Bailarinos dançam em cenário de luz

Fonte: Folha De São Paulo

A dupla Detanico e Lain e os japoneses Megumi Matsumoto e Takeshi Yazaki fazem performance na Bienal

DA REPORTAGEM LOCAL

É um jogo de duplos que entra em cena. Branco e preto, homem e mulher e luz e som são as bases visuais da performance dos bailarinos japoneses Megumi Matsumoto e Takeshi Yazaki, que dançam amanhã e sábado, no pavilhão da Bienal.
A coreografia segue as projeções de luz branca e preta que cobrem o chão, idéia da dupla de artistas brasileiros Ângela Detanico e Rafael Lain.
"A nossa é uma relação de construção do espaço, enquanto eles ocupam esse espaço", diz Detanico. "Criamos um lugar que vai se desenhando, como se o palco virasse matéria."
E parece ser mesmo essa matéria o foco da performance, já que na oposição crua entre homem e mulher -e luz branca e preta- não sobra espaço para qualquer narrativa. É o tempo que passa, a luz e movimentos que se desenham, suspensos.
"Não gosto que haja poesia em excesso", diz Matsumoto.
"Eu quero que o movimento baste por si mesmo, que não transborde de significados."
A trilha sonora do irlandês Dennis McNulty tenta não romper esse equilíbrio entre movimento e luz. "Minha estratégia foi a contenção", conta o artista, que também participou da 25ª Bienal de São Paulo.
"Tem bastante beleza na dança e nas luzes, então quis que a música não perturbasse isso."
No começo, é só um ponto de luz no meio do palco e um primeiro ruído. À medida que a luz aumenta, transborda, some e pisca, o som vira marcha industrial cortada por rajadas de vento, folhas secas e trovoadas.
Yazaki é o primeiro no palco, todo negro com um ponto de luz. Matsumoto entra em seguida, numa avalanche branca.
Parece ser ela o dia e ele, a noite. Na pele dos dois ficam estampados os pixels do projetor -código dessa coreografia digital e marca de Detanico e Lain, que interrogam a imagem, tom por tom, ponto por ponto.
Foi o que fizeram em "Broken Morse", quando esfacelaram em 256 flashes de cor uma tela de Samuel Morse, ou em "Flatland", vídeo em que tentam expandir tempo e espaço ao esticar os pixels de imagens de um rio no Vietnã, ao som dos ruídos distorcidos do barco.
É idéia parecida à de McNulty, que em sua última passagem por aqui compôs trilhas sonoras para o pôr-do-sol paulistano. "Não há uma sincronia exata, eu sigo as luzes, eles seguem a música", diz.
"São hierarquias flutuantes."
(SILAS MARTÍ)

|Serviço: 28ª BIENAL DE SÃO PAULO
Quando: amanhã e sáb., às 20h
Onde: pavilhão da Bienal (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5576-7600)
Quanto: entrada franca