Ciclo exibe o Brasil de Humberto Mauro

Fonte: Folha de S. Paulo

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O cinema brasileiro conta com dois talentos exuberantes -Mario Peixoto e Glauber Rocha- que se consumiram precocemente na própria genialidade. Um terceiro nome, não tão reluzente, é talvez ainda mais sólido e fundamental: Humberto Mauro (1897-1983).
A mostra Humberto Mauro e as Imagens do Cinema Brasileiro, de hoje a domingo na Galeria Olido, dá uma boa idéia da importância do cineasta mineiro para a nossa cultura audiovisual. Estão na programação alguns de seus longas que assentaram as bases do cinema brasileiro de ficção: "Na Primavera da Vida" (1926), "Tesouro Perdido" (1927), "Brasa Dormida" (1928), "Ganga Bruta" (1933). É o chamado "ciclo de Cataguases", cidade mineira que se tornou um pólo pioneiro de produção.
Mas talvez a maior preciosidade sejam os curtas que o cineasta fez durante três décadas (a partir de 1937) para o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE). Desse projeto abrangente e sistemático de documentação da vida e da cultura nacionais resultaram clássicos da série Brasilianas, como "Canções Populares" (1948), "Aboios e Cantigas" (1954), "Engenhos e Usinas" (1955), "O João de Barro" (56) e "A Velha a Fiar" (1964), todos no ciclo.
O lugar central de Humberto Mauro nas discussões sobre cultura e identidade no Brasil será debatido às 19h30 de hoje, antes da exibição de "Tesouro Perdido", pela pesquisadora Sheila Schvarzman, a maior especialista na obra do cineasta.
Para alimentar o debate, talvez o filme mais fecundo seja "O Descobrimento do Brasil" (1937), "superprodução" com trilha de Villa-Lobos, sábado, às 17h. Na cândida recriação, inspirada na carta de Caminha, do encontro entre portugueses e índios está condensada a imagem de um país que poderia ter sido e não foi. Azar o nosso.

 

HUMBERTO MAURO E AS IMAGENS DO CINEMA BRASILEIRO
Quando:
de hoje a 26/8; programação em www.centrocultural.sp.gov.br
Onde: Galeria Olido (av. São João, 473, tel. 3331-8399)
Quanto: entrada franca