Realizadores criticam acúmulo de peças em salas

Fonte: Folha De São Paulo

Mudança constante nos equipamentos compromete a segurança, dizem produtores e diretores ouvidos pela Folha

Teatros com administração pública são os mais temidos pelo produtor Eduardo Barata; Gabriel Vilella ressalta "zelo" da rede Sesc

DA REPORTAGEM LOCAL

Diretores e produtores ouvidos pela reportagem da Folha apontam não só os problemas mas também os pontos positivos dos teatros de São Paulo. Os que têm administração pública são os mais temidos pelo produtor carioca Eduardo Barata, que diz ter receio de levar uma peça para o Centro Cultural São Paulo, por exemplo.
"Tanto no Rio quanto em São Paulo, a política de preservação dos teatros públicos é capenga, não sinto segurança. Há exceções, como o Sérgio Cardoso, em que existe uma preocupação individual dos funcionários, com pouquíssimos recursos. Como um Exército de Brancaleone, vão driblando os problemas com amor pelo espaço", argumenta.
Barata diz que, de modo geral, sente-se mais seguro em teatros particulares, como o próprio Cultura Artística, onde estrearia no dia 3/10 o espetáculo "Brincando em Cima Daquilo". Para o produtor, o incêndio no Cultura Artística não parece ter sido questão de abandono, mas de acidente.
Já o diretor Gabriel Vilella diz que não vê muita diferença entre os públicos e os privados. Para ele, da década de 90 para cá, os teatros paulistas, de modo geral, passaram a obedecer com mais rigor aos critérios de segurança. Vilella diz ainda que os particulares e os da rede Sesc têm "zelo de Primeiro Mundo" e o Municipal tem "cuidado extraordinário".
O diretor Felipe Hirsch é outro a elogiar as salas da rede Sesc -além de ser entusiasta do teatro popular do Sesi. "Têm padrão internacional."
Uma das primeiras coisas que produtores como Eduardo Barata procuram saber num teatro é se há muitos espetáculos acontecendo ao mesmo tempo, por conta da necessidade de mexer na luz, montar e desmontar cenários etc.
Para a produtora Fernanda Signorini, que está com a peça "O Eclipse" em cartaz em São Paulo, o amontoamento de espetáculos num só espaço é grave, mas é algo que vem mudando. "Para sobreviver, as salas acumulam várias peças. Mas deve haver bom senso por parte de teatros e produtores."

Técnico "gambiarra"
O diretor Eduardo Tolentino, do Grupo Tapa, também vê problemas quando um mesmo espaço abriga vários espetáculos simultaneamente.
"Uma coisa é ter uma peça [em cartaz] de terça a domingo. Nesse caso, você vai ter profissionais mais adequados, como camareira, operador de luz. Quando você entra no terreno do improviso, com uma peça a cada dia, o técnico em si já vira uma "gambiarra". Em dez minutos, tem de quebrar um galho. Você resolve um problema imediato e não pensa a longo prazo", diz Tolentino, para quem técnicos do teatro brasileiro pioraram muito.
"É muito mais difícil hoje achar mão-de-obra especializada. O cara que leva a escada, de repente, vira operador de luz."