Fotos de B.J. Duarte viram livro e mostra

Fonte: Folha de S. Paulo

Imagens do fotógrafo exibem a transformação urbana de São Paulo

Convidado por Mário de Andrade, B.J. Duarte fotografou as atividades e obras públicas que visavam modernizar a capital



EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A nostalgia causada pela passagem do tempo e a conseqüente transformação da paisagem urbana paulistana são a tônica do livro "B.J. Duarte: Caçador de Imagens" (Cosac Naify, 208 páginas, R$ 42), lançado hoje na Galeria Olido, em São Paulo, com mostra de parte das imagens que integram a obra.
Benedito Junqueira Duarte (1910-95) começou seus estudos em fotografia aos dez anos de idade, quando foi morar com um tio em Paris. Ao retornar, no final da década de 20, atuou na imprensa local como repórter-fotográfico. Em 1935, foi convidado pelo escritor modernista Mário de Andrade, então chefe do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, a gerenciar a recém criada seção de iconografia.
Além de organizar o acervo que havia sido adquirido do fotógrafo Aurélio Becherini (1876-1939), B.J. Duarte tinha a função de fotografar as atividades do departamento e as obras públicas que visavam modernizar a capital.
O livro é subdividido em três partes: as atividades culturais e esportivas nos parques da cidade durante a gestão de Mário de Andrade, as obras realizadas durante o governo Prestes Maia (1938-45) e alguns retratos de artistas como Monteiro Lobato, Menotti Del Picchia e o próprio Mário de Andrade.
As 214 imagens que compõem o livro -para a exposição, foram selecionadas 65- são uma pequena parte das 2.691 imagens que o fotógrafo deixou identificadas no arquivo da prefeitura. Cerca de metade desses originais foi perdida pela degradação do material. Seguindo a tradição da foto documental e inspirado por fotógrafos como Militão Augusto de Azevedo, Guilherme Gaensly e Aurélio Becherini, que fotografaram em diferentes épocas a vertiginosa transformação urbana, Duarte se empenhou em fotografar a cidade como uma testemunha ocular da sua mutação, prevendo a carga de nostalgia que as mesmas teriam décadas depois.
Sem maneirismos pictóricos e sem enveredar pela fotografia experimental em voga na época, o fotógrafo produziu imagens como as que mostram a construção do estádio do Pacaembu e dos túneis da av. 9 de Julho, ambas em 1939. Uma das imagens de maior impacto é a que mostra a av. Rebouças, também em 1939, sem movimentos de carros, com pequenos sobrados de um lado e um terreno descampado do outro.
Em entrevista concedida em 1986, que consta no final do livro, Duarte comenta a transformação da cidade: "Dadas as gigantescas proporções da mutação verificada em sua fisionomia urbana, principalmente as ocorridas nos últimos 50 anos, São Paulo de ontem, para gerações de hoje, tornou-se uma cidade fantasma e perdida em bruma, apenas reconhecível nas dimensões dessas fotos envelhecidas, mudas e inertes".

 

B.J. DUARTE: CAÇADOR DE IMAGENS
Quando:
abertura hoje, das 18h30 às 22h; ter. a sáb., das 12h às 21h30, e dom., das 12h às 19h30; até 25/11
Onde: Galeria Olido, sobreloja, av. São João, 473, tel. 0/xx/11/3334-0001 ramais 2121/1941
Quanto: entrada franca

FOTÓGRAFO FEZ DOCUMENTÁRIOS SOBRE MEDICINA

Depois que o órgão municipal onde trabalhava foi extinto, B.J. Duarte começou a se dedicar a documentários científicos, sobretudo ao registro de cirurgias. Ele realizou cerca de 500 desses documentários e filmou o primeiro transplante de coração no Brasil. Duarte tinha o desejo de ser médico e o trabalho acabou combinando imagem e seu sonho. Entre 1951 e 1986, ganhou mais de 69 prêmios nacionais e internacionais com esses documentários.

 

Acervo de fotos será exposto na Casa da Imagem

DA REPORTAGEM LOCAL

O lançamento do livro "B.J. Duarte: Caçador de Imagens" sela a implantação do Museu da Cidade, projeto da Secretaria Municipal de Cultura que envolve dez casas históricas, como o Solar da Marquesa, a Casa do Grito, a Casa do Bandeirante e o Sítio Morrinhos, entre outros, que, a partir de agora, passarão a exibir os acervos etnográficos, arqueológicos e fotográficos do município.
O acervo, que outrora ficou aos cuidados de B.J. Duarte, para depois sofrer grandes perdas pela falta de cuidado com que foi tratado em várias administrações, totaliza atualmente mais de 700 mil imagens, pelas quais se pode pesquisar as transformações que levaram a pequena vila banhada pelo rio Tietê a se transformar numa das mais exuberantes e caóticas metrópoles do mundo.
As imagens mais antigas são de 1860, apenas 21 anos após a invenção da fotografia. Até o momento, quase 27 mil imagens foram recuperadas e digitalizadas, o que permite consultas via internet.
Com patrocínio da Petrobras, as casas históricas ganharam sistema de segurança e equipamentos para conservação. A próxima etapa prevê a criação da Casa da Imagem, que ocupará a antiga Casa nº 1, construída nos moldes de um chalé suíço na segunda metade do século 19 no Pátio do Colégio, onde as fotografias do acervo permanecerão em exposição aberta ao público. Para consultas: www.prodam.sp.gov.br/ dph/museus. (EC)