faleceu em 2004, é exibido no dia 7.  

Serviço: Biblioteca Pública Roberto Santos. R. Cisplatina, 505, Ipiranga. Zona Sul.| tel. 2273-2390 e 2063-0901. De 7 a 14/11. Grátis. 

Confira a programação completa: 

EU, UM NEGRO
(Moi, un noir, França, 1959, 73 min). Dir.: Jean Rouch. Com Oumarou Ganda, Gambi, Petit Touré e outros. +12 anos.
Grupo de jovens abandona sua terra natal, Nigéria, para tentar uma vida melhor na Costa do Marfim. Para se adaptar à nova realidade aos moldes ocidentais, eles assumem pseudônimos de personalidades da cultura europeia e estadunidense. 
OS MESTRES LOUCOS
(Les maîtres fous, França, 1955, 30 min). Dir.: Jean Rouch. Com os sacerdotes Mountyeba e Moukayla, membros da seita e habitantes de Accra. +18 anos.
O filme acompanha uma reunião de praticantes do culto Hauka, uma das seitas religiosas que surgiu na Nigéria em 1917. Logo no início, o narrador adverte que “cenas de violência e crueldade se seguirão durante o rito de possessão e o sacrifício animal”. 
| Exibições seguidas. Dia 7, 16h
 
MOSSO MOSSO, JEAN ROUCH COMO SE
(Mosso Mosso, França, 1998, 73 min). Dir.: Jean-André Fieshi. Com Jean Rouch, Damouré Zika, Tallou Mouzourane e outros. +12 anos.
Tributo ao cineasta francês Jean Rouch, morto nas estradas do Níger em 2004. Apaixonado pela cultura africana, o doutor em letras, engenheiro, explorador e etnógrafo Rouch começou a registrar suas observações em filmes na década de 1940. Hoje sua obra cinematográfica, baseada em documentários, conta com mais de 120 títulos etnográficos. 
| Dia 7, 19h

POUCO A POUCO
(Petit à petit, França/Níger, 1972, 90 min). Dir.: Jean Rouch. Com Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia, Illo Gaoudel e outros. + 12 anos.
Ao decidir erguer um edifício, diretor de uma empresa de importação e exportação parte do Níger para Paris para verificar como a “tribo de parisienses” vive numa casa de vários andares. 
| Dia 9, 16h

CRÔNICA DE UM VERÃO
(Chronique d'un été, França, 1960, 90 min). Dir.: Jean Rouch e Edgar Morin. Com Marceline Loridan, Marie-Lou Parolini e outros. Livre.
Durante o verão de 1960, os sociólogos Edgar Morin e Jean Rouch pesquisam sobre a vida cotidiana dos jovens parisienses para tentar compreender sua concepção de felicidade. 
| Dia 9, 18h

A CAÇA AO LEÃO COM ARCO
(La chasse au lion à l’arc, França, 1965, 80 min). Dir.: Jean Rouch. Com Tahirou Koro, Wangari Moussa, Issiaka Moussa e outros. +16 anos.
O filme acompanha a fabricação dos arcos e flechas, preparação do veneno, rastreamento e ritual de sacrifício praticado pelos caçadores Gaos, da região de Yatakala, durante a caça do leão assassino denominado Americano.
| Dia 14, 16h