Central vai dinamizar produção do teatro

Fonte: O Estado De São Paulo

Para diretor do Municipal, custo de uma montagem pode cair até 30%

João Luiz Sampaio

Na nova central técnica do Theatro Municipal não estão apenas abrigadas as produções da casa - os galpões também são destinados a equipes de costureiras e de marceneiros, pintores, enfim, a equipe necessária para levantar uma ópera do zero. Diretor do teatro desde 2005, o maestro Jamil Maluf é taxativo. “Ópera bem-feita custa caro, uma nova produção ronda a casa de R$ 1 milhão. Com a central técnica e a recuperação do acervo, o valor de uma montagem cai, pelo menos, 30%”, diz. E completa, enquanto passeia pela sapataria e procura as caixas em que ficam guardados os chapéus e as “jóias”: “É difícil entender como o teatro funcionou tanto tempo sem isso.”

A fórmula não é nova, tampouco original, sendo aplicada há muito tempo em diversos teatros mundo afora. Neles, as temporadas se compõem de novas produções e de outras do acervo do teatro, normalmente com outro elenco e maestro. Se a primeira apresentação de uma produção não se paga com a bilheteria logo de cara, ao longo dos anos, com o custo reduzido a apenas os cachês dos artistas, é bem possível que isso aconteça. “Estamos falando em 15 anos, tempo médio de vida de uma produção. Depois disso, há um desgaste inevitável de material e também o desejo de oferecer um novo olhar sobre determinada ópera”, explica Maluf.

Atualmente, o Municipal já utiliza essa prática. Este mês, por exemplo, sobe ao palco uma das produções do acervo, Colombo, de Carlos Gomes - e vale lembrar que a abertura do ano se deu com outra dessas montagens, o Falstaff de Verdi. Somadas a novas produções e a empréstimos de outros teatros, como foi o caso de O Castelo de Barba-Azul, de Bartók, vindo de Belo Horizonte, o ano deve se encerrar com oito produções apresentadas. O mesmo esquema vale para o balé. “Com a central, o teatro pode hoje funcionar em três níveis, com uma produção no palco, sendo apresentada; outra sendo construída e uma terceira sendo projetada. Precisamos intensificar esse ritmo.”

A central também poder servir como fonte de renda - ou moeda de troca - para o teatro. “Uma vez que temos todas as produções catalogadas e prontas para subir ao palco, podemos alugá-las a outros teatros ou oferecê-las em troca de suas produções”, explica o maestro. A central também aceita doações, e já recebeu uma - o diretor Jorge Takla deu ao teatro os cenários e figurinos de sua recente produção do musical West Side Story, de Leonard Bernstein, apresentada no Teatro Alfa. “Essas são todas questões estruturais que há muito precisavam ser resolvidas”, diz Maluf.

INAUGURAÇÃO

No sábado e no domingo, destaques do acervo da central estarão expostos nos galpões, que poderão ser visitados pelo público. E, em um deles, o grupo Teatro da Vertigem, dirigido por Antonio Araújo, vai apresentar uma montagem de Dido e Enéas, de Henry Purcell. No elenco, o barítono Leonardo Neiva e as meio-sopranos Luisa Franceschoni e Silvia Tessuto, entre outros, regidos por Tiago Pinheiro, à frente de orquestra e coro compostos por artistas dos corpos estáveis do Municipal. Os cenários são todos construídos a partir de materiais retirados de ferro velho e sucata. O espírito de reutilização não poderia ser mais apropriado para inaugurar a central técnica.


REFORMA DO PALCO E ESTAÇÃO DAS ARTES

FUTURO: Anunciada no começo da gestão de Jamil Maluf, a criação da Central Técnica do Municipal é apenas uma das medidas necessárias para a concretização do sonho de transformar o teatro em um espaço de produção sistemática. Segundo o maestro, a casa, da maneira como está hoje, com 8 títulos por ano, mais as apresentações de balé e a série de 56 concertos sinfônicos, trabalha em seu limite. “Podemos chegar a 10 ou 12 títulos por temporada, não é um sonho. Mas para isso a equipe de produção precisa aumentar - hoje trabalhamos apenas com cerca de 50 funcionários, da direção de produção à técnica. Além disso, para todas essas atividades, temos um orçamento de apenas R$ 7 milhões”, explica. No entanto, há mais ainda na pauta. Em primeiro lugar, a reforma e modernização do palco, anunciada para o ano passado mas abortada por problemas no processo de licitação, sem previsão de retorno. Além disso, para que o palco do Municipal seja ocupado por um número maior de produções, é preciso liberá-lo, o que significa encontrar novos espaços para ensaio dos corpos estáveis. A solução é a Estação das Artes, a ser construída nos entornos do teatro. Não há previsão ainda para início das obras.