As partituras de Chopin na escuridão

Fonte: Folha De São Paulo

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ninfa Glasser era cafelandense, que é como se chama o cidadão natural de Cafelândia, a 412 km de São Paulo.
Aos cinco, mudou-se para Capivari (SP), aos oito, para Bauru (SP), e, pouco depois, para a capital. Porque tropeçou na calçada, caiu, e quase teve a perna decepada por uma carroça que passava, o pai refez as malas e retornou com a família ao interior, achando que a cidade era perigosa demais para os filhos.
Dona de um nome que o pai, dentista, viu escrito num papel e achou bonito, Ninfa voltou mais tarde a São Paulo, mesmo com a cidade tomada pelo perigo das rodas.
Foi na capital que conheceu Nelson, médico e também professor, quando ele lhe deu aulas particulares de matemática, física e química.
Casaram-se. Ele tocava violino e ela, fanática por Chopin, era pianista. Todos os cinco filhos do casal estudaram violino e piano quando criança. "Éramos uma espécie de família trapo", lembra a filha Diva, física.
Excelente instrumentista, Ninfa, além de se apresentar freqüentemente no Theatro Municipal, ajudou a organizar concursos. O piano lhe rendeu homenagens -17 medalhas e 15 diplomas.
Há cerca de dez anos, teve câncer no seio, sofreu um derrame e começou a perder a visão. Quando não pôde mais enxergar as partituras, parou de tocar. Morreu no domingo, em São Paulo, aos 89, em conseqüência do câncer. Deixou cinco filhos, 11 netos e oito bisnetos.