A Morte, sem as palavras de Cruz e Souza

Fonte: O Estado De São Paulo

Cia. 2 do Balé da Cidade encena poema do simbolista, além de outras duas peças

Livia Deodato

Oh! Que doce tristeza e que ternura/ No olhar ansioso, aflito dos que morrem.../ De que âncoras profundas se socorrem/ Os que penetram nessa noite escura!. A morte que fascinou o poeta simbolista negro João da Cruz e Souza, que morreu na miséria no fim do século 19, agora vai ao palco da Galeria Olido sem as caras palavras, mas com movimentos precisos e delicados. Os bailarinos da Cia. 2 do Balé da Cidade de São Paulo vão desenhar em cena, com sua força corporal, o tema proposto pelo coreógrafo Sandro Borelli, um dos três convidados pela diretora do grupo, Mônica Mion, para condensar o programa que estréia hoje.

Intitulado Produto Perecível, o espetáculo será apresentado pela primeira vez ao público, assim como Pequenas Paisagens, de Armando Aurich. A bailarina e também coreógrafa Mariana Muniz, por sua vez, acrescenta o trabalho 2 Reflexos, de 2006, ao programa que terá curtíssima temporada. A Cia. 2, criada em 1999 por Ivonice Satie (morta há pouco mais de uma semana em decorrência de um câncer), nasceu sob a proposta de agregar bailarinos mais experientes. “A companhia trabalha com uma estrutura diferente, que é a de procurar sempre trabalhar com coreógrafos e bailarinos de fora, que se disponham a conceber novas idéias”, diz a diretora Mônica.

Dentro desse perfil, Borelli, que já foi bailarino do Balé da Cidade e desde 2001 vem colaborando em diversos projetos, conta de onde veio a idéia de resgatar um poeta tão importante quanto relegado. “Há quase dez anos tenho vontade de montar algo sobre a obra de Cruz e Souza, a quem cheguei por meio de Augusto dos Anjos. O fato de ter sido um poeta negro, que morreu na miséria, como a maioria deles, e tinha um nível intelectual altíssimo, me impressionou. Acredito que o tema do poema A Morte não só me fascina, como fascina todo mundo. E acho mais importante trazer de volta esse ícone da poesia brasileira do que a coreografia em si.”

|Serviço:

Cia.2 do Balé da Cidade. Galeria Olido. Av. São João, 473, 3397-0171. 5.ª a sáb., 20 h; dom., 19 h. Grátis. 31/8