Modelos de gestão contrapõem os candidatos na área da cultura

Fonte: Folha De São Paulo

Marta une ações com educação, Kassab prioriza resgate do patrimônio e Alckmin, a terceirização

Ex-secretário petista fala em "emancipação social" com incentivo do Estado; atual titular prega "liberdade" em espaços culturais públicos

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A semelhança de propostas dos candidatos com chances de chegar ao segundo turno da sucessão paulistana não se aplica à área da cultura. Marta Suplicy (PT), Gilberto Kassab (DEM) e Geraldo Alckmin (PSDB) têm modelos de gestão até antagônicos, já comprovados por suas experiências no poder público.
Na prefeitura, Marta (2001-2004) descentralizou a gestão e uniu atividades culturais, educacionais e de inclusão social, elegendo os CEUs (Centros Educacionais Unificados) da periferia como equipamento principal, numa política que promete retomar caso se eleja.
Já Kassab priorizou espaços culturais separados do ambiente escolar -a Secretaria de Cultura não participa mais da gestão dos CEUs, por exemplo. Voltou a centralizar a administração, aumentou o orçamento da área e iniciou reformas de equipamentos já existentes, como teatros e bibliotecas. Num eventual segundo mandato, promete revitalizar o centro "por meio do vetor cultural".
O modelo proposto por Alckmin é igual ao de quando era governador (2001-2006). Como ocorre na Pinacoteca do Estado, ele planeja passar a gestão de equipamentos como o Centro Cultural São Paulo e o Theatro Municipal para as mãos de organizações sociais. O tucano ainda cita a criação da "Broadway paulistana" no centro.
A contraposição de modelos dos dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas, Marta e Kassab, fica clara quando titulares da pasta da Cultura de suas gestões são chamados a avaliar a área nos últimos anos.
"Participávamos da gestão intrínseca do projeto por entender a educação como fenômeno integral, em que a cultura faz parte do processo de conhecimento", diz Celso Frateschi, ex-secretário de Marta que hoje preside a Funarte (Fundação Nacional de Artes). "Parece que agora a Cultura virou prestadora de serviços, não que isso seja bom ou ruim, mas são visões diferentes. Não há mais uma visão de emancipação social das pessoas por meio da cultura."
Atual titular da pasta, Carlos Augusto Calil diz que "não existe opção ideológica". "O que outras gestões faziam era valorizar menos os seus equipamentos", afirma. "O projeto dos CEUs não é um projeto da Secretaria da Cultura, é um projeto da ex-prefeita Marta que a pasta foi chamada a acompanhar. Agora mudou um pouco: temos projeto, não somos mais periféricos", diz Calil, citando o aumento do orçamento da pasta de R$ 124 milhões, em 2004, para os atuais R$ 354 milhões.
A separação física de espaços culturais e educacionais traz sentimento de "autodeterminação e liberdade" para os jovens, afirma o secretário, que entregou um centro cultural na periferia, na zona norte, e projeta construção de mais cinco.
"Sem instituição de ensino perto, os moleques se sentem livres, sem a famosa vigilância do pai ou do professor. Por que vamos criar centros culturais na periferia e não CEUs? Porque não é interessante fazer CEUs. Não sou contra, mas é outra coisa. Queremos que as pessoas tomem posse do equipamento sem precisar ir direto para a biblioteca ou para o teatro, sem que haja controle sobre o uso do espaço", afirma.
As diferenças de visão se refletiram no destino da Biblioteca Mário de Andrade, no centro, que teve a reforma atrasada por dois anos porque Kassab mudou o projeto deixado por Marta. No plano da petista, o prédio ganharia três pisos no subsolo e um restaurante na cobertura, o que o prefeito do DEM considerou "equivocado". Ele retomou a antiga idéia de ampliar a biblioteca com uma nova torre e desistiu do restaurante. A obra, de R$ 26 milhões, só acaba em 2009.