Arquitetos criticam projeto de torres no museu do Ipiranga

Fonte: Folha De São Paulo

Direção do museu aprova idéia; início das obras ainda depende de estudos de engenharia e viabilidade técnica e financeira

Projeto aprovado prevê elevadores e escadarias em estrutura de metal e vidro

DA REPORTAGEM LOCAL

A construção de duas torres de vidro anexas às laterais do Museu Paulista da USP -o museu do Ipiranga- é alvo de polêmica entre especialistas em arquitetura e preservação do patrimônio histórico em São Paulo. Com quase a mesma altura dos salões laterais, as torres prejudicariam a arquitetura original do prédio, segundo críticos da idéia, que foi aprovada há dois meses.
Para os autores do projeto -que propõe, além das torres, uma ampliação em mais de três vezes da área de exposições, utilizando o subsolo- , a intervenção prevê escadarias e elevadores para o público. Atualmente, só existe uma escadaria na parte central do prédio. Eles dizem que essa é a solução menos agressiva para melhorar a circulação interna e atender à exigência de ter saídas alternativas. Hoje, o museu, um dos mais importantes do país, não tem elevadores para visitantes.
"O museu está posicionado de modo a valorizar a independência do prédio em relação ao entorno, uma homenagem à independência do Brasil. Por que, agora, limitar essa liberdade [com as torres]?", diz o arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Dácio Ottoni, um dos conselheiros do Conpresp que questionam o projeto, que foi aprovado por sete votos a dois.
Ottoni propõe que escadas já existentes nas extremidades do museu sejam utilizadas como escadas de emergência. A circulação continuaria concentrada na área central. "O projeto é muito bom, exceto pelas torres", diz Vasco de Mello, autor do outro voto vencido.
Os críticos do projeto dizem que as torres esconderiam a fachada original nas laterais dos fundos do prédio (veja quadro), projetada pelo arquiteto italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi e inaugurada em 1890. Além disso, as torres destoariam da aparência original, pois seriam retangulares, feitas de vidro e metal.
A alternativa seria fazer as modificações dentro do próprio edifício. Mas isso, dizem defensores do projeto, inutilizaria os principais salões de exposições e poderia comprometer a estabilidade do prédio, já que demandaria perfurações no subsolo interno.
O arquiteto Eduardo Colonelli, autor do projeto com Silvio Oksman, diz que instalar elevadores e novas escadas dentro do prédio ocuparia salas amplas que hoje são usadas para exposições. "Seria como caminhar um corredor inteiro para chegar a uma sala que só teria um elevador", diz . "As torres, de vidro, terão vista para os jardins, serão agradáveis", diz.
Segundo Oksman, as escadas laterais internas, atualmente interditadas, não seriam seguras para suportar a circulação do público - "não suportariam uma turma de alunos" e não poderiam ser alteradas por serem entalhadas em madeira, em formato helicoidal.

Ampliação
A direção do museu participou da elaboração e concorda com o projeto -afirma que o prédio necessita de uma expansão. "É um projeto amadurecido", diz a vice-diretora, Heloísa Barbuy, para quem as torres de vidro são "um pormenor".
Atualmente, apenas 20% do acervo está exposto, por falta de espaço -a idéia é ampliar para 50%. Além disso, um terço da área é ocupada por setores de administração e pesquisa, e o prédio tem apenas um banheiro para o público.
"Isso [construção das torres] é porque eles [direção do museu] não querem mexer na parte de dentro. Querem museificar o prédio. Acho que deveriam quebrar e colocar escadas e elevador na parte de dentro", defende o arquiteto e ex-presidente do Condephaat Carlos Lemos.
Criado para homenagear a independência do Brasil, no local onde ela foi proclamada por d. Pedro 1º, em 1822, o prédio é tombado nos níveis federal, estadual e municipal.
O Conpresp (conselho municipal do patrimônio) foi a última instância a aprovar o projeto, em agosto. A idéia, discutida desde 2005, já havia sido aprovada por Condephaat (estadual) e Iphan (federal).
Mas as obras ainda estão longe de começar. Só após essa primeira aprovação é que estudos de engenharia e viabilidade técnica e financeira poderão ser feitos. Então, serão elaborados anteprojeto, projeto básico e projeto executivo. E cada uma dessas fases tem de ser aprovada nos três níveis -por isso, não há prazos nem orçamento.
"O projeto não é definitivo, ainda vai passar por uma discussão muito longa, difícil. Haverá algum prejuízo, interna ou externamente. Mas não se pode fazer uma omelete sem quebrar ovos", afirma o presidente do Iphan, Victor Hugo Mori, que concorda com a versão aprovada -o que não é unanimidade no órgão.