Casarão pode abrigar PM em Higienópolis

Fonte: O Estado De São Paulo

Construção de 1910 foi sede da Custódia da Polícia Federal até 2003; local apresenta sinais de abandono e está em processo de tombamento

Vitor Hugo Brandalise

A Polícia Militar quer transferir um de seus batalhões para a antiga Custódia da Polícia Federal em São Paulo, um casarão da década de 1910 que recebeu presos ilustres, como o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto e o ex-senador Luiz Estevão, na esquina das Ruas Piauí e Itacolomi, em Higienópolis. Na semana que vem, a PM vai formalizar a proposta por ofício, solicitando a cessão do espaço a seu proprietário, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A idéia é instalar ali a 3ª Companhia de Policiamento, hoje na Praça Roosevelt, ou a Companhia de Força Tática do 7º Batalhão, na Rua Bela Cintra.

“Tivemos as primeiras conversas há 20 dias, e a gerência do órgão foi favorável à idéia”, disse o major Benjamin Francisco Neto, comandante interino do 7º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, responsável pela área. A expectativa da corporação é de que o termo de cessão de uso, válido por 30 anos, esteja legalizado em quatro meses. “Depois, será elaborado o projeto executivo da reforma, que deve durar três meses. Se tudo der certo, dentro de pouco mais de um ano o novo batalhão estará funcionando.”

O INSS, porém, não revela o destino que dará ao imóvel. Por meio de nota, diz que o casarão será colocado à venda assim que forem resolvidas pendências judiciais da década de 1990, quando tentou repassá-lo à Construtora Encol - mas o negócio foi cancelado após ação civil pública. “Ainda não está fechado, mas garanto que a idéia foi bem recebida pelo INSS. Nos disseram que o órgão já tem outros imóveis que não utiliza e teme o risco de invasões”, afirmou o major.

Após cinco anos desocupado, o casarão - de arquitetura eclética, pintado nas cores azul e branca e adornado com vitrais coloridos - apresenta sinais de abandono, com vitrais quebrados na porta da frente e infiltrações no alto. Em processo de tombamento pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Conpresp) desde 2004, foi propriedade de um barão do café - o terreno dos fundos, antigo estacionamento de viaturas da PF e hoje depósito de móveis, foi da família do ex-presidente Rodrigues Alves.

MORADORES

O presidente da Associação de Moradores e Comerciantes de Higienópolis, Fuad Sallum, disse que é “totalmente contrário” à idéia da PM. “O casarão deveria ser transformado em um museu ou em parque, algo que a comunidade pudesse utilizar. Não somos contrários a uma base da PM em Higienópolis, mas não precisa ser no casarão, que já deveria ter virado museu”, disse. “Se o projeto for levado a cabo, vai haver manifestação.”

Em 2003, quando a sede da PF foi transferida para o novo prédio na Lapa, moradores de Higienópolis formaram até comissão com professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP para transformar o local em um “museu da arquitetura” - o projeto, porém, acabou engavetado por falta de patrocínio. Quem fez parte daquela comissão parece estar resignado. “O ideal seria um museu, mas já que não deu certo, uma base da PM ali não seria má idéia”, disse o engenheiro Alceu Amoroso Lima Filho, de 73 anos, que mora em um prédio em frente ao casarão. “Pelo menos, não veremos um patrimônio da cidade cair para dar lugar a torres residenciais.”

CRONOLOGIA

1916 - 1918: construção do casarão, para ser residência de um fazendeiro de café.

1964: Virou sede da Custódia da Polícia Federal

Décadas de 1980 a 2000: Abrigou presos ilustres, como o mafioso Tommaso Buscetta

2003: Com a inauguração da nova superintendência da PF, na Lapa, foi desocupado